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terça-feira, 23 de novembro de 2010

Recordações de Chico

ARNALDO ROCHA FALA SOBRE CHICO XAVIER E MEIMEI

Em uma noite inesquecível, o ilustre conselheiro da União Espírita Mineira e amigo de Chico Xavier, Arnaldo Rocha, proferiu uma palestra na abertura da Semana Chico Xavier no Grupo da Fraternidade Irmã Scheilla, na capital mineira.
O ex-consorte de Irma de Castro Rocha, o encantador espírito de Meimei, atendendo prestimosamente ao convite da direção desse tradicional Centro Espírita, brindou o público com belas histórias inéditas do nosso querido médium de Pedro Leopoldo, Chico Xavier.
O Espírita Mineiro esteve presente para registrar o evento, reproduzindo resumidamente o inesquecível momento.
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Uma cena significativa. Arnaldo abre a sua sacolinha de plástico, retirando dela alguns livros, papéis e os distribuiu sobre a bancada, pediu para afastar o microfone, agradeceu por estar lá e começou a sua exposição.
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Inicia palestra falando o quê ele era: de 10 a 24 anos de idade era lutador de jiu-jitsu, campeão de natação e pesava 80 quilos de massa musculosa. Materialista: toma lá, dá cá; um homem não leva desaforo para casa.
Contou como conheceu Irma de Castro. Sua irmã a levou à sua casa. O apelido dela em casa era Naná. Foi o início de uma grande amizade. Ele fez questão de dizer que no começo era só amizade. Tinham muito em comum, ambos gostavam muito de ler. Quando não podiam comprar livros, iam à biblioteca pública para ler. Conta o primeiro dia em que se beijaram.
Seu modo simples vai despertando alegria no público.
Explicou o apelido de Meimei: liam um livro “Momento em Pequim” de um filósofo chinês, Lyn Yutang, que havia fugido do domínio de Mao Tsé Tung; no final, no glossário, o significado da palavra Meimei – “a noiva bem-amada”.
Contou sobre a visita à Igreja São José e da oração de Meimei junto à imagem de Jesus carregando a cruz, suplicando que Arnaldo deixasse de ser fanático e autoritário. Lembra-se que, naquela época, já havia se acostumado com as “esquisitices” da amada: pensava que ela era muito imaginativa e meio maluca!
Falou de sua própria família: a mãe, Maria José de São Domingos Ramalho Rocha, católica, mas que via espíritos; o irmão, Geraldo, era espírita. Conta que, quando foi à Igreja marcar o casamento, o padre quis saber se ele era católico. Ele disse que não e o padre se negou a casá-lo. Ele abriu o talão de cheques e o padre resolveu aceitar. Depois do casamento, ao entrarem na casa nova, Meimei prosseguiu de joelhos. Ele perguntou por que ela estava fazendo aquilo e ela respondeu que era para agradecer a Deus pela casa. Ele rebate: “O que é isso! Foi muito suor no trabalho para conseguir essa casa! Eu trabalhei muito pra isso!”
Sua franqueza despertou muitos sorrisos na assistência.
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Arnaldo Rocha, com a voz embargada pela emoção, discorreu sobre o final de seu casamento, com a partida de Meimei para o plano espiritual. Suas expressões revelavam sinceridade e ternura que a cada instante cativavam o público atento.
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“Amigos, falou pausadamente, não fui ao enterro de minha querida esposa, e nem me preocupei com o local. Conheci a placa que sua mãe e irmãs mandaram fazer para ela, no Cemitério do Bonfim, 44 anos depois! Essa foi a maneira de viver minha dor. Eu era materialista e nada me importava. Não culpava a ninguém, pois na visão materialista a fatalidade vem para todos: plantas, animais… por que não para os homens?
A depressão não tardou e cheguei a pesar 54 quilos; falavam que eu estava com tuberculose. Confesso não foi fácil, entrar em nossa casa “sozinho”. Fui recordando das maluquices de Meimei, antevendo aquela situação de profunda melancolia e de solidão inarredável que passou a fazer parte dos meus dias.
Então o mundo espiritual iniciou uma intervenção maravilhosa em minha vida.
Um temporal levou-me à casa do mano, no 11º dia do desencarne de Meimei. Quando entrei, ensopado, deparei com um grupo de pessoas à mesa, então pensei: “Ih! Eles vão fazer uma sessão espírita!”. Entre os participantes, uma velha amiga da família, Eny Fassanelo. Costumo brincar: Era uma senhora italiana “mais enrugada que um maracujá”. Pronunciava um português “macarrônico”.
Então apagaram a luz. Eram quatro pessoas de um lado, quatro do outro, o mano em uma cabeceira e D. Eny na outra. Então fiquei sem ter como sair. Colocaram-me na ponta da mesa, perto da médium.
Após alguns minutos teve início o transe mediúnico, através de D. Eny. Confesso que nos 50 anos de espiritismo e de reuniões mediúnicas, nem com o Chico presenciei um fenômeno de transfiguração tão exuberante como o dessa noite! O rosto enrugado aos poucos foi ficando lisinho, com aparência de 20 anos de idade, um maracujá verdinho. O Espírito tira o casaquinho da mesma maneira que Meimei fazia. Depois inicia a fala pronunciando ‘rialmente’, palavra que Meimei dizia com dificuldade. A frase dita foi: ‘rialmente o meu Sozinho não vai entender’.
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Neste ponto Arnaldo, pausadamente, explica o porquê do apelido de Sozinho: como ela dizia que a avó viria buscá-la, sabia que ele iria ficar “sozinho”. Relata, muito rapidamente, os outros fatos da reunião desse dia e de uma outra reunião que aconteceu no mesmo horário com a coordenação do Dr. Camilo Chaves, relatos que vieram corroborar a autenticidade do fenômeno e o início da sua conversão ao Espiritismo.
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Com um cativante sorriso, ele conta o seu inesquecível encontro com Chico Xavier.
“Subia a Avenida Santos Dumont, em Belo Horizonte e, para desviar de duas senhoras, esbarrei no Chico. Quase joguei o jovem médium e os seus pertences no chão. Ao desculpar-me entregando a pasta para Chico, este passa a mão em meu rosto, em minha cabeça (aí eu pensei: “Mas que intimidade é esta? Ele nem me conhece!” – e a platéia ri). Chico coloca a mão no meu ombro, aperta-o (um gesto comum do futuro amigo) e pediu a foto ‘da nossa princesa’ que eu guardava na carteira. Chico disse: ‘Naldinho, não é assim que Meimei lhe chamava? Ela está aqui.’ Amigos, eu fiquei estuporado, diante do inexplicável, por não conhecer a mediunidade da clarividência.”
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O contador de Histórias dá uma parada, bebe um pouco de água. Reinicia as recordações, inserindo o seu grande amigo Francisco Cândido Xavier, em suas narrativas.
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“O silencioso apóstolo do bem, que viveu possivelmente os momentos mais grandiosos da mediunidade apostolar do venerando missionário 1”
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Arnaldo projeta a alma dos espectadores para a antiga estrada que ligava Belo Horizonte aos rincões de Pedro Leopoldo.
“Em 1946 gastávamos, afirmou, duas longas e empoeiradas horas para alcançar o destino. Foram momentos de rara beleza em minha vida. Conhecer a família Xavier e os companheiros da cidade. Conviver com o grupo, que hoje sinto ser dos eternos amigos! Quantas saudades! Estudávamos Doutrina Espírita até nos momentos de descontração.
Jamais me esquecerei do Chico, desfraldando-nos a bandeira do conhecimento, com a sabedoria e a alegria dos verdadeiros discípulos do Cristo.
Com Chico, aprendi a ser uma pessoa melhor. Eu fumava muito: dois maços de cigarro por dia e também cachimbo; tinha 23 unidades! Era uma dificuldade limpar aquilo tudo! Por respeito, saía de perto do Chico para fumar. O Chico dizia: “Pode entrar, Naldinho. O fumo até que cheira bem.” E cheirava bem, mesmo!
Foi muito difícil lidar com algumas questões pessoais. Certa feita, trabalhando como passista, junto ao Jair Soares, pelo fenômeno de voz direta o José Grosso veio falar comigo. Imaginem, aquela voz de trovão do Zé! “Arnaldo, você está dispensado de dar passes. É muito difícil tirar essa nicotina sua!” E, assim,fui “excluído” da tarefa de passista.”
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Como se estivesse em um templo de Delfos, na Grécia Antiga, Arnaldo fala sob a inspiração dos deuses sobre a lealdade de Chico aos Espíritos, seu comprometimento com o estudo das obras de Allan Kardec e a sua veneração a Emmanuel, seu pai espiritual de muitas encarnações.
Conta que sua conversão ao Espiritismo, já que antes de se deparar com o mundo espiritual era ateu e materialista, não se deu pela fenomenologia autêntica de Chico Xavier, mas pelo caráter moral e a seriedade com que o médium abrilhantava a própria vida, pacata e rica de fraternidade.
Alegra o público apresentando situações inusitadas da intimidade da família do Sr. João Cândido Xavier, as tiradas engraçadas de Chico e as brincadeiras na cozinha com Dorinha, Cidália e Lucila, irmãs do seu querido amigo.
Concluiu essas lembranças, divulgando o seu apelido na família Xavier: “arroz doce”. Explicou que essa modalidade de sobremesa é comum no interior de Minas Gerais. Tendo se tornado assíduo freqüentador da casa da família, ganhou esse apelido das irmãs de Chico.
Citou nomes e casos dos amigos da primeira hora: Clovis Tavares, Enio Santos, Professor Cícero Pereira, Wallace Leal Rodrigues, Newton Boechat, Joffre Lellis, Lindolfo Ferreira, Zeca Machado, Efigênio Vítor, Dr. Camilo Chaves e outros que o tempo não permitiu enfileirar. Afirmou: “Era uma chuva de bênçãos em nossos encontros”.
Em uma das partes mais ricas em emoções, citou as reuniões de materialização. Falou da visita do Alferes Xavier, da sua mãe Maria José Ramalho, de Scheilla, de Zé Grosso, de Joseph Gleber, de Emmanuel, de Nina Arueira e de outros. Mas ao se lembrar da materialização de Meimei, as lágrimas do contador de histórias deslizaram pela sua face num misto de saudade e agradecimento.
Ele discorreu sobre a marcante presença da ex-esposa que, em parceria com Chico Xavier, formou uma verdadeira ponte de luz que soergueu um Lázaro inconformado, amotinado, em um jazigo sem esperança. Essa foi a época das missivas que ligavam os céus dos vivos à terra apaixonada dos mortos.
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No futuro, encontrar-nos-emos em Blandina!
‘Arnaldo disse, ainda, que a narrativa dos capítulos 60 e 61 de “Entre a Terra e o Céu” é o relato de André Luiz sobre uma escola de evangelização e que a Blandina citada é a própria Meimei, que o autor espiritual preferiu nominar por uma de suas anteriores reencarnações, na antiga Gália Lugdunense. Ela é personagem do romance de Emmanuel, “Ave, Cristo!”
Na referida obra, comentou: “Há um diálogo entre os personagens Taciano Varro (Arnaldo Rocha) e Lívia (Chico Xavier), onde as notas do Evangelho sublimam as aspirações humanas. Lívia consola Taciano, afirmando “no futuro encontrar-nos-emos em Blandina 2 ”. Essa profecia se realizou mais ou menos 1600 anos depois, na Avenida Santos Dumont, em Belo Horizonte, no esbarrão em Chico Xavier, anteriormente narrado.
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Quando o tempo indicava a necessidade do término, nosso companheiro concluiu a narrativa mais ou menos nesses termos:
“Meus amigos: foram 59 anos de muitas lutas pela Doutrina e comigo mesmo, pois o meu passado foi colocado na mesa pelos Benfeitores Espirituais para que eu pudesse realizar algo de concreto. Por isso evitei o púlpito, os retratos e a fama, apoiado em uma obra que não foi edificada por mim. Já errei demais para recalcitrar nos aguilhões que maceram minh’alma.
Ter convivido na intimidade de Chico Xavier, com as revelações do passado, tendo em Emmanuel o nosso orientador, muito me ajudou, por isso, sinto-me na responsabilidade de alertar os mais jovens, e os demais confrades do Movimento Espírita, para evitarmos as ervas daninhas que amotinam contra o trigo das virtudes que ansiamos.
Sempre evitei falar do convívio com Chico, para não ficar parecendo que eu era mais importante do que os corações que sonhavam e não podiam, por força das circunstâncias, estar ao seu lado, dormir em sua casa, tomar lanches na madrugada, após as reuniões no Grupo Meimei, e amanhecer aprendendo Doutrina Espírita.
Quando falo em circunstâncias, expresso um pensamento muito diferente das falas vaidosas que sublinham a palavra, que não sei ao certo o seu significado, ´merecimento`.
Nossa alma querida foi escolhida e preparada para exercer o trabalho na Doutrina por suas vastas aquisições espirituais, resultando em um verdadeiro mandato com Jesus. De nossa parte, apenas seguíamos, timidamente, os seus passos.
Nas conversas com o Chico e através da psicofonia, passamos a ter notícias das reencarnações de Chico, desde os tempos de Hatshepsut, farani ou faraó, no Egito, até o século XIX em Barcelona. Em todos os seus passos, Chico perpassou pelas veredas em corpos femininos e as diversas fases reveladas nos autorizam a afirmar que o preparo da sua atual reencarnação foi muito longo.
Enfim, esse é o momento, para a comunidade espírita analisar, profundamente, à luz do Consolador Prometido, o seu mandato e o perfil psicológico de trabalhador, para transcender a periferia da sua esplêndida mediunidade, e adentrar na essência do Evangelho que ele viveu.
O ser humano, Chico Xavier, a misericórdia de Deus me apresentou. Seus conflitos de jovem, suas dúvidas como médium; seus martírios para vencer a própria vaidade. Presenciei suas dores físicas e espirituais. Alertei-o nos momentos em que ele esteve para ser passado para traz. Presenciei seus êxtases e o seu silêncio. Carreguei Chico, pálido e suado após reuniões de materialização. Cantei com ele. Chorei ao seu lado. Brincamos junto de tantos amigos. Aprendi a orar com ele e hoje não esqueço de orar por ele, como sei que ele o faz por mim, que sou mais necessitado.
Chico apresentava tanta humilde que me surpreendia. Mesmo quando estávamos a sós, ele vez por outra afirmava: ‘O Espírito de fulano está alertando…’ Ele poderia assumir, como suas, observações que eram de outros. Mas não abria mão de declinar o nome do verdadeiro autor.
Ele nos mostrou que a Doutrina necessita ser dignificada por todos nós, os médiuns e os dirigentes. Essa é a missão. A tarefa é difícil, sabemos, mas não impossível. Confiemos.”
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O coordenador dos livros “Instruções Psicofônicas” e “Vozes do Grande Além” despede-se com uma mensagem de esperança.
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“Se Deus permitir, antes de partir para o mundo espiritual deixarei para a família espírita mais alguns aspectos da trajetória espiritual de Francisco Cândido Xavier, que ficaram guardados sob os escombros do tempo, na estante empoeirada da vida.”
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Agradeceu, pediu desculpas pela demora, desejou bênçãos a todos, pegou seus livros e guardou-os em sua sacolinha de plástico.
Assentou-se, humildemente, e abaixou a cabeça para orar, como Chico lhe ensinara.
Colaboração: Carlos Alberto Braga Costa
1 – Jornal Espírita Mineiro – Maio/Junho 2005 – Nº 295 – Trecho da Exposição de Divaldo P Franco
2 – EMMANUEL (Espírito). Ave, Cristo!. In: capítulo Sonhos e Aflições. (psicografia de Francisco Cândido Xavier), pelo espírito de Emmanuel. Rio de Janeiro: FEB.

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