segunda-feira, 18 de julho de 2011

A fé vitoriosa

Destacava André certas dificuldades na expansão dos novos princípios redentores de que
o Mestre se fazia emissário e se referia aos fariseus com amargura violenta, concitando os
companheiros à resistência organizada. Jesus, porém, que ouvia com imperturbável tolerância a
argumentação veemente, asseverou tão logo se estabeleceu o silêncio:
— Nenhuma escola religiosa triunfará com o Pai, ausentando-se do amor que nos cabe
cultivar uns para com os outros.
E talvez porque se manifestasse justificada expectativa em torno dos apólogos que a sua
divina palavra sabia tecer, contou, muito calmo:

— Na época da fé selvagem, três homens primitivos com as suas famílias se localizaram
em vasta floresta e, findo algum tempo de convívio fraternal, passaram a discutir sobre a natureza
do Criador. Um deles pretendia que o Todo-Poderoso vivia no trovão, outro acreditava
que o Pai residisse no vento e o terceiro, que Ele morasse no Sol. Todos se sentiam filhos
d’Ele, mas queriam à viva força a preponderância individual nos pontos de vista.
Depois de ásperas altercações, guerrearam abertamente.
Um dos três se munira de pesada carga de minério, outro reuniu grande acervo de pedras
e o último se ocultara por trás de compacto monte de madeira. Achas de lenha e rudes calhaus
eram as armas do grande conflito.
Invocam todos a proteção do Supremo Senhor para os seus núcleos familiares e empenhavam-
se em luta. E tamanhas foram as perturbações que espalharam na floresta, prejudicando
as árvores e os animais que lhes sofreram a flagelação, que o Todo-Compassivo lhes enviou
um anjo amigo.
O mensageiro visitou-lhes o reduto, na forma de um homem vulgar, e, longe de retirarlhes
os instrumentos com que destruíam a vida, afirmou que os patrimônios de que dispunham
eram todos preciosos entre si, elucidando-os tão-somente de que necessitavam imprimir nova
direção às atividades em curso. Explicou-lhes que os três estavam certos na crença que alimentavam,
porque Deus reside no Sol que sustenta as criaturas, no vento que auxilia a Natureza e
no trovão que renova a atmosfera. E, com muita paciência, esclareceu a todos que o Criador
só pode ser honrado pelos homens, através do trabalho digno e proveitoso, ensinando o primeiro
a transformar os duros fragmentos de minério em utensílios para o trato da terra, nas
ocasiões de sementeira; ao segundo, a converter as achas de lenha em peças valiosas ao bemestar,
e, ao terceiro, a utilizar as pedras comuns na edificação de abrigos confortáveis, acrescentando,
em tudo, a boa doutrina do serviço pelo progresso e aperfeiçoamento geral. Os contendores
compreenderam, então, a grandeza da fé vitoriosa pela ação edificante, e a discórdia
terminou para sempre...
O Mestre fez pequena pausa e aduziu:
— Em matéria religiosa, cada crente possui razões respeitáveis e detém preciosas possibilidades
que devem ser aproveitadas no engrandecimento da vida e do tempo, glorificando o
Pai. Quando a criatura, porém, guarda a bênção do Céu e nada realiza de bom, em favor dos
semelhantes e a benefício de si mesma, assemelha-se ao avarento que se precipita no inferno da
sede e da fome, no intuito de esconder, indebitamente, a riqueza que Deus lhe emprestou. Por
isto mesmo, a fé que não ajuda, não instrui e nem consola, não passa de escura vaidade do
coração. Pesado silêncio desceu sobre todos e André baixou os olhos tímidos, para melhor
fixar a mensagem de luz.

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