“Livros-astros”,
é uma bela idéia. Os astros têm luz própria, são estrelas de variada
grandeza, que brilham na imensidão sideral. Irradiam seu brilho por
anos-luz afora. E os livros que apresentam elevado teor de
espiritualidade não irradiam luz? Não brilham em meio ao cenário imenso da cultura universal?
Relendo
o prefácio de Francisco Thiesen deparei-me com esse trecho; pensei,
então, ser interessante e importante que ressaltasse agora, um dos
livros mediúnicos de Chico Xavier que, pessoalmente, considero como
verdadeiro astro irradiando luz para a Humanidade.
Antes
de prosseguir, porém, abro um espaço para Manoel Philomeno de Miranda
(espírito) e Divaldo Franco, pois ambos explicam, em meu livro O Semeador de Estrelas, o que é uma biblioteca na espiritualidade e como os livros escritos no plano físico são ali arquivados . Miranda, esclarece que:
“ Quando um escritor ou um médium,
seja quem for, escreve algo que beneficia a Humanidade – no caso do
escritor é um profissional, mas, se o que ele produz é edificante -,
nessa biblioteca (o livro) fica inscrito, com um tipo de letra bem
característica, traduzindo a nobreza do seu conteúdo.À medida em que a
mente, aqui no planeta, vai elaborando, simultaneamente,vai plasmando
lá, em fichários muito sensíveis que captam a onda mental e tudo
imprimem.
Quando
a pessoa escreve por ideal e não é remunerada, ao se abrirem esses
livros, as letras adquirem relevo e são de uma forma muito agradável à
vista, tendo uma peculiar luminosidade.Se a pessoa, porém, o faz por
ideal e estando num momento difícil, sofrido, mas ainda assim escreve
com beleza, esquecendo-se de si mesma para ajudar a sociedade, a
criatura humana, ao abrir-se o livro, as letras adquirem uma vibração
musical e se transformam em verdadeiros cantos, em que a pessoa ouve, vê
e capta os registros psíquicos de quando o autor estava elaborando a
tese.(cap.12)
Com este parâmetro acima evidenciado, já começamos a perceber a intensidade da luz do livro-astro que irei enfocar.
Falo de uma obra imbatível, Paulo e Estevão. Suas páginas irradiam luz, pela elevação e beleza do conteúdo.
Quando Emmanuel o ditou, em 1941, Chico Xavier estava em Pedro Leopoldo, no apogeu da sua mediunidade, de sua saúde.
A captação não poderia ser mais
perfeita. Chico era dotado de uma psicografia mecânica, imprescindível
para a sua missão, que teve início no verdor de seus 17 anos, momento em
que ao participar de sua primeira reunião mediúnica psicografou 17
páginas. Tenho o hábito de dizer : cada página expressava um ano de sua própria vida.
Mas voltando à recepção mediúnica do Paulo e Estevão, vale a pena reproduzir os comentários de nossa querida e sempre lembrada Yvonne Pereira, conforme anota em seu livro Devassando o Invisível, acerca dessa obra de Emmanuel. Ela relata que
Ao receber de Emmanuel esse livro, Chico “assistiu,
deslumbrado, à cena da aparição do Nazareno a Paulo de Tarso, na estrada
de Damasco, quadro fluídico criado pela palavra espiritual (vibração
mental, poder do pensamento e da vontade sobre os fluidos existentes no
Universo) do autor da obra, que a está ditando psicograficamente (...).
Comovido, o médium não suporta tanta grandeza patenteada à sua visão. Abandona o lápis interrompendo o ditado. Prostra-se de joelhos e chora as mais sublimes lágrimas que seus olhos conheceram.” (cap. 6)
Yvonne ressalta que em tais ocasiões o médium tem a sua
sensibilidade elevada ao máximo; acrescenta que o labor mediúnico nesse
nível é sempre difícil, exigindo que o médium esteja vibrando em
harmonia com o autor da obra para o êxito do tentame. Menciona as
qualidades que são imprescindíveis, tais como o amor à causa, pureza de
intenções, vontade firme, humildade, paciência, perseverança e
desinteresse de toda e qualquer natureza, mormente o desinteresse
monetário, renúncia e até mesmo espírito de sacrifício.
No transcurso dos anos releio Paulo e Estevão muitas
vezes, sempre encantada com a bela narrativa de Emmanuel. O livro
transcende a tudo o que se espera de uma obra mediúnica romanceada. O
discurso do autor espiritual além de muito elevado é elegante e
delicado, mesmo nos trechos de maior impacto, onde são ressaltadas
algumas das torturas infligidas aos cristãos e os sofrimentos das
personagens.
Em minha opinião, um dos trechos mais importantes da narrativa, além, é claro, do encontro de Saulo com Jesus, na estrada de Damasco, é o
momento em que o apóstolo Pedro se vê diante das divergências que
fervilhavam entre Tiago e Paulo, o primeiro defendendo as tradições
judaicas e o segundo a situação dos incircuncisos, dos gentios.
O momento é muito grave. Pedro
observa a atitude dos dois amigos e a dos que estavam ao redor. Barnabé
entra no debate que se torna mais acalorado. Compreendendo o alcance que
sua posição acarretaria, rogou a Jesus que lhe concedesse a necessária
inspiração. Sentiu que estava diante de uma espinhosa missão e que teria que evitar qualquer escândalo que comprometesse a instituição cristã que alvorecia no mundo.
Passemos a palavra diretamente a Emmanuel, para nos envolvermos na beleza do momento. Ele descreve a postura mental de Pedro:
“De olhos úmidos,
enquanto Paulo e Barnabé se debatiam, teve a impressão de ver novamente o
Senhor, no dia do Calvário. Ninguém o compreendera, nem mesmo os
discípulos amados. Em seguida pareceu vê-lo
expirante na cruz do martírio. Uma força oculta conduzia-o a ponderar o
madeiro com atenção. A cruz do Cristo parecia-lhe, agora, um símbolo de
perfeito equilíbrio. Uma linha horizontal e uma linha vertical, justapostas,
formavam figuras absolutamente retas. Sim, o instrumento de suplício
enviava-lhe uma silenciosa mensagem. Era preciso ser justo, sem
parcialidade ou falsa inclinação. O Mestre amara a todos
indistintamente. Repartira os bens eternos com todas as criaturas. Ao
seu olhar compassivo e magnânimo, gentios e judeus eram irmãos.
Experimentava, agora, singular acuidade para examinar conscienciosamente
as circunstâncias. Devia amar a Tiago pelo seu
cuidado generoso com os israelitas, bem como a Paulo de Tarso pela sua
dedicação extraordinária a todos quantos não conheciam a idéia do Deus
justo.”
Constatou, então, que a polêmica estava cada vez mais acirrada.
Com decisão, Simão Pedro levantou-se. Sua fisionomia estava serena, mas lágrimas brilhavam nos seus olhos. Houve uma pausa nas discussões.
Com voz firme, disse:
“- Irmãos! – muito
tenho errado neste mundo. Não é segredo para ninguém que cheguei a negar
o Mestre no instante mais doloroso do Evangelho. Tenho medido a
misericórdia do Senhor pela profundidade do abismo de minhas fraquezas.
Se errei entre os irmãos muito amados de Antioquia, peço perdão de
minhas faltas. Submeto-me ao vosso julgamento e rogo a todos que se
submetam ao julgamento do Altíssimo.” (Cap. 5)
A surpresa foi geral. Ante
o impacto causado pelas suas palavras, Pedro convidou a todos a passar
para os comentários do Evangelho, pedindo a Paulo que consultasse e
comentasse as anotações de Levi.
Emmanuel afirma que a atitude ponderada de Pedro salvara a igreja nascente.
Muitas outras passagens poderiam
ser citadas. Nas páginas desse livro-astro desfilam acontecimentos
históricos, mesclados de ensinamentos profundos .
Impossível deixar de citar dois outros antológicos trechos, o primeiro é o sublime
encontro de Paulo, em desdobramento, com Estevão e Abigail.
Inolvidáveis são as palavras de Estevão e as da noiva amada. Perante as indagações mentais de Paulo, Abigail profere quatro sugestivas palavras, que expressam um programa para toda vida: Ama! Trabalha! Espera! Perdoa! (cap. 2)
O segundo é o instante da morte de
Estevão, quando este, sentindo extinguir-lhe a vida física, após ser
apedrejado, pede à irmã, Abigail, que o sustentava em seu colo, que fale a prece dos aflitos e agonizantes. E ela profere a comovente oração, em versos primorosos do autor espiritual.
O belíssimo Paulo e Estevão é um livro-astro que resplandece em qualquer biblioteca.
Prezados leitores, não estamos
ainda no mundo espiritual, nossa pátria de origem, portanto, enquanto
aqui na Terra beneficiem-se com a luz que emana do pensamento do Mentor
de Chico Xavier, Emmanuel. Não esqueçamos, todavia, que o médium esteve à
altura da missão que lhe fora confiada, em perfeita sintonia com a
programação espiritual superior, a que fez jus.
Chico Xavier! Receba nessa data
comemorativa dos cem anos de sua vinda ao plano terreno, o preito de
nossa gratidão e de nosso amor.
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