domingo, 6 de novembro de 2011

CHICO XAVIER E OS “LIVROS-ASTROS” DA ESPIRITUALIDADE SUPERIOR

Francisco Thiesen, presidente da Federação Espírita Brasileira, ao escrever o prefácio do meu livro Testemunhos de Chico Xavier  (Feb 1986),  referindo-se aos livros psicografados pelo médium mineiro e publicados pela FEB, registra essa interessante e bonita expressão, “livros-astros” da Espiritualidade Superior, acrescentando que isso ocorria “ao longo de decênios dessa transferência de conhecimentos avançados.”

         “Livros-astros”, é uma bela idéia. Os astros têm luz própria, são estrelas de variada grandeza, que brilham na imensidão sideral. Irradiam seu brilho por anos-luz afora. E os livros que apresentam elevado teor de espiritualidade não irradiam luz? Não brilham em meio ao cenário  imenso da cultura universal?

         Relendo o prefácio de Francisco Thiesen deparei-me com esse trecho; pensei, então, ser interessante e importante que ressaltasse agora, um dos livros mediúnicos de Chico Xavier que, pessoalmente, considero como verdadeiro astro irradiando luz para a Humanidade.

         Antes de prosseguir, porém, abro um espaço para Manoel Philomeno de Miranda (espírito) e Divaldo Franco, pois ambos explicam, em meu livro O Semeador de Estrelas,  o que é uma biblioteca na espiritualidade e como os livros escritos no plano físico são ali arquivados . Miranda, esclarece que:

         “ Quando um escritor ou um  médium, seja quem for, escreve algo que beneficia a Humanidade – no caso do escritor é um profissional, mas, se o que ele produz é edificante -, nessa biblioteca (o livro) fica inscrito, com um tipo de letra bem característica, traduzindo a nobreza do seu conteúdo.À medida em que a mente, aqui no planeta, vai elaborando, simultaneamente,vai plasmando lá, em fichários muito sensíveis que captam a onda mental e tudo imprimem.

         Quando a pessoa escreve por ideal e não é remunerada, ao se abrirem esses livros, as letras adquirem relevo e são de uma forma muito agradável à vista, tendo uma peculiar luminosidade.Se a pessoa, porém, o faz por ideal e estando num momento difícil, sofrido, mas ainda assim escreve com beleza, esquecendo-se de si mesma para ajudar a sociedade, a criatura humana, ao abrir-se o livro, as letras adquirem uma vibração musical e se transformam em verdadeiros cantos, em que a pessoa ouve, vê e capta os registros psíquicos de quando o autor estava elaborando a tese.(cap.12)

         Com este parâmetro acima evidenciado, já começamos a perceber a intensidade da luz do livro-astro que irei enfocar.

         Falo de uma obra  imbatível, Paulo e Estevão. Suas páginas irradiam luz, pela elevação e beleza do conteúdo.

         Quando Emmanuel o ditou, em 1941, Chico Xavier estava em Pedro Leopoldo, no apogeu da sua mediunidade, de sua saúde.

         A captação não poderia ser mais perfeita. Chico era dotado de uma psicografia mecânica, imprescindível para a sua missão, que teve início no verdor de seus 17 anos, momento em que ao participar de sua primeira reunião mediúnica psicografou 17 páginas. Tenho o hábito de dizer : cada página expressava  um ano de sua própria vida.

         Mas voltando à recepção mediúnica do Paulo e Estevão, vale a pena reproduzir os comentários de nossa querida e sempre lembrada Yvonne Pereira, conforme anota em seu livro Devassando o Invisível, acerca dessa obra de Emmanuel. Ela relata que

         Ao receber de Emmanuel esse livro, Chico “assistiu, deslumbrado, à cena da aparição do Nazareno a Paulo de Tarso, na estrada de Damasco, quadro fluídico criado pela palavra espiritual (vibração mental, poder do pensamento e da vontade sobre os fluidos existentes no Universo) do autor da obra, que a está ditando psicograficamente (...).

         Comovido, o médium não suporta tanta grandeza patenteada à sua visão. Abandona o lápis interrompendo o ditado.  Prostra-se de joelhos e chora as mais sublimes lágrimas que seus olhos conheceram.” (cap. 6)

         Yvonne ressalta que em tais ocasiões o médium tem a sua sensibilidade elevada ao máximo; acrescenta que o labor mediúnico nesse nível é sempre difícil, exigindo que o médium esteja vibrando em harmonia com o autor da obra para o êxito do tentame. Menciona as qualidades que são imprescindíveis, tais como o amor à causa, pureza de intenções, vontade firme, humildade, paciência, perseverança e desinteresse de toda e qualquer natureza, mormente o desinteresse monetário, renúncia e até mesmo espírito de sacrifício.

         No transcurso dos anos  releio Paulo e Estevão  muitas vezes, sempre encantada com a bela narrativa de Emmanuel. O livro transcende a tudo o que se espera de uma obra mediúnica romanceada. O discurso do autor espiritual além de muito elevado é elegante e delicado, mesmo nos trechos de maior impacto, onde são ressaltadas algumas das torturas infligidas aos cristãos e os sofrimentos das personagens.

         Em minha opinião, um dos trechos mais importantes da narrativa, além, é claro,  do encontro de Saulo com Jesus, na estrada de Damasco, é  o momento em que o apóstolo Pedro se vê diante das divergências que fervilhavam entre Tiago e Paulo, o primeiro defendendo as tradições judaicas e o segundo  a situação dos incircuncisos, dos gentios.

         O momento é muito grave. Pedro observa a atitude dos dois amigos e a dos que estavam ao redor. Barnabé entra no debate que se torna mais acalorado. Compreendendo o alcance que sua posição acarretaria, rogou a Jesus que lhe concedesse a necessária inspiração. Sentiu que estava diante de uma espinhosa  missão e que teria que evitar qualquer escândalo que comprometesse a instituição cristã que alvorecia no mundo.

         Passemos a palavra diretamente a Emmanuel, para nos envolvermos na beleza do momento. Ele descreve a postura mental de Pedro:

         De olhos úmidos, enquanto Paulo e Barnabé se debatiam, teve a impressão de ver novamente o Senhor, no dia do Calvário. Ninguém o compreendera, nem mesmo os discípulos amados. Em seguida  pareceu vê-lo expirante na cruz do martírio. Uma força oculta conduzia-o a ponderar o madeiro com atenção. A cruz do Cristo parecia-lhe, agora, um símbolo de perfeito equilíbrio. Uma linha horizontal e uma linha vertical,  justapostas, formavam figuras absolutamente retas. Sim, o instrumento de suplício enviava-lhe uma silenciosa mensagem. Era preciso ser justo, sem parcialidade ou falsa inclinação. O Mestre amara a todos indistintamente. Repartira os bens eternos com todas as criaturas. Ao seu olhar compassivo e magnânimo, gentios e judeus eram irmãos. Experimentava, agora, singular acuidade para examinar conscienciosamente  as circunstâncias. Devia amar a Tiago pelo seu cuidado generoso com os israelitas, bem como a Paulo de Tarso pela sua dedicação extraordinária a todos quantos não conheciam a idéia do Deus justo.”

         Constatou, então,  que a polêmica estava cada vez mais acirrada.

         Com decisão, Simão Pedro levantou-se. Sua fisionomia estava serena, mas lágrimas brilhavam  nos seus olhos. Houve uma pausa nas discussões.

         Com voz firme, disse:
         - Irmãos! – muito tenho errado neste mundo. Não é segredo para ninguém que cheguei a negar o Mestre no instante mais doloroso do Evangelho. Tenho medido a misericórdia do Senhor pela profundidade do abismo de minhas fraquezas. Se errei entre os irmãos muito amados de Antioquia, peço perdão de minhas faltas. Submeto-me ao vosso julgamento e rogo a todos que se submetam ao julgamento do Altíssimo.” (Cap. 5)
          A surpresa foi geral.  Ante o impacto causado pelas suas palavras, Pedro convidou a todos a passar para os comentários do Evangelho, pedindo a Paulo que consultasse e comentasse as anotações de Levi.
         Emmanuel afirma que a atitude ponderada de Pedro salvara a igreja nascente.
         Muitas outras passagens poderiam ser citadas. Nas páginas desse livro-astro desfilam acontecimentos históricos, mesclados de ensinamentos profundos .
         Impossível deixar de citar dois outros antológicos trechos,  o primeiro é o  sublime encontro de Paulo, em desdobramento, com Estevão e Abigail. Inolvidáveis são as palavras de Estevão e as da noiva amada. Perante as  indagações mentais de Paulo, Abigail profere quatro sugestivas palavras, que expressam um programa para toda vida: Ama! Trabalha! Espera! Perdoa! (cap. 2)
         O segundo é o instante da morte de Estevão, quando este, sentindo extinguir-lhe a vida física, após ser apedrejado, pede à irmã, Abigail, que o sustentava em seu colo,  que fale a prece dos aflitos e agonizantes. E ela profere a comovente oração, em versos primorosos do autor espiritual.
         O belíssimo  Paulo e Estevão é um livro-astro que resplandece em qualquer biblioteca.
         Prezados leitores, não estamos ainda no mundo espiritual, nossa pátria de origem, portanto, enquanto aqui na Terra beneficiem-se com a luz que emana do pensamento do Mentor de Chico Xavier, Emmanuel. Não esqueçamos, todavia, que o médium esteve à altura da missão que lhe fora confiada, em perfeita sintonia com a programação espiritual superior, a que fez jus.
         Chico Xavier! Receba nessa data comemorativa dos cem anos de sua vinda ao plano terreno, o preito de nossa gratidão e de nosso amor.

 






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