Emmanuel
O mundo vem criando soluções adequadas para a generalidade das crises que o atormentam.
A carência do pão, em determinados distritos, é suprida, de imediato, pela superprodução de outras faixas de terra.
Corrige-se a inflação, podando a despesa.
O desemprego desaparece pela improvisação de trabalho.
A epidemia é sustada pela vacina.
Existe,
porém, uma crise estranha - e das que mais afligem os povos -
francamente inacessível à intervenção dos poderes públicos, tanto
quanto aos recursos da ciência nas conquistas modernas. Referimo-nos à
crise da intolerância que, desde o travo de amargura, que sugere o
desânimo, à violência do ódio, que impele ao crime, vai minando as
melhores reservas morais do Planeta, com a destruição conseqüente de
muitos dos mais belos empreendimentos humanos.
Para
a liquidação do problema que assume tremendo vulto em todas as
coletividades terrestres, o remédio não se forma de quaisquer
ingredientes políticos e financeiros, por ser encontrado tão-somente na
farmácia da alma, a exprimir-se no perdão puro e simples.
O
perdão é o único antibiótico mental suscetível de extinguir as
infecções do ressentimento no organismo do mundo. Perdão entre
dirigentes e dirigidos, sábios e ignorantes, instrutores e aprendizes,
benevolência entre o pensamento que governa e o braço que trabalha,
entre a chefia e a subalternidade.
Consultem-se
nos foros - autênticos hospitais de relações humanas - os processos
por demandas, questões salariais, divórcios e desquites baseados na
intransigência doméstica ou na incompatibilidade de sentimentos,
reclamações, indenizações e reivindicações de toda ordem, e observe-se,
para além dos tribunais de justiça, a animosidade entre pais e filhos,
a luta de classes, as greves de múltiplas procedências, as queixas de
parentela, os duelos de opinião entre a juventude e a madureza, as
divergências raciais e os conflitos de guerra, e verificaremos que, ou
nos desculpamos uns aos outros, na condição de espíritos frágeis e
endividados que ainda somos quase todos, ou a nossa agressividade
acabará expulsando a civilização dos cenários terrestres.
Eis
por que Jesus, há quase vinte séculos, nos exortou perdoarmos aos que
nos ofendam setenta vezes sete, ou melhor, quatrocentos e noventa
vezes.
Tão-só
nessa operação aritmética do Senhor, resolveremos a crise da
intolerância, sempre grave em todos os tempos. Repitamos, no entanto,
que a preciosidade do perdão não se adquire nos armazéns, por que, na
essência, o perdão é uma luz que irradia, começando de nós.
(Do livro "Mãos Unidas", "A Estranha Crise", Emmanuel, Francisco C. Xavier)
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