Cinco
de maio. Mukhtar, um somaliano residente em Copenhagen, na Dinamarca,
se ergue pela manhã e comparece ao serviço. Ele é motorista de ônibus.
Tudo parece normal, como todos os dias. As pessoas entram, saem, o ônibus faz as paradas devidas.
E
é justamente numa dessas que, entre outros, entra um jovem vestindo o
mais fino traje a rigor. Na mão, um instrumento de sopro.
Coloca-se
em lugar estratégico do ônibus e toca. O motorista olha pelo espelho e
continua sua rota. Então, uma mulher começa a cantar.
É
uma música que, com certeza, fala de felicidades, de dia de
aniversário. Mukhtar sorri agora, abrindo a boca, mostrando os dentes
alvos.
É o dia do seu aniversário. Outras vozes se unem à primeira e também cantam.
A viagem prossegue. Então, ao entrar em determinada via, ele se depara com uma marcha de protesto.
Bom,
não dá para ele saber com exatidão contra quem ou o que eles protestam.
As pessoas, jovens, homens, mulheres, estão de costas para ele. Portam
cartazes, que ele não consegue ler.
Eles gritam palavras de ordem, erguendo os punhos. Mukhtar sabe que deve ter cuidado.
Avança devagar, aproxima-se delas e pede passagem buzinando. A marcha continua imperturbável na sua manifestação.
Ele
torna a buzinar. Aí, o inusitado acontece. Todas aquelas pessoas se
voltam de frente para ele. Os cartazes agora estão virados para ele e o
saúdam pelo seu aniversário.
São felicitações. Todos cantam, sorriem. O ônibus para. Não há como prosseguir.
Entre a surpresa e a emoção, o motorista abre a porta do veículo.
Um homem vem ao seu encontro, o abraça e lhe entrega flores. Outros lhe oferecem presentes.
Mukhtar disfarça as lágrimas da emoção que o toma por inteiro.
Algumas
daquelas pessoas são passageiros habituais da sua linha de ônibus,
outras se encontravam na rua e foram convidadas a participar da
homenagem ao aniversariante.
Tudo
organizado pela empresa de ônibus que o emprega. Uma empresa que
lembrou que aquele somaliano, vivendo distante de sua terra, de sua
gente, apreciaria uma manifestação de alegria e de afeto, no dia do seu
aniversário.
* * *
Enquanto
houver pessoas que se preocupam em ofertar momentos de alegria a outras
pessoas; enquanto houver tempo para manifestações de afeto; enquanto um
empresário se lembrar de parabenizar seu funcionário pelo seu
aniversário, pelo filho que lhe nasceu, pelo diploma que conquistou,
tenhamos certeza: o mundo está melhor.
Enquanto
alguns ainda se comprazem em prejudicar o seu irmão ou se mostram
indiferentes à dor alheia, acreditemos: há um número expressivo de
pessoas que se importam com o seu semelhante.
Pessoas que se sentem felizes em propiciar felicidade a outros.
Mesmo
que isso possa ser somente cantar uma canção de aniversário, ofertar um
abraço, tocar uma música, aceitar participar de uma homenagem a um
servidor de todos os dias.
Pensemos
nisso e vibremos e nos unamos a tais pessoas, engrossando a fileira dos
que mentalizam o bem, fazem o bem e materializam, dia a dia, um mundo
de irmãos, um mundo de amor.
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