terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Tempestades da Vida

Há noites muito escuras em que o vento violento e ruidoso traz a tempestade inclemente. Os trovões e os relâmpagos invadem a madrugada como se fossem durar para sempre. Não há como ignorar os sentimentos que tomam de assalto nossos frágeis corações. O medo e a incerteza tiram nosso sono, e passamos minutos infindáveis, imaginando o pior, temerosos de que o céu possa, de um momento para outro, cair sobre nossas cabeças.
Sem, no entanto, qualquer aviso, o vento vai se acalmando, as gotas de chuva começam cair com menos violência e o silêncio volta a imperar na noite. Adormecemos sem nos dar conta do final da intempérie e, quando acordamos, com o sol da manhã a nos beijar a fronte, nem sequer nos recordamos das angústias da noite. Os galhos caídos na calçada, a água ainda empoçada na rua, nada, nenhum sinal é suficientemente forte para que nos lembremos do temporal que há poucas horas nos assustava tanto.
Assim ainda somos nós, criaturas humanas, presas ao momento presente.
Descrentes, a ponto de quase sucumbir diante de qualquer dificuldade, seja uma tempestade ou revés da vida, por acreditar eu ela poderia nos aniquilar ou ferir irremediavelmente.
Homens de pouca fé, eis o que somos.
Há muito tempo fomos conclamados a crer no amor do Pai, soberanamente justo e bom, que não permite que nada que não seja necessário e útil nos aconteça. Mesmo assim continuamos ligados à matéria, acreditando que nossa felicidade depende apenas de tesouros que as traças roem e que o tempo deteriorara.
Permanecemos sofrendo por dificuldades passageiras, como a tempestade da noite,que por mais estragos que possa nos fazer nos telhados e nos jardins, sempre passa e tem sua indiscutível utilidade.
Somos para Deus como crianças que ainda não se deram conta da grandiosidade do mundo e das verdades da vida. Almas aprendizes que se assustam com trovões e relâmpagos que, nas noites escutas da vida, fazem-nos lembrar de nossa pequenez e da nossa impotência diante do todo.
Se ainda coramos de medo e não temos coragem bastante para enfrentar as realidades que não nos parecem favoráveis ou agradáveis, é porque em nossa intimidade a mensagem do Cristo ainda não se fez certeza. Nossa fé é tão insignificante que ante a menor contrariedade bradamos que Deus nos abandonou, que não há justiça.
Trata-se, porém, de uma miopia espiritual, decorrente do nosso desejo constante de ser agraciados com bênçãos que, por ora, ainda não são merecidas.
Falta-nos coragem para acreditar que Deus não erra, que esta característica não é dele, mas apenas nossa, caminhantes imperfeitos nesta rota evolutiva. Falta-nos humildade para crer que, quando fazemos a parte que nos cabe na tarefa tudo acontece na hora correta e de forma adequada.
As dores que nos chegam e nos tocam são oportunidades de aprendizado e de mudança para novo estágio de evolução. Assim como a chuva, que embora nos pareça inconveniente e assustadora, em algumas ocasiões, também os problemas são indispensáveis para a purificação e renovação dos seres. Por isso, quando tempestades pesarem fortemente sobre nossas cabeças, saibamos perceber que tudo na vida passa, assim como as chuvas, as dores, os problemas.
Tudo é fugaz e momentâneo. Mas tudo, também, tem seu motivo sua utilidade em nosso desenvolvimento. Não nos esqueçamos que, em diversas vezes, para compreendermos o valor da ancora, necessitamos enfrentar uma tempestade.
Revista – Cultura Espírita
Texto – Marcos Leite
Jornalista, publicitário e coordenador do programa “Espaço Jovem”, veiculado pela Rádio Rio de Janeiro

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