segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Aprendendo a desprender-se

Bonnie precisou ser internada duas semanas antes do natal, para uma cirurgia, e estava muito preocupada. Além dos quatro filhos para cuidar, ela pensava nas compras, presentes e enfeites a providenciar.

Quando abriu os olhos depois de ter dormido grande parte dos dois dias no hospital, após a cirurgia, olhou ao redor e viu algo semelhante a uma floricultura.

Buquês de flores se enfileiravam sobre o parapeito da janela. Cartões se empilhavam sobre a mesinha de cabeceira. Na prateleira, acima da pia, havia uma dúzia de rosas vermelhas enviada por seus pais, que moravam em outro estado.

O marido lhe disse que os amigos haviam preparado refeições para a família e se ofereceram para cuidar das quatro crianças.

Mais flores, disse a enfermeira, entrando no quarto e interrompendo os pensamentos da convalescente.

Ela abriu espaço entre as demais flores, para colocar outro belo arranjo colorido.

Acho que vamos ter de mandar a senhora para casa, disse sorridente. Não temos mais espaço aqui.

Enquanto Bonnie lia os cartões, ouviu alguém dizer: gostei das flores.

Era a companheira de quarto. Uma mulher de mais ou menos 40 anos, portadora de síndrome de Down.

Ginger gostava de falar e não se cansava de dizer que estava ali para que o doutor desse um jeito no seu pé. Contou que morava em companhia de outras pessoas e desejava voltar a tempo para poder participar da festa de natal.

Enquanto Ginger foi para a cirurgia, Bonnie ficou olhando o quarto. O seu lado estava florido. O lado de Ginger, nada. Nenhum cartão, nenhuma flor, nenhuma visita.

Vou oferecer a ela algumas de minhas flores, pensou.

Foi até a janela e escolheu um arranjo de flores vermelhas. Mas daí recordou que o arranjo ficaria muito bonito em sua mesa de natal.

E as justificativas continuaram: as flores estão começando a murchar, a amiga que ofereceu ficaria ofendida, poderia enfeitar a casa com aquele arranjo.

Resultado: ela não conseguiu repartir nenhuma. Voltou para a cama e pensou que no dia seguinte, quando a loja abrisse, iria pedir para que entregassem algumas flores a Ginger.

Ginger voltou da cirurgia e uma funcionária do hospital lhe trouxe uma guirlanda de belas flores e a pendurou acima da sua cama.

Logo após o café, na manhã seguinte, a enfermeira retornou para dizer a Ginger que ela iria para casa. A condução estava a caminho para buscá-la.

Ela ficou feliz pois chegaria a tempo para participar da festa de natal. Arrumou as suas coisas enquanto Bonnie se entristeceu. A floricultura do hospital só iria abrir dali a duas horas.

Será que ela deveria oferecer uma das suas flores?

Ginger vestiu seu casaco, sentou-se na cadeira de rodas para ser conduzida pela enfermeira. Quando estava na porta, pediu para voltar, como se estivesse esquecido algo.

Foi até sua cama, apanhou a guirlanda, aproximou-se de Bonnie e, levantando-se com certa dificuldade, a abraçou, deixando o enfeite em seu colo.

Depois, se foi.

Enquanto ela saía do quarto, Bonnie não conseguiu dizer nada.

Segurou a pequena guirlanda nas mãos, com os olhos úmidos. O único presente de Ginger e ela o tinha oferecido à companheira de quarto.

Então Bonnie entendeu que Ginger possuía muito mais coisas do que ela mesma.

***

Há muita gente escravizada ao que não tem e muita alma livre do que possui.

Verifique onde você se enquadra e busque se transformar em anjo da ação bem dirigida, convertendo o que lhe chegue às mãos em bênçãos e alegrias mantenedoras da vida.


Equipe de Redação do Momento Espírita, com base no cap. Tudo é meu, de Bonnie Shepherd, do livro Histórias para o coração da mulher, de Alice Gray, editora United Press e cap. 25 do livro Legado Kardequiano, do Espírito Marco Prisco, pela psicografia de Divaldo Franco, editora LEAL.

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