terça-feira, 15 de maio de 2012

Berço


Excetuando-se os planos organizados para as obras especiais,
em que Espíritos missionários senhoreiam as reservas fisiológicas
para a criação de reflexos da Vida Superior entre os homens,
impelindo-os a maior ascensão, todo berço de agora retrata o
ontem que passou.
O caminho que iniciamos em determinada existência é o prolongamento dos caminhos que percorremos naquelas que a precederam.
Esfalfa-se a investigação científica na Terra, estudando o continuísmo biológico.
Núcleos de cromossomos e veículos citoplásmicos, fatores de
ambiente e genealogias familiares são chamados pelos geneticistas à equação dos problemas da origem e é natural que de suas
indagações surjam resultados notáveis, quais sejam aqueles que
tangem aos caracteres morfológicos e às surpresas da adaptação.
O escalpelo da observação humana, porém, não consegue, por
agora, ultrapassar o recinto externo da constituição orgânica,
detendo-se no exame da conformação e da estatura, da pigmenta-
ção e do grupo sangüíneo, alusivos à filiação corpórea, já que os
meandros da hereditariedade psíquica são, por enquanto, quase
que integralmente inacessíveis à sondagem da inteligência terrestre.
É que as células germinais, por sementes vivas, reproduzem
os nossos clichês da consciência no trabalho impalpável da formação de um corpo novo.
Na câmara uterina, o reflexo dominante de nossa individualidade impressiona a chapa fetal ou o conjunto de princípios germi-
nativos que nos forjam os alicerces do novo instrumento físico,
selando-nos a destinação para as tarefas que somos chamados a
executar no mundo, em certa quota de tempo.
Nisso não vai  qualquer exaltação ao determinismo absoluto,
porque ninguém pode suprimir o livre-arbítrio, com o qual articulamos as causas de sofrimento ou reparação em nossos destinos,
dentro do determinismo relativo em que marchamos para mais
altas formas de emoção e  pensamento, na conquista da liberdade
suprema.
Pelo transe da morte física, regressamos à Vida Maior com a
soma de realizações que nem sempre são aquelas que devêramos
efetuar. Em muitas circunstâncias, as imagens trazidas da permanência na carne são fantasmas temíveis, nascidos de nossas pró-
prias culpas, exigindo reajuste e pagamento, a modelarem para os
nossos sentidos o inferno torturante em que se nos revolvem as
queixas e aflições.
Eis, porém, que a Justiça Fiel, por misericórdia, nos concede
o retorno  para a bênção do reinício. Retomamos, assim, através do
berço, o contato direto com os nossos credores e devedores para a
liquidação dos débitos que contraímos, cujo balanço efetivo jaz
devidamente contabilizado nas Leis Divinas.
É desta maneira que comumente renascemos na Terra, segundo as nossas dívidas ou conforme as nossas necessidades, assimilando para esse fim a essência genética daqueles que se nos afinam com o modo de proceder e de ser.
Os problemas da hereditariedade, em razão disso, descendem,
de forma geral, dos reflexos mentais que nos sejam próprios.
Em verdade, por vezes, abnegados corações, cultivando a leira do amor pelo sacrifício, trazem a si corações desditosos, guardando transitoriamente, nos braços, monstruosas aberrações que
destoam do elevado nível em que já se instalaram; contudo,
vemos semelhantes exceções ao espírito de renúncia com que
fazem emergir das regiões infernais velhos laços afetivos, distanciados no tempo, usando o divino atributo da caridade.
De conformidade com a regra, porém, nosso berço no mundo
é o reflexo de nossas necessidades, cabendo a cada um de nós,
quando na reencarnação, honrá-lo com trabalho digno de restaura-
ção, melhoria ou engrandecimento, na certeza de que a ele fomos
trazidos ou atraídos, segundo os problemas da regeneração ou da
mordomia de que carecemos na recomposição de nosso destino,
perante o futuro.

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