Em meio a doces emoções com o caso dos dois irmãos gêmeos, que muito sensibilizam, e trilha sonora envolvente, o filme não aprofunda a questão da mediunidade – faculdade inerente à condição humana –, mas mostra bem o charlatanismo e os abusos decorrentes do desconhecimento dessa extraordinária potencialidade humana, ainda incompreendida e mal conduzida por grande parte da sociedade humana. Todavia, trata-se de uma belíssima produção. É surpreendente ver a capacidade do roteiro e direção em emocionar o público, utilizando-se de um tema ainda tabu e que somente agora desperta para os interesses da cultura humana.
Ao mesmo tempo que emociona, o filme faz pensar sobre as velhas questões dos remorsos, arrependimentos e dificuldades de relacionamentos interferindo mesmo além da vida, pois que a morte não elimina os sentimentos, mas todos levamos conosco aquilo que vivemos e sentimos. Isso foi bem demonstrado na trama dos personagens.
Mas é muito oportuna a produção porque vivemos o ano do sesquicentenário de O Livro dos Médiuns, de Allan Kardec, o maior tratado sobre mediunidade já publicado no planeta. Lançado em 15 de janeiro 1861, em Paris, a obra coloca a mediunidade como uma capacidade humana, que independe de sexo, crença, cultura, idade ou raça. Por outro lado, variável em intensidade e grau de manifestação ou percepção, ela existe como mecanismo de instrução e progresso humano, não devendo ser comercializada ou utilizada como ferramenta de exploração da credulidade humana, mas sim direcionada para o equilíbrio e o bem dos seres humanos. A obra elimina o misticismo e toda fantasia que a ignorância humana atrelou ao tema, mostrando-a com naturalidade, embasada cientificamente e, melhor, mostrando sua finalidade e objetivo.
O fato final é que somos imortais. Levamos conosco as bagagens vivenciadas e, embora deixemos o corpo no fenômeno biológico da morte, permanecem vivos os sentimentos, as lembranças, os laços de afeto – que não se rompem –, tendo na mediunidade o instrumento de comunicação entre os dois lados de uma mesma vida. Orientando uso da faculdade e valorizando o aspecto moral dos relacionamentos, o Espiritismo vem demonstrar que ela, a mediunidade, não é sua invenção, não é exclusividade da prática espírita e tampouco é doença ou maldição, como interpreta o personagem do filme, mas simplesmente uma faculdade humana que deve ser conhecida e disciplinada para o bem. Ela existe desde que existe o ser humano, aprimora-se com o próprio progresso humano, mas reflete em sua prática o estágio sócio-cultural-moral de seus portadores. Daí a necessidade de conhecer para bem conduzir.
Vá ver o filme, leitor, para meditar bastante no quanto nos falta ainda progredir, mas também para se emocionar com os dois irmãos gêmeos separados fisicamente por um acidente, mas que continuam a se comunicar...
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