sábado, 4 de junho de 2011

DESVINCULAÇÕES

Pergunta - A algumas pessoas a doutrina da reencarnação se afigura
destruidora dos laços de família, com o fazê-los anteriores à existência atual. Resposta -
Ela os distende; não os destrói. Fundando-se o parentesco em afeições anteriores, menos
precários são os laços existentes entre os membros de uma mesma família. Essa
doutrina amplia os deveres da fraternidade, porquanto, no vosso vizinho, ou no vosso
servo, pode achar-se um Espírito a quem tenhas estado presos pelos laços da
consangüinidade. Item nº 205, de "O livro dos Espíritos". A desvinculação entre os que
se amam com a necessidade de sanar os enganos e erros do amor assume habitualmente

o aspecto de dolorosa cirurgia psíquica. Por semelhante razão, a Divina Sabedoria
concede às criaturas tempo e condições renovadas na preparação gradual do
acontecimento. Essa desvinculação, via de regra, se verifica numa constante digna de
nota - a posição de pais e filhos, incluindo-se nela os pais e filhos adotivos -, de vez que,
no enternecimento do lar, todos os jogos da ternura são colocados na mesa do cotidiano,
revestidos de encantamento construtivo.
No fundo, porém, da personalidade paterna ou do maternal coração,
descansam os remanescentes de grandes afeições, às vezes desequilibradas e menos
felizes, trazidos de outras estâncias, nos domínios da reencarnação. A libido ou o
instinto sexual na forma de energia psíquica, tendente à conservação da vida,
permanece, em muitos casos, na carícia dos pais, vestida em veludíneo manto de
carinho e beleza, mas o amor é ainda, no adito do espírito, qual fogo de vida que se
nutre do próprio lenho. Por sua vez, nos entes queridos que retornam à estação da
esperança doméstica, essa mesma afetividade reponta, insopitável e genuína, conquanto
metamorfoseada nos brincos da infância. Os pequeninos, porém, recém-vindos da
amnésia natural que a reencarnação lhes impõe, não conseguem esconder as próprias
disposições no campo das preferências. E surgem neles, de inopino quase sempre, as
inclinações descontroladas, nos caprichos com que se mostram, exigindo especial
atenção de pai ou mãe. a revelarem, de modo claro. para que rumo se lhes dirigem os
laços mais fortes. Geralmente, com muitas exceções, aliás, as filhas se voltam para os
pais e os filhos para as mães, patenteando a natureza das ligações havidas em
existências passadas e prenunciando a obra de desvinculação que se executará,
inevitável, no futuro próximo.
Óbvio que nem todos os filhos aparecem no lar categorizados à conta da
desvinculação afetiva, porquanto milhões de Espíritos no corpo da Humanidade tomam
a estrutura física, no desempenho de encargos simples ou complexos, valendo-se da
colaboração dos pais, à maneira de amigos que se entreajudam, nas faixas da confiança
e da afinidade recíprocas.
Referimo-nos, porém, ao lar como pouso de desligamento, porque, na Terra, as
relações entre pais e filhos e, conseqüentemente, as relações de ordem familiar
constituem clima ideal para a libertação de quantos se jungiram entre si, de modo
inconveniente, nos desregramentos emotivos em nome do amor. É assim que a
sabedoria da Natureza faculta o reencontro, sob as teias da parentela, de quantos se
desvairaram, em outro tempo, nos desmandos de ordem sexual, reencontro esse que
persiste em condições mais íntimas e mais profundas, até que os companheiros do
pretérito, reencarnados na posição de filhos, atinjam a juventude, na existência nova,
elegendo novos parceiros para a sua vida afetiva, ante a presença ou a supervisão dos
pais ou de familiares outros. nem sempre satisfeitos ou tranqüilos com as escolhas que
são obrigados a assistir ou a aprovar pela força das circunstâncias. Pais que sofrem na
entrega das jovens que o lar lhes confiou, aos companheiros que as requisitam para os
misteres do casamento, quase sempre estão renunciando à companhia de antigas
afeições que eles mesmos, no passado, mal conduziam, ao passo que as mães
experimentam análogo fenômeno de dilaceração psíquica, em se separando de filhos
que lhes recordam, embora inconscientemente, as ligações empolgantes ou menos
felizes de tempos que já se foram. E, através das lutas e adeuses em família, com a
criação de núcleos diferentes na parentela, pela transferência habitual dos filhos, seja a
noras e genros, ou a tarefas e experiências diversas das deles, os pais, sempre que
respeitem as necessidades e resoluções dos seus rebentos, alcançam a vitória sobre si
mesmos, no rumo da própria emancipação na imortalidade.

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