sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Servilismo

“... A obediência e a resignação, duas virtudes companheiras da
doçura, muito ativas, embora os homens as confundam erradamente com
a negação do sentimento e da vontade. A obediência é o consentimento
da razão, a resignação é o consentimento do coração...”
A subserviência pode esconder falta de iniciativa, passividade indesejável,
complexo de inferioridade e uma imaturidade de personalidade.
Obedecer não é negar a vontade e o sentimento, mas exercitar o próprio
poder de escolha para cooperar com os outros na produção de algo maior e
melhor do que aquilo que se faria sozinho.
Assim considerando, a obediência deve ser uma postura interna, racional,
lógica, compreensiva e a mais consciente possível.
Os problemas do servilismo ou da subserviência nas criaturas foram
gerados em muitas circunstâncias na infância, quando pais instigavam o medo
e a ameaça como forma de obter obediência dos filhos. Trata-se de um
propósito cômodo e muito rápido, mas contra-indicado na complexa tarefa de
educar.
Adultos que herdaram tal formação familiar, se não forem espíritos
maduros e decididos, com farta bagagem espiritual e valores desenvolvidos,
poderão viver com essa “intrusão educacional”.
Esse modo forçado de obedecer aos outros desenvolve neles uma postura
de anulação das próprias metas, pois substitui sua independência pela vontade
alheia.
Outros tantos trazem das vivências anteriores sentimentos de culpa por
abandonarem sem nenhuma consideração entes queridos. São verdadeiros
“clichês mentais” arquivados no inconsciente profundo, que detonam em forma
de obediência e servidão compulsória, para compensar o passado infeliz.
A Psicologia, por seu turno, assevera que certos indivíduos
desequilibrados por conflitos herdados na infância trazem enraizados em sua
personalidade uma necessidade enorme de satisfazer seus “sentimentos de
mando” e “de autoridade”, sempre impondo ordens, métodos e regras que,
obedecidos passivamente, lhes trazem um enorme prazer e satisfação.
Essas pessoas ao entrarem em contato com personalidades submissas,
compensarão sua neurose de “dar ordens”, e em muitos casos, somam ao seu
impulso agressivo a “neurose de autoridade”, satisfazendo assim suas
características sádicas, dominando e afligindo essas criaturas servis, por anos
e anos.
O ser humano que se sujeita a ordens de comando vive constantemente
numa confusão mental, absorvendo na atmosfera íntima uma sensação de
“não ter agradado o suficiente”. Numa tentativa inútil de cumprir e concordar
com ordens recebidas, cai quase sempre na decepção, na revolta e na
indignação, pois esperava receber amor e consideração pela obediência
executada.
Muitos de nós tivemos pais que nunca se importaram em nos “impor
limites”, fatores indispensáveis para que a criança aprenda a conhecer o “não”,
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evitando a ilusão de que terá tudo a seu dispor e que jamais encontrará
obstáculos e dificuldades.
Viver querendo ter sempre nossos desejos realizados e executados é
“exigir obediência”, a qualquer preço, daqueles que nos cercam.
Paralelamente, com o passar do tempo, essa postura pode se tornar
inversa. Ao invés de exigirmos sujeição de todos os nossos pontos de vista,
passamos a “nunca dizer não”, sempre tentando satisfazer os outros, sempre
dizendo “sim”, ainda que precisemos ir às últimas conseqüências.
Por outro lado, uma pessoa que “nunca diz não” só pode ser
“desonesta”, porque diz que “faz” e “dá” muito mais do que “tem” e “pode”,
expondo-se sempre ao risco de ser tachada de hipócrita e, além de tudo, de
não realizar sua própria missão na Terra, porque se arvorou em correr atrás
das realizações dos outros.
“A obediência é o consentimento da razão”. Quem consente alguma
coisa permite que se faça ou não, conforme achar conveniente à sua maneira
de agir e pensar. “A resignação é o consentimento do coração”, ou melhor, os
sentimentos falarão mais alto e a criatura abdicará o seu direito em favor de
alguém, ou de uma causa, por livre e espontânea vontade, já que o direito era
de sua competência.
Efetivamente, a obediência e a resignação, virtudes às quais Jesus de
Nazaré se referia, não são aquelas que “os homens as confundem
erradamente com a negação do sentimento e da vontade”, conforme bem
define o espírito Lázaro no texto em reflexão.
Lembremo-nos, portanto, de que servir nem sempre será considerado
virtude, visto que essa postura de nossa parte pode simplesmente estar
camuflando uma obrigação compulsiva de agradar a todos, bem como pode
estar desviando-nos de nossa real missão na Terra, que é crescer e
amadurecer espiritualmente.

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