domingo, 4 de dezembro de 2011

Tudo é Relativo

"Meus irmãos, qual é o proveito se alguém disser que tem fé, mas não tiver obras? Pode, acaso, semelhante fé salvá-lo?"
Tiago, 2:14
A linguagem empregada para iniciados é bem diferente da que é empregada a profanos. Tiago fala, neste texto, para irmãos dotados de conhecimentos espirituais bastante acentuados, em se referindo à doutrina do Cristo.
O pregador do Evangelho, o escritor espiritualista, o anunciador das verdades espirituais, que usa de variados meios para isso, e deve, pelo menos, entrar na grande escola da exemplificação daquilo que expõe para os outros, senão incorrerá no velho erro: “Faça o que ensino e não faça o que faço.”
A fé desses espíritos deve estar vinculada a obras, para que não seja morta. No entanto, ante os irmãos que se iniciam na escola espiritual, não podemos exigir deles a mesma coisa que a um velho lidador com os ensinamentos do Evangelho que tem obrigação de conhecer e viver. Da mesma forma, não podemos esperar de uma criança os conhecimentos de um adulto, o discernimento de um velho, a sabedoria de um sábio ou a vida de um santo. Todo conhecimento é relativo ao tamanho espiritual de cada um; mesmo entre os sábios, há uns que sobressaem mais que os outros.
Para quem está começando na fé, a vida não exige que ele imediatamente tenha obras; deve se firmar na fé da maneira que achar conveniente, e deixar que o tempo trabalhe nele, mas nunca deixando de alimentá-la com os recursos que possui, pois essa fé, igual a todas as outras coisas, vai crescendo, vai se expandindo, e algum dia tornar-se-á grande e verdadeira, igual à dos anjos e poderá, com as bênçãos de Deus, transportar as montanhas das imperfeições, se existirem ainda no seu coração.
Tudo no mundo exterior e interior, para se expressar como realidade e com superioridade, teve antes seu início, como um “quase nada”, na vida, e foi com o tempo, com o esforço, e ajuda de Deus, que se tornou elevado, perfeito e puro, que se transmutou em verdade.
Que se dê início às boas qualidades no coração, alimentando-as como puder, e esforçando-se constantemente, que, amanhã, os esforços serão recompensados com a vitória do bem.
A relatividade é uma lei de Deus em todos os campos do saber. Somente o Criador de todas as coisas é absoluto em todos os sentidos. Todos nós adquirimos mais ou menos virtudes; nunca as conhecemos em sua totalidade, nem as vivemos na sua plenitude, porquanto todos nós somos aprendizes eternos, sempre carecendo de novos conhecimentos. Um homem caridoso ao ser comparado a um anjo, pode se dizer que ainda tem grandes coisas do malfeitor; uma mãe, com toda sua ternura para com seus filhos, com o amor mais puro pode dispor em favor dos seus rebentos, ante os espíritos puros, carrega consigo muito egoísmo, demasiadas exigências, que desnaturam o amor verdadeiro. Por aí se vê a relatividade desse sentimento, e os demais não podem deixar de obedecer às mesmas leis.
A fé sem obras é morta, assinala o apóstolo Tiago, mas essa fé, para atingir as obras, necessário se faz que a cultivemos no calor do coração, como se estivesse mesmo morta, para depois viver eternamente na sua plenitude.
Os rudimentos da fé, como de todas as virtudes, não podem ser desprezados, senão, nunca mais adquirimos os definitivos. Também poderíamos, no fulgor filosófico, declarar que uma árvore que não desse madeira para as construções, que não fornecesse os elementos necessários para medicamentos, ou frutos, seria inválida, senão morta; todavia, a tenra plantinha, se bem cuidada, poderá ser verdadeira árvore, no futuro, ofertando todas essas qualidades exigidas e muito mais, dependendo do nosso interesse em ajudá-la a crescer.
Assim também é o ser humano, em todas as suas faculdades: na fé, no amor e na sabedoria, essas qualidades verdadeiras, não se expressam de uma vez com um passe de mágica: dependem de tempo e maturidade, necessitando do esforço próprio e do ambiente para crescerem e prosperarem. E para que isso aconteça, é indispensável a tolerância dos que já adquiriram as virtudes evangélicas, a compreensão dos homens de fé, o incentivo dos espíritos que já entenderam o amor e a amizade permanente dos seres, que já conquistaram a verdadeira sabedoria, sem o que, atrofiaremos nos caminhos, bem antes de dar nascimento ao bem mai puro em nós, e eis que se assim acontecesse, seria falta de caridade, de amor e de sabedoria daqueles que estivessem representando o Evangelho na Terra, na expressão luminosa da exemplificação.
A fé sem obras não tem sentido para os iniciados nas verdades eternas; no entanto, a fé cega representa o germe da fé verdadeira, que mais tarde terá poder de transportar, não somente montanhas, como oferecer-nos-á meios de salvarmos a nós mesmos.
Não desprezemos nada que tenha os rudimentos do bem; procuremos cultivá-los, que o futuro há de nos premiar. Não nos esqueçamos de que Tiago falava para os iniciados na verdade da fé:
Meus irmãos, qual é o proveito se alguém disser que tem fé, mas não tiver obras? Pode, acaso, semelhante fé irá salvá-lo?
Miramez
Por João Nunes Maia
Livro: O Mestre dos Mestres

Nenhum comentário:

Postar um comentário