“Perdoar aos inimigos é pedir perdão para si mesmo...
“... porque se sois duros, exigentes, inflexíveis, se tendes rigor
mesmo por uma ofensa leve, como quereis que Deus esqueça que, cada
dia, tendes maior necessidade de indulgência?... “
“... porque se sois duros, exigentes, inflexíveis, se tendes rigor
mesmo por uma ofensa leve, como quereis que Deus esqueça que, cada
dia, tendes maior necessidade de indulgência?... “
Nossas reações perante a vida não acontecem em função apenas dos
estímulos ou dos acontecimentos exteriores, mas também e sobretudo de
como percebemos e julgamos interiormente esses mesmos estímulos e
acontecimentos. Em verdade, captamos a realidade dos fatos com nossas mais
íntimas percepções, desencadeando, conseqüentemente, peculiares emoções,
que serão as bases de nossas condutas e reações comportamentais no futuro.
Portanto, nossa forma de avaliar e de reagir e, as atitudes que tomamos
em relação aos outros, conceituando-os como bons ou maus, é determinada
por um sistema de autocensura que se encontra estruturado em nossos “níveis
de consciência” mais profundos.
Toda e qualquer postura que assumimos na vida se prende à maneira de
como olhamos o mundo fora e dentro de nós, a qual pode nos levar a uma
sensação íntima de realização ou de frustração, de contentamento ou de culpa,
de perdão ou de punição, de acordo com o “código moral” modelado na
intimidade de nosso psiquismo.
Esse ‘julgador interno” foi formado sobre as bases de conceitos que
acumulamos nos tempos passados das vidas incontáveis, também com os pais
atuais, com os ensinamentos de professores, com líderes religiosos, com o
médico da família, com as autoridades políticas de expressão, com a
sociedade enfim.
Também, de forma sutil e quase inconsciente, no contato com
informações, ordens, histórias, superstições, preconceitos e tradições
assimilados dos adultos com quem convivemos em longos períodos de nossa
vida. Portanto, ele, o julgador interno, nem sempre condiz com a realidade
perfeita das coisas.
Essa “consciência crítica”, que julga e cataloga nossos feitos,
autocensurando ou auto-aprovando, influencia a criatura a agir do mesmo
modo que os adultos agiram sobre ela quando criança, punindo-a, quando não
se comportava da maneira como aprendeu a ser justa e correta; ou dando toda
uma sensação de aprovação e reconforto, quando ela agia dentro das
propostas que assimilou como sendo certas e decentes.
A gênese do não-perdão a si mesmo está baseada no tipo de
informações e mensagens que acumulamos através das diversas fases de
evolução de nossa existência de almas imortais.
Podemos experimentar culpa e condenação, perdão e liberdade de
acordo com os nossos valores, crenças, normas e regras, vigentes, podendo
variar de indivíduo para indivíduo, conforme seu país, sexo, raça, classe social,
formação familiar e fé religiosa. Entendemos assim que, para atingir o
autoperdão, é necessário que reexaminemos nossas convicções profundas
sobre a natureza do nosso próprio ser, estudando as leis da Vida Superior,bem como as raízes da educação que recebemos na infância, nesta existência.
Uma das grandes fontes de auto-agressão vem da busca apressada de
perfeição absoluta, como se todos devêssemos ser deuses ou deusas de um
momento para outro. Aliás, a exigência de perfeição é considerada a pior
inimiga da criatura, pois a leva a uma constante hostilidade contra si mesma,
exigindo-lhe capacidades e habilidades que ela ainda não possui.
Se padrões muito severos de censura foram estabelecidos por pais
perfeccionistas à criança, ou se lhe foi imposto um senso de justiça implacável,
entre regulamentos disciplinadores e rígidos, provavelmente ela se tornará um
adulto inflexível e irredutível para com os outros e para consigo mesmo.
Quando sempre esperamos perfeição em tudo e confrontamos o lado
“inadequado” de nossa natureza humana, nos sentirenos fatalmente diminuídos
e envolvidos por uma aura de fracasso. Não tomar consciência de nossas
limitações é como se admitíssemos que os outros e nós mesmos devêssemos
ser oniscientes e todo-poderosos. Afirmam as pessoas: “Recrimino-me por ter
sido tão ingênuo naquela situação...”; “Tenho raiva de mim mesmo por ter
aceitado tão facilmente aquelas mentiras...” “Deveria ter previsto estes
problemas atuais”; “Não consigo perdoar-me, pois pensei que ele mudaria...”.
São maneiras de expressarmos nossa culpa e o não-perdão a nós mesmos -
exigências desmedidas atribuídas às pessoas perfeccionistas.
Os viciados em perfeição acham que podem fazer tudo sempre melhore,
portanto, rejeitam quase tudo o que os outros fazem ou fizeram. Não aceitam
suas limitações e não enxergam a “perfeição em potencial” que existe dentro
deles mesmos, perdendo assim a oportunidade de crescimento pessoal e de
desenvolvimento natural, gradativo e constante, que é a técnica das leis do
Universo.
A desestima a nós próprios nasce quando não nos aceitamos como
somos. Somente a auto-aceitação nos leva a sentir plena segurança ante os
fatos e ocorrências do cotidiano, ainda que os indivíduos ao nosso redor não
entendam nossas melhores intenções.
O perdão concede a paz de espírito, mas essa concessão nos escapará
da alma se estivermos presos ao desejo de dirigir os passos de alguém, não
respeitando o seu propósito de viver.
Devemos compreender que cada um de nós está cumprindo um destino
só seu, e que as atividades e modos das outras pessoas ajustam-se somente a
elas mesmas. Estabelecer padrões de comportamento e modelos idealizados
para os nossos semelhantes é puro desrespeito e incompreensão ante o
mecanismo da evolução espiritual. Admitir e aceitar os outros como eles são
nos permite que eles nos admitam e nos aceitem como somos.
Perdoar-nos resulta no amor a nós mesmos - o pré-requisito para
alcançarmos a plenitude do “bem viver”.
Perdoar-nos é não importar-nos com o que fomos, pois a renovação
está no instante presente; o que importa é como somos hoje e qual é nossa
determinação de buscar nosso progresso espiritual.
Perdoar-nos é conviver com a mais nítida realidade, não se distraindo
com ilusões de que os outros e nós mesmos “deveríamos ser” algo que
imaginamos ou fantasiamos.
Perdoar-nos é compreender que os que nos cercam são reflexos de nós
mesmos, criações nossas que materializamos com nossos pensamentos e
convicções íntimas.
O texto em estudo - “Perdoar aos inimigos é pedir perdão para si
mesmo” - quer dizer: enquanto não nos libertarmos da necessidade de castigar
e punir o próximo, não estaremos recebendo a dádiva da compreensão para o
autoperdão.
Adaptando o excerto do apóstolo Paulo às nossas vidas, perguntamonos:
“...porque se sois duros, exigentes, inflexíveis, se tendes rigor mesmo por
uma ofensa leve...”, como haveremos de criar oportunidades novas para que o
“Divino Processo da Vida” nos fecunde a alma com a plenitude do Amor e,
assim, possamos perdoar-nos?
Gostei demais. Acho mesmo que a gente se pune demais. Eu mesmo tenho muita dificuldade de me perdoar. De me aceitar como sou. Talvez seja esse o problema de muitas pessoas.
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