sábado, 18 de agosto de 2012

O ADOLESCENTE E O SEU PROJETO DE VIDA

A partir de Freud o conceito de sexo sofreu uma quase radical
transformação. O eminente Pai da Psicanálise procurou demonstrar que a
sexualidade é algo maior do que se lhe atribuía até então, quando reduzida
somente à função sexual. Ficou estabelecido que a mesma tem muito mais a
ver com o indivíduo no seu conjunto, do que específica e unicamente com o
órgão genital, exercendo uma forte influência na personalidade do ser.
Naturalmente, houve excesso na proposta em pauta, nos seus primórdios,
chegando-se mesmo ao radicalismo, que pretendia ser a vida uma função
totalmente sexual, portanto, perturbadora e conflitiva.
Sempre se teve como fundamental que a vida sexual tinha origem na
puberdade, no entanto, sempre também se constataram casos de
manifestações prematuras do sexo, em razão do amadurecimento precoce das
glândulas genésicas.
A Freud coube a tarefa desafiadora de demonstrar a diferença existente
entre a glândula genital, responsável pela função procriadora, e a de natureza
sexual, que se encontra ínsita na criança desde o seu nascimento,
experimentando as naturais transformações que culminariam na sexualidade
do ser adulto. Ainda, para Freud, a função de natureza sexual é resultado da
aglutinação de diversos instintos — heranças naturais do trânsito do ser pelas
fases primárias da vida, nas quais houve predominância da natureza animal,
portanto, instintiva que se vão transformando, organizando e completando-se
até alcançarem o momento da reprodução, igualmente ligada àquele período
inicial da evolução dos seres na Terra.
No transcurso desse desenvolvimento dos denominados instintos
parciais, muitos fatores ocorrem naturalmente, sendo asfixiados, transferidos
psicologicamente, alterados, dando nascimento a inúmeros conflitos da
personalidade. A personalidade, desse modo, é o resultado de todas essas
alterações que sucedem nas faixas primeiras da vida e que são modificadas,
transformadas e orientadas de forma a construir o ser equilibrado.
Trata-se, portanto, de uma força interior que se desenvolve no ser
humano e quase o domina por inteiro, estabelecendo normas de conduta e de
atividade, que o fazem feliz ou desventurado, saudável ou enfermo.
Para entender esse mecanismo é indispensável remontar às
reencarnações anteriores por onde deambulou o Espírito, que se torna herdeiro
do patrimônio das suas ações, ora atuantes, como desejos, tendências,
manifestações sexuais impulsivas ou controladas.
Houvesse, o eminente vienense, recuado à ancestralidade do ser imortal,
superando o preconceito que lhe hipertrofiava a visão científica, reduzindo-a,
apenas, à matéria, e teria conseguido eqüacionar de forma mais segura os
problemas do sexo e da sexualidade.
Não obstante, essa força poderosa é que, de certa forma, influencia a
vida, no campo das sensações, levando a resultados emocionais que se
estabelecem no psiquismo e comandam a existência humana que, mal
orientada, pouco difere da animal.
É nesse período, na adolescência, que se determinam os programas, os
projetos de vida que se tornarão realidade, ou não, de acordo com o estado
emocional do jovem.
Convencionou-se que esses programas existenciais devem ser
estruturados na visão ainda imediatista, isto é, no amealhar de uma fortuna, no
desfrutar do conforto material, no adquirir bens, no ter segurança no trabalho,
na liberalidade afetiva, no prazer... Muitos programas têm sido estabelecidos
dentro desses limites, que pareceram dar certo no passado, mas frustraram
pessoas que se estiolaram na amargura, no desconforto moral, na ansiedade
mal contida.
O ser humano destina-se a patamares mais elevados do que aqueles que
norteiam o pensamento materialista, quais sejam, o equilíbrio interior, o
domínio de si mesmo, o idealismo, a harmonia pessoal, a boa estruturação
psicológica, e, naturalmente, os recursos materiais para tornar esses
propósitos realizáveis.
Para tanto, o propósito de vida do jovem deve centrar-se na busca do
conhecimento, na vivência das disciplinas morais, a fim de preparar-se para as
lutas nem sempre fáceis do processo evolutivo, na reflexão, também na alegria
de viver, nos prazeres éticos, na recreação, nos quais encontra resistência e
renovação para os deveres que são parte integrante do seu processo de
crescimento pessoal.
Somente quem se dispõe a administrar os desafios, consegue planar
acima das vicissitudes, que passam a ter o significado que lhes seja atribuído.
Quando se dá a inversão de metas, ou seja, a necessidade de gozo e de
desfrutar de todas as comodidades juvenis, antes de equipar-se de valores
morais e de segurança psicológica pelo amadurecimento das experiências e
vivências, inevitavelmente o sofrimento, a
insatisfação, a angústia substituem os júbilos momentâneos e
vãos.
O adolescente atual é Espírito envelhecido, acostumado a realizações,
nem sempre meritórias, o que lhe produz anseios e desgostos aparentemente
inexplicáveis, insegurança e medo sem justificativa, que são remanescentes de
sua consciência de culpa, em razão dos atos praticados, que ora veio reparar,
superando os limites e avançando com outro direcionamento pelo caminho da
iluminação interior, que é o essencial objetivo da vida.
O projeto de uma vida familiar, de prestígio na sociedade, de realizações
no campo de atividades artísticas ou profissionais, religiosas ou filosóficas, é
credor de carinho e de esforço, porque deve ser fixado nos painéis da mente
como desafio a vencer e não como divertimento a fruir. Todo o esforço, em
contínuo exercício de fazer e refazer tarefas; a decisão de não abandonar o
propósito em tela, quando as circunstâncias não forem favoráveis; o controle
dos impulsos que passarão a ser orientados pela razão, ao invés de
encontrarem campo na agressividade, na violência, no abuso juvenil,
constituem os melhores instrumentos para que se concretize a aspiração e se
torne realidade o programa da existência terrena.
O adolescente está em formação e, naturalmente, possuindo forças que
devem ser canalizadas com equilíbrio para que não o transtornem, necessita
de apoio e de discernimento, de orientação familiar, porque lhe falta a
experiência que melhor ensina os rumos a seguir em qualquer tentame de vida.
Nesse período, muitos conflitos perturbam o adolescente, quando tem em
mira o seu projeto de vida ainda não definido. Surgem-lhe dúvidas atrozes na
área profissional, em relação ao que sente e ao que dá lucro, ao que aspira e
ao que se encontra em moda, àquilo que gostaria de realizar e ao aspecto
social, financeiro da escolha... Indispensável ter em mente que os valores
imediatos sempre são ultrapassados pelas inevitáveis ocorrências mediatas,
que chegarão, surpreendendo o ser com o que ele é, e não apenas em relação
ao que ele tem.
Caracteriza-se aqui a necessidade da auto-realização em detrimento do
imediato possuir, que nem sempre satisfaz interiormente.
Há muitas pessoas que têm tudo quanto a vida oferece aos triunfadores
materiais, e, no entanto, não se encontram de bem com elas mesmas.
Outrossim, possuem tesouros que trocariam pela saúde; dispõem de haveres
que doariam para fruírem de paz; desfilam nos carros de ouro dos aplausos e
prefeririam as caminhadas afetivas entre carinho e segurança emocional...
Desse modo, o projeto existencial do adolescente não pode prescindir da
visão espiritual da vida; da realidade transpessoal dele mesmo; das aspirações
do nobre, do bom e do belo, que serão as realizações permanentes no seu
interior, direcionando-lhe os passos para a felicidade.
Os haveres chegam e partem, são adquiridos ou perdidos, porém, o que
se é, permanece como diretriz de segurança e mecanismo de paz, que nada
consegue perturbar ou modificar.
Para esse cometimento, a boa orientação sexual faz-se indispensável na
fase de afirmação da personalidade do adolescente, como ocorre nos mais
diferentes períodos da vida física.

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