Quando
a doutora Elisabeth Kübler-Ross iniciou os seus estudos sobre a morte e
o morrer observou que, no hospital, havia uma faxineira que exercia
sobre os doentes um efeito todo especial.
Ela era negra e a doutora a encontrava, durante seus plantões, entrando e saindo dos quartos, limpando e limpando.
Aquela
mulher nunca cursou uma universidade, mas com certeza sabia um grande
segredo. Cada vez que ela saía dos quartos, a doutora notava uma
sensível diferença em seus pacientes.
Finalmente, certo dia, cruzando com ela no corredor, lhe perguntou: O que é que você está fazendo com os meus pacientes terminais?
Nas
semanas seguintes, a doutora Elisabeth literalmente espionou a
faxineira. Até que um dia, a faxineira se aproximou dela, levou-a para
trás de um balcão e, quando estavam totalmente a sós, falou:
Doutora, cresci na pobreza e na miséria. Minha casa é um cortiço e as crianças vivem doentes.
Um
dia, meu menino de três anos ficou com pneumonia. Eu o levei ao setor
de emergência do hospital mais próximo, mas não fui atendida porque
estava devendo dez dólares ali.
Fui
até o hospital onde aceitavam indigentes. Entrei numa sala cheia de
gente como eu. Esperei... Esperei... Depois de três horas sentada,
aguardando a vez de ser atendida, vi meu filho arquejar, sufocar e
morrer, enquanto eu o embalava nos braços.
Sabe, doutora, a morte não é uma estranha para mim. É uma velha conhecida, de muito tempo. Não tenho mais medo dela.
Embora
rememorando todos aqueles acontecimentos, a faxineira não demonstrava
amargura ou negatividade. Havia nela somente uma grande tristeza. E isso
causou admiração na Doutora Elisabeth.
Com a voz calma e mansa, concluiu a mulher: Quando
entro no quarto de alguns pacientes, vejo que eles estão petrificados
de medo e não têm ninguém com quem falar. Daí, chego perto deles. Muitas
vezes até seguro suas mãos e digo a eles que não se preocupem, que não é
tão horrível assim.
Estava
revelado o segredo da faxineira: a sua grande sabedoria. Pouco tempo
depois, a Doutora Elisabeth a promoveu a sua principal assistente. E foi
ela, precisamente, quem proporcionou apoio à pesquisadora da morte e do
morrer, exatamente quando médicos, universitários e sábios não estavam
dando o mínimo crédito àquelas pesquisas, que deram nascimento à Tanatologia, o estudo da morte.
* * *
Não
precisamos de conselheiros especiais para crescer. Existem mestres e
professores por toda a parte. Crianças em sua inocência, doentes
terminais em seus leitos de morte, pessoas simples com muita sabedoria,
como a faxineira desta história.
O importante é estar atento às pessoas e às lições.
Em verdade, nenhuma
teoria ou ciência do mundo ajuda tanto uma pessoa quanto um outro ser
humano que não tem medo de abrir o coração para seu semelhante.
roda da vida, de Elisabeth Kübler-Ross, ed. Sextante.
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