segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

CONFLITO AFETIVO

Na área das manifestações afetivas, o desenvolvimento da percepção
deve dar-se de maneira espontânea, sem qualquer tipo de manipulação dos
sentimentos.
Inata, em a criatura humana, a afetividade é fundamental para um
desenvolvimento emocional saudável, respondendo pela felicidade e autorealização
do ser.
A imaturidade dos adultos, não raro, desde cedo, por mecanismo de
transferência de sentimentos conflitivos, procura adquirir o afeto da criança
mediante a sedução, que conduz, no íntimo, algum distúrbio da libido.
Naturalmente, esses, que assim se comportam, como muitos pais, não têm
conhecimento da relação subjacente de conotação sexual.
Incapaz de compreender a sedução de que se faz objeto, a criança se
sente impossibilitada de exercer o critério da livre escolha, ou de fazer
exigências naturais para a conquista do que lhe resulta em prazer. Quando o
consegue, descobre a maneira de chantagear, passando a mascarar os seus
sentimentos e derrapando em interesses subalternos. Essa conduta propõe um
dilema no processo psicológico da mesma, que é a dificuldade de como agir,
de forma que a si mesma se agrade, sem desatender àquele que lhe
proporciona prazer, embora por meio de astúcia, de ser livre e escolher a
própria satisfação de maneira segura.
Nesse jogo de afetividade doentia, surge a rejeição como mecanismo
punitivo, no qual o medo de ser descoberto pelo sentimento perturbador que
mantém, pune o ser que seduz, por haver-se tornado instrumento de gozo e de
possível sofrimento.
Esse distúrbio resulta da carência que experimentam alguns adultos, que
transferem, de imediato, para a prole, essa necessidade afetiva, passando a
seduzir os filhos, não raro, amando-lhes os corpos, o contato físico, em razão
da repulsa que sentem pelo próprio.
Conduta de tal natureza, além de afligir a criança e perturbar-lhe o
desenvolvimento psicológico saudável, contribui para que surjam conflitos afetivos.
Poderá manter ojeriza pelo corpo, caso tenha observado o dos pais,
especialmente se são exibicionistas, e o apresentam com o pretexto de darem
início a uma educação sexual, que ocorre no momento inadequado. A criança
pode ser tomada de pavor em verificar como ficará na idade adulta, passando a
realizar um conflito castrador, notando a ausência de beleza no corpo adulto.
Porque ainda éincapaz de entender estética e harmonia, a exibição física dos
pais ou de outro adulto qualquer, poderá provocar um sentimento de anulação
do próprio corpo, passando a abandoná-lo, mesmo que inconscientemente.
O esquizóide, por exemplo, nega o corpo e assume, quase sempre, uma
postura infantil e de incapacidade.
Somente o amor real, destituído de interesses perturbadores, consegue
irradiar a luz da harmonia entre as criaturas. Será ele que oferecerá recursos
para uma conduta saudável, pela força intrínseca de que é portador, anulando
a possibilidade da instalação de conflitos.
Mesmo o esquizóide não se encontra imune ao amor. Tem dificuldade de
amar, é certo, porém é receptivo ao amor. Quando este se lhe acerca, transforma-
o, o ego nele predominante abandona sua hegemonia, facultando que
fique à disposição da outra pessoa.
Nesse estado, aquele que ama, não somente vive um sentimento de união
com o ser amado, como também com tudo e com todos, em um estado de
perfeita identificação. Alteram-se, ante as suas emoções, os painéis da
natureza, e a vida flui de forma generosa, harmônica.
Indispensável que a conduta se encontre estabelecida entre parâmetros
que definam como agir e como vivenciar as próprias experiências.
O conhecimento oferece recursos hábeis para o cometimento. No entanto,
a espontaneidade não deve ser banida dessa conquista, em razão dos
benefícios que proporciona. Uma atitude natural é muito mais valiosa do que
aquela que se fez estruturar artificialmente, oferecendo uma postura
robotizada.
Por isso, o treinamento não pode eliminar a possibilidade das reações
normais, o que tornaria os gestos totalmente destituídos de encantamento e
naturalidade.
Certamente, se deve pensar antes de agir, particularmente quando se é
defrontado por circunstâncias e ocorrências importantes. Todavia, o gesto afetivo
espontâneo consegue muito mais do que as artimanhas e elaborações do
intelecto. Ademais, o sentimento puro irradia-se e conquista, enquanto a atitude
estudada oferece gentileza mas não espontaneidade.
O conhecimento exerce um grande valor na conduta afetiva, no entanto, o
estabelecimento de regras presentes em manuais de como conquistar pessoas,
de como mantê-las vinculadas, constitui um perigo para a própria
expressão do amor, que se torna artificial, desinteressante, em razão de
considerar-se o outro como objeto de uso, de exploração que, após preencher
a finalidade, pode, a qualquer momento, ser deixado à margem.
Destacam-se dois elementos na área da afetividade que não podem ser
desconsiderados: o conhecimento e o sentimento. O conhecimento amplia os
horizontes, mas o sentimento vivencia-os. O conhecimento liberta, porém o
sentimento dá calor e vida.
Não seria fácil estabelecer uma escala de valores para demonstrar qual
dos dois é mais importante na estruturação da vida afetiva. Deve-se, no
entanto, ter em conta que o amor trabalhado mediante fórmulas é destituído de
luz e de calor, com duração efêmera, podendo saturar com rapidez.
Por outro lado, o sentimento sem controle escraviza, perturbando a função
afetiva com exigências descabidas, principalmente se o ego comanda a conduta.
Ideal, portanto, que o ato afetivo seja espontâneo, sem fórmulas, com
respeito e doação, com calor e sem ardência, o que se consegue mediante a
educação do sentimento.
Costuma-se afirmar que o coração não pode ser educado, o que é
verdade, no entanto, podem ser orientadas as explosões do ego como
necessidade afetiva.
Seria desejável que essa proposta de educação dos sentimentos,
começada no lar, prosseguisse na escola, de forma que a criança pudesse
experienciar a afetividade sem afetação, sem sedução, evitando-se, por
conseqüência, o fenômeno da rejeição.
Nesse programa educativo, seria viável que se retomasse a
espontaneidade, ao lado do currículo estabelecido sem rigidez, para que se
logre, na competitividade do grupo social, a produção e a conquista de
recursos financeiros compensadores para o ego e realizadores para o Self.
Todo recurso de sedução é prejudicial, em razão da falta de autenticidade
afetiva, propondo conflitos, perfeitamente dispensáveis.

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