Além de poeta, Carlos Drummond de Andrade foi cronista, contista e tradutor. Sua obra traduz a visão de um individualista comprometido com a realidade social.
Em 1928, Drummond publicou na, "Revista de Antropofagia" de São Paulo, o poema No Meio do Caminho, provocando um escândalo com a crítica da imprensa. Diziam que aquilo não era poesia e sim uma provocação pela repetição do poema, como também pelo uso de "tinha uma pedra" em lugar de "havia uma pedra":
no meio do caminho tinha uma pedra.
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
no meio do caminho tinha uma pedra.
Também fazem parte do livro os poemas: No Meio do Caminho, Cidadezinha Qualquer e Quadrilha, tipo de poema em que o amor, antes de ser descrito é questionado e revela um sentido oculto, o amor como desencontro:
Quadrilha
João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.
Em 1934, Carlos Drummond lançou seu segundo livro Brejo das Almas, quando o poeta abandona o descritivismo e acentua o humor e a ironia nos seus versos, como no poema Política Literária dedicado a Manuel Bandeira:
Política Literária
O poeta municipal
discute com o poeta estadual
qual deles é capaz de bater o poeta federal.
Enquanto isso o poeta federal
tira ouro do nariz.
Anos 40
Em 1940, Drummond publicou Sentimento do Mundo, quando se coloca solidário com os homens. A destruição provocada pela Guerra Mundial o levou a expressar um desejo intenso de reconstruir o mundo. O poema a seguir é um dos mais significativos poemas de Drummond:
Mundo Grande
Não, meu coração não é maior que o mundo.
É muito menor.
Nele não cabe nem as minhas dores.
Por isso gosto tanto de me contar. Por isso me dispo, Por isso me grito,
por isso frequento os jornais, me exponho cruamente nas livrarias:
preciso de todos. (...)
Em 1942, ano em que o Brasil entrou na Segunda Guerra, ele publicou o livro José, que inclui o poema do mesmo nome, mostrando a figura anônima de um personagem que vive em um contexto burocrático:
José
E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José? (...)
Em 1945, Drummond publicou o livro de poemas A Rosa do Povo, no qual condena a vida mecanizada e desumana de seus dias e espelha uma carência de um mundo certo pautado na justiça que venha substituir a falta de solidariedade de seu momento.
A poesia de caráter social publicada por Drummond, assumiu nova dimensão e seus temas preferidos foram: a angústia dos seres escravos do progresso, o medo, o tédio e a solidão do homem moderno. A Rosa do Povo é ao mesmo tempo um misto de condenação e exaltação, porque existe a esperança de um mundo melhor:
A Rosa do Povo
Uma flor nasce na rua!
Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem os negócios,
garanto que uma flor nasceu.
Em 1946, Drummond foi premiado pela Sociedade Felipe de Oliveira, pelo conjunto da obra.
Anos 50 e 60
Com a publicação da obra Claro Enigma (1951), a criação poética de Drummond segue duas orientações: de um lado a poesia reflexiva, filosófica e metafísica, na qual aparecem com frequência os temas da morte e do tempo e, de outro lado, a poesia nominal, com tendências ao Concretismo, em que ressalta a preocupação com recursos fônicos, visuais e gráficos do texto.
Na obra Lição de Coisas (1962), o poeta é tomado pela poesia nominal, muito próxima da filosófica, em cuja linguagem, o verso e a palavra são desintegrados com o uso constante de neologismos, alienações e rupturas sintáticas que se aproximam do Concretismo, embora o poeta não tenha admitido. Os versos a seguir mostram essa orientação:
O árvore a mar
o doce de pássaro
a passa de pêsame
o cio da poesia
a força do destino
A pátria a saciedade
o cudelume Ulalume
o zumzum de Zeus
o bômbix
o ptys
Anos 70 e 80
Nas décadas de 70 e 80, a produção poética de Drummond deu um amplo destaque ao universo da memória, quando são representadas por temas universais e temas que nortearam toda sua obra, como a infância, Itabira, o pai, a família etc. É o que se observa nas obras Menino Antigo, As Impurezas do Branco, Amor Amores, Corpo, A Paixão Medida e outras.
Prosas, contos e crônicas
Carlos Drummond de Andrade foi um poeta, cronista, contista e tradutor. Sua obra traduz a visão de um individualista comprometido com a realidade social.
Em 1942 publicou o livro de prosa Confissão de Minas. Em 1950, Drummond estreou como ficcionista com a obra Contos de Aprendiz.
Desde 1954, Drummond colaborava, como cronista, no "Correio da Manhã". A partir do início de 1969, passou a escrever para o "Jornal do Brasil".
Em 1967, para comemorar os 40 anos do poema "No Meio do Caminho", Drummond reuniu extenso material publicado sobre ele, e lançou Uma Pedra no Meio do Caminho - Biografia de um Poema.
Características da Obra de Drummond
Poeta da Segunda Geração Modernista, ou a maior figura da “Geração de 30”, embora tenha escrito ótimos contos e crônicas, Carlos Drummond se destacou como poeta.
A poesia publicada durante a Segunda Geração Modernista foi essencialmente uma poesia de questionamento em torno da existência humana, do sentimento de estar no mundo, das inquietações sociais, religiosa, filosófica e amorosa e, Drummond é o poeta que melhor representa essa geração.
Seu estilo poético é permeado por traços de ironia, observações do cotidiano, de pessimismo diante da vida e de humor. Drummond fazia verdadeiros "retratos existenciais" e os transformava em poemas com incrível maestria. Foi também tradutor de autores como Honoré de Balzac, Federico Garcia Lorca e Molière.
Família
Drummond foi casado com Dolores Dutra de Morais, e foi pai de Maria Julieta Drummond de Andrade e de Carlos Flávio Drummond de Andrade, em 1950, viajou para a Argentina para o nascimento de seu primeiro neto, filho de Julieta.
Carlos Drummond de Andrade morreu no Rio de Janeiro RJ, no dia 17 de agosto de 1987, poucos dias após a morte de sua filha única, a cronista Maria Julieta Drummond de Andrade.
Cinema e música
A riqueza de sua obra foi descoberta por artistas do cinema. Argumentos de filmes foram tirados de seus poemas, como O Padre e a Moça, do cineasta Joaquim Pedro de Andrade.
A música popular brasileira adaptou vários de seus versos para a melodia, como o poema José, gravado por Paulo Diniz.
O poema Canção Amiga foi musicado por Milton Nascimento no disco Clube da Esquina 2, em 1978.
Os versos de Sonho de um Sonho foram tema enredo de escola de samba, adaptados por Martinho da Vila.
Obras de Carlos Drummond
Poesias
Alguma Poesia (1930)
Brejo das Almas (1934)
Sentimento do Mundo (1940)
Poesias (1942)
A Rosa do Povo (1945)
Poesia até Agora (1948)
Claro Enigma (1951)
Viola de Bolso (1952)
Fazendeiro do Ar & Poesia Até Agora (1953)
Poemas (1959)
A Vida Passada a Limpo (1959)
Lições de Coisas (1962)
Boitempo (1968)
Menino Antigo (1973)
As Impurezas do Branco (1973)
Discurso da Primavera e Outras Sombras (1978)
O Corpo (1984)
Amar se Aprende Amando (1985)
Prosas
Confissões de Minas (1942)
Contos de Aprendiz (1951)
Passeios na Ilha (1952)
Cadeira de Balanço (1970)
Moça Deitada na Grama (1987)
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