Decadência dos povos ***

 

(Grupo do Sr. Golovine. Médium Sr. Desliens, dia 24 de janeiro de 1866.)1


 


   "Pergunta-se com frequência, sem solução satisfatória, a quê atribuir o impulso que  tomam em certos povos, as ciências físicas, morais e políticas, a filosofia e a civilização.


   A humanidade parece, aqui e ali, destinada a chegar ao auge dos conhecimentos, mas em seguida um sopro poderoso de aparente degenerescência vem destruir, em alguns anos, a aquisição de tantos séculos de suores intelectuais.


   Assim se sucedem constantemente, ignorância, instrução, civilização, barbárie! E sempre a roda dos séculos, animada de um movimento incessante, faz surgir esse panorama sempre novo aos olhos dos pensadores espantados.


   É dado então ao homem o poder de adquirir, apenas para que retorne sempre a um nível inferior? A instabilidade seria uma lei da natureza em razão da qual o Espírito está, alternadamente, abaixo e no topo da escala inteligente? Como dar-se conta de semelhante anomalia? Repete-se à saciedade: o progresso é uma lei natural, fatal, cuja ação é incessante, e os fatos parecem tomar a tarefa de derrubar os andaimes estabelecidos pela teoria e admitidos pela razão!...


   Confesso que, sem os novos ensinamentos promulgados pelos Espíritos superiores, sob a égide do Espiritismo, eu ficaria bem embaraçado para dar-vos uma explicação satisfatória. Com esse poderoso concurso, tentarei fazer-me compreender.


   Para citar apenas um exemplo, como se explicaria a grandeza e a decadência de Roma, a cidade eterna que, após ter sido a senhora do mundo pelas armas, parece querer hoje eternizar seu império pela fé cega e a intolerância, a despeito das conquistas da inteligência e da razão?


   A simpatia, a comunhão de vistas, de sentimentos e de desejos, reúne uma aglomeração de Espíritos numa mesma cidade, num mesmo povo; todos juntos elaboram, numa sucessão de leis, em códigos morais e políticos, uma certa soma de conhecimento! Os costumes, inicialmente brutais e bárbaros, se abrandam por um comércio contínuo. A geração seguinte, compilando os trabalhos da geração que a precedeu, emprega os materiais acumulados como base em uma nova série de estudos; assim se acumulam verdade sobre verdade, luzes sobre luzes, progresso sobre progresso. - A nação insaciável parece não dever jamais se cansar de subir; depois, de repente, um degrau se quebra, e leis, ciência, civilização, são arrastadas por uma queda geral, para recomeçar penosamente uma nova gravitação na direção do objetivo comum: Deus!...


   Pode então o homem degenerar?2 O Espírito pode retrogradar e decair? Não, entretanto os Espíritos de um mundo são como uma grande e única família cujos membros chegam mais ou menos rapidamente, mas chegam sempre aos mesmos fins. Alguns, mais laboriosos, mais desejosos de saber, chegam mais rápido; chegados ao objetivo, ajudam os retardatários e os preguiçosos a se juntar a eles. - Quando um povo parece degenerar, ele ainda avança; ele é sempre um foco de inteligência e de progresso; todavia, aqueles que chegaram ao ápice, em relação à atmosfera inteligente ambiente, emigram em massa e deixam o lugar aos preguiçosos, aos atrasados.3 Estes últimos, inábeis e ainda jovens, ficam sujeitos à lei comum; eles se ferem com o que em outras mãos seria um instrumento de salvação. Eles violam a lei natural; essa lei reage contra eles e a torrente devastadora dos vícios policiados os ferem sem que sua inteligência, ainda rudimentar, lhes permita tirar aproveito das leis benfazejas acumuladas por seus antecessores."


 


Doutor Demeure.

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