Maria Tifóide: a portadora invisível ***

 

Maria Tifóide: a portadora invisível

No início do século XX, uma doença silenciosa percorria as casas da alta sociedade em Nova Iorque. Febre, sofrimento, morte... mas nenhum culpado visível. Ninguém imaginava que no centro do mistério estava uma cozinheira.

Mary Mallon nasceu na pobreza, em uma pequena cidade na Irlanda em 1869. Emigrou para os EUA com a esperança de uma vida melhor. Apesar de não falar bem inglês, logo encontrou trabalho em cozinhas de famílias ricas, onde o seu talento a tornou uma funcionária muito procurada.

Mas onde eu cozinhava... surgiram surtos de febre tifóide.

Em 1906, o investigador George Soper revelou a verdade: Mary era uma portadora saudável. Não apresentava sintomas, mas espalhou a doença sem saber. A descoberta mudou a história da medicina. Pela primeira vez, conhecia-se um caso de alguém que podia ser letal sem estar doente.

As autoridades isolaram-na em North Brother Island. A imprensa não teve piedade e deu-lhe um nome que nunca esqueceria: Maria Tifóide.

Passou três anos de quarentena. Depois foi libertada, com a promessa de nunca mais cozinhar. Mas a vida fora da ilha era difícil... Mary mudou de identidade e voltou ao seu ofício. Não por maldade, mas por necessidade.

Em 1915, outro surto denunciou-a.

Ela foi presa de novo. Desta vez, para sempre.

Viveu mais 23 anos naquela ilha, cozinhando só para o pessoal do hospital. Morreu em 1938. Alguns dizem que foi um AVC. Outros que a matou pelo esquecimento.

Hoje a sua história divide o mundo: foi irresponsável ou vítima de uma ciência imatura e de uma sociedade que a transformou em bode expiatório?

Seu legado é um aviso: nem sempre o perigo é visto. Nem sempre o culpado é culpado. E, muitas vezes, os nomes que marcam a história... também carregam sua injustiça.


Crônicas Históricas

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