— Filha, você vem no domingo? A gente faz aquele almoço que você gosta… — perguntou Seu Anselmo, com aquela voz mansa que só os pais têm, ao telefone, segurando o fôlego entre a esperança e a saudade.
— Ai, pai… tá tudo tão corrido aqui. Mil coisas pra resolver, trânsito um caos, as crianças cheias de compromisso... te ligo depois, tá bom?
— Tudo bem, minha filha… te espero quando der.
E ela desligou. Sem pensar muito. Afinal, era só mais um domingo. Só mais uma semana. Só mais um convite deixado pra depois. A vida andava ocupada demais, barulhenta demais, veloz demais. Sempre havia algo mais “urgente”. A visita podia esperar. O tempo dos pais, pensava, era infinito.
Até que não foi.
Naquela noite, o telefone tocou de novo. E dessa vez, não era ele.
Era a mãe, Dona Ivone, com a voz embargada, o medo transbordando em cada sílaba:
— Filha... teu pai tá no hospital. Foi o coração. É grave.
O mundo, que antes girava tão depressa, parou. E, de repente, nada mais era urgente — nem trabalho, nem tarefas, nem compromissos, nem trânsito. Tudo perdeu a cor. Só restou a urgência do amor.
Ela correu. Chegou esbaforida, com o peito em soluço e o coração na garganta. Quando entrou no quarto, o viu ali: seu pai, antes tão forte, agora tão frágil… coberto por fios, o rosto pálido, os olhos cerrados, lutando contra o tempo.
Mas ele estava vivo. E, ao sentir a mão dela, apertou-a com o pouco de força que tinha.
Ela chorou como há muito não chorava. Olhou para ele como nunca tinha olhado. E, entre lágrimas e culpa, sussurrou:
— Me perdoa, pai… por não ter vindo antes.
E ele, com a voz cansada, mas cheia de ternura, respondeu com a última sabedoria de quem já entendeu tudo sobre o que realmente importa:
— Não precisa pedir perdão, minha filha. Prefiro um abraço hoje… do que flores amanhã.
Essas palavras entraram nela como uma flecha suave e transformadora. Acordaram algo que há muito estava adormecido. Um tipo de amor que, por distração, a gente esquece de cultivar — até quase perder.
A partir dali, Carolina mudou.
Largou o projeto extra que tomava suas noites. Começou a desligar o celular durante os almoços de domingo. Passou a visitar os pais sem pressa, sem hora marcada, sem desculpas. Levava-os ao médico, ao parque, ao cinema. Aprendeu a sentar na varanda e simplesmente ouvir. Ouvir de verdade. Como se cada conversa fosse a última chance de guardar aquele amor.
Descobriu histórias que nunca conhecia — como eles se apaixonaram na porta da igreja do bairro. Como juntavam moedas pra pagar o colégio dos filhos. Como o pai andava quilômetros a pé pra economizar a passagem e garantir que a luz da casa não fosse cortada.
Riram juntos. Choraram juntos. Cozinharam bolo de fubá na cozinha antiga. Cantaram músicas velhas. Fizeram planos, mesmo sabendo que o tempo era curto.
Seu Anselmo melhorou. Um pouco. Mas os médicos foram claros: o coração dele já havia dado tudo que podia. Era só uma questão de tempo.
Dois anos depois, numa madrugada silenciosa, ele partiu. Dormindo. Sem dor. Sem alarde. Como se apenas tivesse fechado os olhos… e voltado pra casa.
No velório, Carolina estava de pé, com os olhos marejados e o peito apertado, mas sereno. Porque, apesar da dor, ela sabia: não havia nada que ela tivesse deixado de dizer. Nada que tivesse ficado pendente. Nada que tivesse ficado “pra depois”.
Diante de todos, disse apenas:
— Obrigada, pai. Eu te amo. E vou te lembrar todos os dias da minha vida. Sem remorso. Sem culpa. Porque eu tive tempo. E usei esse tempo com você.
Lição que fica:
Não espere o silêncio para perceber o valor de uma conversa. Não espere o velório para dizer "eu te amo". Não leve flores para o caixão de alguém que só queria sua presença em vida.
Ligue. Visite. Abrace. Escute.
Porque a vida é feita de momentos simples — e são esses que, no fim, nos salvam da dor do arrependimento.
O tempo passa. As vozes se calam. As mãos se vão. Mas o amor vivido… esse permanece. Para sempre.
Lindas Mensagens De Bom Dia, Boa Tarde e Boa Noite
Post de Edlena Ledesma
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