Dona Rosa sempre dizia que o amor verdadeiro não faz barulho — ele acende luzes devagarinho.
E foi isso que ela fez por quase quarenta anos: acendeu pequenas luzes na vida dos outros.
Morava num bairro simples, numa casa com uma varanda cheia de flores e luzinhas coloridas penduradas no teto.
Todos os vizinhos sabiam: quando as luzes da varanda estavam acesas, era porque Dona Rosa estava ali, pronta pra ouvir, consolar, ou dividir um café quente.
Mas, depois que o marido se foi, as luzes se apagaram.
Ela passou a maior parte dos dias sentada na cadeira de balanço, olhando o portão.
Os vizinhos até tentavam chamá-la, mas ela respondia com um sorriso cansado e um “hoje não, meu bem.”
Até que, numa tarde chuvosa, um menino apareceu.
Tinha uns nove anos, roupa molhada, mochila rasgada.
“Posso ficar aqui um pouquinho? Minha mãe ainda não voltou do trabalho.”
Dona Rosa o deixou entrar, secou o cabelo dele com uma toalha e serviu chocolate quente.
Ele olhou as luzinhas apagadas e perguntou:
“Por que não acende mais? Deve ser bonito à noite.”
Ela riu, meio sem jeito.
“Não tenho mais pra quem acender.”
O menino pensou um pouco e disse:
“Então acende pra mim. Eu gosto de ver coisa bonita.”
Naquela noite, pela primeira vez em meses, a varanda se iluminou de novo.
O menino passou a visitá-la todos os dias depois da escola.
Ajudava a regar as flores, fazia desenhos pra ela e contava piadas ruins.
Em troca, ela o ensinava a fazer bolo, a cuidar das plantas, e — sem perceber — a cuidar das pessoas.
Anos se passaram.
O menino cresceu, mudou de cidade.
Mas toda véspera de Natal, ele voltava.
E, sem nem bater no portão, já encontrava a varanda acesa, as luzinhas piscando como se dissessem: eu sabia que você viria.
Dona Rosa envelheceu.
E numa noite calma, partiu enquanto as luzes ainda brilhavam.
Quando o rapaz soube, voltou à casa.
As flores estavam lá, a varanda silenciosa — mas ele acendeu as luzes.
E chorou sorrindo, lembrando do que ela dizia:
“Amor é isso, meu filho. A gente acende uma luz pra alguém, e o mundo fica um pouco menos escuro.”
✨ E assim, as luzes da varanda nunca mais se apagaram — porque amor de verdade continua aceso, mesmo quando a pessoa não está mais lá.

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