O retorno do passado! ****

 

O retorno do passado!
Clara nunca acreditou em destino.
Dizia que o tempo era uma linha reta — o que passou, passou, e pronto.
Mas isso mudou numa tarde gelada, quando ela encontrou um relógio de bolso caído perto do ponto de ônibus.
Era antigo, de metal escuro, com as iniciais “A. R.” gravadas na tampa.
Quando abriu, o ponteiro dos segundos tremia, como se tentasse voltar à vida.
E foi aí que ela ouviu:
“Volte...”
Um sussurro leve, quase um sopro.
Clara olhou ao redor — ninguém.
Riu, achando que o vento lhe pregava peças, e guardou o relógio no bolso do casaco.
Naquela noite, ele começou a funcionar sozinho.
Mas marcava uma hora impossível: 5 de julho de 2020, às 17h12.
A mesma hora em que André — o homem que ela amou e perdeu — havia partido, sem se despedir.
Cinco anos haviam se passado desde então.
Cinco anos tentando esquecer o gosto do café que tomavam juntos, o cheiro do livro que ele lia, a dor de não ter dito o que precisava.
Clara, movida por algo que nem ela entendia, deu corda no relógio.
E o mundo ao redor... desfocou.
O vento parou. As luzes se apagaram.
E quando ela abriu os olhos, estava sentada num café iluminado pelo sol de inverno — em 2020.
André estava ali.
Vivo, sorrindo, distraído com um livro.
Aquele mesmo livro.
Clara ficou paralisada.
Sabia que aquilo não podia ser real — mas também sabia que era sua única chance.
Foi até ele.
O coração dela batia rápido, como se tentasse alcançar o tempo que perdeu.
— André... — disse, quase num sussurro.
— Eu cheguei atrasada, mas vim.
Ele levantou o olhar, confuso, mas sorriu — um sorriso sereno, que parecia perdoar o tempo.
Ela queria dizer mais, contar tudo o que sentira, mas o relógio começou a vibrar no bolso.
Os ponteiros giravam loucamente, o metal queimava sua pele.
A imagem dele começou a se dissolver — primeiro os olhos, depois o sorriso.
E então, silêncio.
Clara acordou no ponto de ônibus.
O relógio, parado.
Mas dentro dele havia algo novo: uma fotografia.
Os dois, lado a lado, no café.
Sorrindo.
Ela chorou. Não de tristeza — mas de gratidão.
Entendeu que o tempo não a deixara voltar para mudar o passado, e sim para curar o que ficou preso dentro dela.
O relógio lhe dera o presente mais raro de todos:
a chance de se despedir.
Às vezes, o amor não é o que permanece.

É o que nos ensina a seguir.


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