O Olho torto de Chico

O escritor espírita R.A.Ranieri morava em Belo Horizonte. Certa noite, o médium Chico Xavier estava na capital mineira e Ranieri, após as tarefas espirituais, o convidou para ir à sua casa saborear um aromático cafezinho com broa de fubá. Ambos partiram alegres e conversando sobre a Doutrina Espírita.
Chegaram à casa. A área e a sala estavam iluminadas. Chico, meio desajeitado, entrou. Cumprimentou sorridente e sentou-se. A mãe de Ranieri chegou depois, mas não entrou. E, descortês, disse:
– Não vou conversar com esse homem de olho torto! Mulato feio!
– O que é isso, mamãe, é um homem bom. Não fale uma coisa dessas! – advertiu Ranieri.
Ela, porém, embirrada, ficou lá fora. Alguém sentou-se com ela na área e ficaram conversando, indiferentes ao papo do visitante.
Chico narrava fatos espirituais. A figura de Emmanuel viera, logo, à baila. Lembrara-se de que este fora o Senador romano Publius Lêntulus Sura e seu pai, quando ele, o Chico, segundo o Ranieri, vivera como Flávia, em Roma.
A conversa, na sala, corria solta e instrutiva. A mãe do Ranieri puxou a cadeira para perto da porta. Chico ria e debulhava mais histórias. Pouco depois, ela pediu licença, entrou e justificou:
– Estou gostando muito da conversa do senhor.
Chico sorriu, levantou-se, cumprimentou-a e disse:
– Oh, dona Beatriz, a senhora é uma alma maravilhosa, só o sacrifício de criar esses filhos que tem fazem-na merecedora de nosso respeito.
Dona Beatriz olhou-o assombrada. Como sabia o seu nome? Tomou sua cadeira e ficou a ouvi-lo até a uma hora da madrugada.
Fonte: Recordações de Chico Xavier

Comentários