domingo, 21 de junho de 2009

O MAIOR SERVIDOR


Presente à reunião familiar, Filipe, em dado instante, perguntou ao Divino Mestre:
— Senhor, qual é o maior servidor do Pai entre os homens na Terra?
Jesus refletiu alguns minutos e contou:
— Grande multidão se congregava em extenso campo, quando aí estacionou famoso
guerreiro carregado de espadas e medalhas, que passou a dar lições de tática militar, concitando
os circunstantes ao aprendizado da defesa. O povo começou a fazer exercícios laboriosos,
dando saltos e entregando-se a perigosas corridas, sem proveito real; todavia, continuou como
dantes, sem rumo e sem júbilo, perdendo muitos jovens nas atividades preparatórias de guerra
provável. Logo depois, apareceu na mesma região um grande político, com pesada bagagem
de códigos, e dividiu a massa em vários partidos, declarando-se os moços contra os velhos, os
lares pobres contra os ricos, os servos contra os mordomos, e, não obstante a sementeira de
benefícios materiais, introduzidos na zona pela competição dos grupos entre si, o político seguiu
adiante, deixando escuros espinheiros de ódio, desengano e discórdia entre os seus colaboradores.
Depois dele, surgiu um filósofo, sobraçando volumosos alfarrábios e dividiu o povo
em variadas escolas de crença que, em breve, propagavam infrutíferas discussões nos círculos
de toda gente; a multidão duvidou de tudo, até mesmo da existência de si própria. A filosofia,
sem dúvida, apresentava singulares vantagens, destacando-se a do estímulo ao pensamento,
mas as perturbações de que se fazia acompanhar eram das mais lastimáveis, legando o filósofo
muitas indagações inúteis aos cérebros menos aptos ao esforço de elevação. Em seguida, compareceu
um sacerdote, munido de roupagens e símbolos, que forneceu muitas regras de adoração
ao Pai. O povo aprendeu a dobrar os joelhos, a lavar-se e a suplicar a proteção divina, em
horas certas. Entretanto, todos os problemas fundamentais da comunidade permaneceram sem
alteração.
No extenso domínio, não havia diretrizes ao trabalho, nem ânimo consciente, nem valor,
nem alegria. A doença e a morte, a necessidade e a ignorância eram fantasmas de toda a gente.
Certo dia, porém, apareceu ali um homem simples. Não trazia armas, nem escrituras,
nem discussões e nem imagens, mas pelo sorriso espontâneo revelava um coração cheio de
boa-vontade, guiando as mãos operosas. Não pregava doutrinas espetacularmente; todavia,
nos gestos de bondade pura e constante, rendia culto sincero ao Todo-Poderoso. Começou a
evidenciar-se, lavrando uma nesga do campo e adornando-a de flores e frutos preciosos. Conversava
com os seus companheiros de luta, aproveitando as horas no ensinamento fraterno e
edificante e transmitia suas experiências a todos os que se propusessem ouvi-lo. Aperfeiçoou a
madeira, plantou árvores benfeitoras, construiu casas e instalou uma escola modesta. Em breve,
ao redor dele, viçavam a saúde e a paz, a fraternidade e as bênçãos do serviço, a prosperidade
e o contentamento de viver. Com o espírito de trabalho e educação que ele difundia, a
defesa era boa, a política ajudava, a filosofia era preciosa e o sacerdócio era útil, porque todas
as ações, no campo, permaneciam agora presididas pelo santo imperativo da execução do dever
pessoal no bem de todos.
Calou-se o Cristo, mas a assistência reduzida não ousou qualquer indagação.
Após contemplar o horizonte longínquo, em longos instantes de pensamento mudo, o
Mestre terminou:
— Em verdade, há muitos trabalhadores no mundo que merecem a bênção do Céu pelo
bem que proporcionam ao corpo e à mente das criaturas, mas aquele que educa o espírito eterno,
ensinando e servindo, paira acima de todos.

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