quinta-feira, 5 de novembro de 2009

A Prece de Cipriana


(Parte final do livro "No Mundo Maior")
.
Senhor Jesus,
Permanente inspiração de nossos caminhos,
Abre-nos, por misericórdia,
Como sempre,
As portas excelsas
De tua providência incomensurável...

Doador da Vida,
Acorda-nos a consciência
Para semearmos ressurreição
Nos vales sombrios da morte;

Distribuidor do Sumo Bem,
Ajuda-nos a combater o mal
Com as armas do espírito;

Príncipe da Paz,
Não nos deixes indiferentes
À discórdia
Que vergasta O coração
De nossos companheiros sofredores;

Mestre da Sabedoria
Afugenta para longe de nós
A sensação de cansaço
À frente dos serviços
Que devemos prestar
Aos nossos irmãos ignorantes;

Emissário do Amor Divino,
Não nos concedas paz
Enquanto não vencermos
Os monstros da guerra e do ódio,
Cooperando contigo,
Em tua augusta obra terrestre;

Pastor da Luz Imortal,
Fortalece-nos,
Para que nunca nos intimidemos
Perante as angústias e desesperos das trevas;

Distribuidor da Riqueza Infinita,
Supre-nos as mãos
Com teus recursos ilimitados,
Para que sejamos úteis
A todos os seres do caminho,
Que ainda se sentem minguados
De teus dons imperecíveis;

Embaixador Angélico,
Não nos abandones ao desejo
De repousar indebitamente,
E converte-nos
Em teus servidores humildes,
Onde estivermos;

Mensageiro da Boa Nova,
Não permitas
Que nossos ouvidos adormeçam
Ao coro dos soluços
Dos que clamam por socorro
Nos círculos do sofrimento;

Companheiro da Eternidade,
Abençoa-nos as responsabilidades e deveres;
Não nos relegues à imperfeição
De que ainda somos portadores!

Dá-nos, amado Jesus, o favor de servir-Te
E que o Supremo Senhor do Universo Te glorifique
Para sempre.
Assim seja!...

* * *
(André Luiz) "Fizera-se resplandecente o recinto do santuário. Vi, então, através do espesso véu de lágrimas que me assomavam aos olhos, que maravilhosa coroa de brilhantes evanescentes cintilou, por instantes, na cabeça venerável daquela missionária do bem, como se ali fora instantaneamente colocada por mãos invisíveis...
Encerrada a reunião, Cipriana, com admirável simplicidade, veio despedir-se de mim.
Porque não dizer? Tinha meus olhos velados de pranto, desejaria segui-la como filho reconhecido para sempre, tais a sabedoria e o amor que lhe transbordavam do espírito glorificado.
Calderaro foi o primeiro a abraçar-me, fazendo votos de boa viagem, a que não pude responder, sufocado pela intensa comoção. Os demais companheiros saudaram-me, enternecidos, e, por fim, Cipriana apertou-me ao peito, beijou-me maternalmente, e disse com olhos úmidos:
- Que o Pai te abençoe. Nunca te esqueça a bondade no desempenho de qualquer obrigação.
E talvez porque me visse tão fundamente sensibilizado, acrescentou:
— Estaremos unidos pelo espírito.
Desvencilhei-me dos seus braços com as saudades do filho, em cujo santuário interior jamais se extingue a chama da gratidão.
De volta, agora, aos trabalhos que me aguardavam, solitário e comovido, aspirei os perfumes da noite clara que se povoava de prodígios mensagens dos astros coruscantes...
— Misericordioso Senhor — supliquei, mentalmente —, digna-Te abençoar o verme que eu sou!...
Tive a impressão de que meu coração pulsava, túmido, dentro do peito. À frente dos meus olhos faiscavam constelações, indicando gloriosos destinos, no futuro infindável..E ponderando, em silêncio, a grandeza de Deus, verti copioso pranto de júbilo, dando guarida às intraduzíveis sensações que me invadiam a alma, extasiada e feliz sob nova esperança!"

Fim
ANDRÉ LUIZ
(Do livro "No Mundo Maior", cap. final, FCXavier)

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