Um amigo meu conta a história de Miguel, garoto levado que, na época dos fatos narrados, tinha apenas oito anos. Miguel morava no 4.º andar, vizinho deste meu amigo. O pequeno arteiro adorava lançar uma bola de futebol pela janela e ria-se vendo a bola quicar inúmeras vezes no chão lá embaixo. Um dia, a bola acertou em cheio um vaso de plantas de uma vizinha do térreo. O vaso se espatifou e as plantas também sofreram as conseqüências. Confusão armada e os pais de Miguel tiveram que se comprometer não só em pagar o prejuízo, mas, também, proibir a criança de arremessar a bola pela janela. Magoado pelo fim de sua diversão predileta, o menino buscou outra coisa pra se distrair: pegou o cão pequinês da família e... atirou o animal pela janela. Ao ver o animal espatifado na calçada, Miguel caiu na gargalhada. Os pais, atônitos, procuraram entender o motivo da graça diante de um quadro terrível daquele. Resposta do pequeno: “Não quicou”. Parece piada, mas não é. E, provavelmente, você tenha dado um sorrisinho diante do desfecho. Mas esta – aparentemente – inofensiva arte do pequeno Miguel pode ocultar uma das sombras da alma humana: A crueldade.
Esta sombra está presente em diversos momentos da história humana, mas, também, no nosso dia-a-dia. O holocausto nazista é uma crueldade histórica. Assim como o atentado às torres gêmeas do World Trade Center, nos Estados Unidos. Mas, recentemente, as manchetes de jornais se ocuparam com crueldades mais “caseiras”: A menina atirada pela janela, em São Paulo, provavelmente pelo próprio pai. A outra criança torturada em Goiânia pela mulher que se prontificou a criá-la. Na Áustria, um pai tranca a filha num porão durante vinte e quatro anos, durante os quais abusou sexualmente da própria filha, tendo com ela sete filhos. Um jovem italiano de Verona (norte da Itália) morreu ao final de cinco dias de agonia, após ser espancado por um grupo de neonazistas aos quais negou um cigarro. Os casos são, infelizmente, muitos. Até então, qualquer um acima citado poderia parecer enredo de um bizarro filme de terror. Mas é a realidade da natureza humana.
Se a crueldade nos fatos históricos, apesar de terríveis, acaba por ser assimilada devido às situações políticas, por exemplo; o mal “doméstico” assusta por não apresentar razão alguma, fora, tão-somente, a animalidade que se oculta no homem. Quando o homem pratica o mal, é chamado de “animal”. Sem ofensas aos animais. É uma forma de se identificar a ação instintiva, a agressividade manifesta. O homem “humano” é o de bem, pleno, 100% humano, integral. E o homem “mais intensamente realizado que o mundo viu foi Jesus o Cristo, o ‘filho do homem’, isto é, o homem por excelência”.1 A expressão ‘filho de...’, exprime o possuidor da qualidade que o complementa. No hebraico, bem-adam e no grego, o uiòs tou anthrópou, o “filho do homem”, segundo Pastorino,2 é o espírito que já concluiu sua evolução, adquirindo conhecimento próprio, através de suas experiências, alçando os planos superiores. Até chegar lá, precisamos escapar de muitas sombras que cercam nossa existência. O mal é a principal delas. Qualquer resquício de crueldade é um sinal do que temos de animalidade em nós. Não importa se falamos de arremessar um cachorro pela janela ou um avião num prédio. O fato de estas notícias despertarem tanto interesse atesta a atração que temos pelo “lado negro”. Neste ponto, o mal, todas as religiões aceitam alguma forma de confronto entre a luz e a escuridão. O Zoroastrismo, religião da antiga Pérsia, foi o provável difusor deste “embate” que pode ter influenciado o cristianismo, por exemplo. A partir daí, segundo a lenda, figuras como Lúcifer, que se desgraçou por sua soberba, é a imagem da auto-suficiência humana, que, então, dá ao homem o direito de praticar o mal contra seu próximo. Nem os filósofos se aprofundaram tanto no tema, por entender que esta concepção seria de domínio estritamente teológico. Mas, ultimamente, as ações que atentam contra a racionalidade tornaram-se objetos de estudos da sociologia, da psicologia e até das ciências biológicas. Mas, segundo Bezerra de Menezes3, na didática de Deus, o mal não é recebido com a ênfase que caracteriza muita gente na Terra, quando se propõe a combatê-lo. A Lei de Deus determina, em qualquer parte, seja o mal destruído não pela violência, mas pela força pacífica e edificante do bem. O mal não suprime o mal. Em razão disso, Jesus nos recomenda amar os inimigos e nos adverte de que a única energia suscetível de remover o mal e extingui-lo é e será sempre a força suprema do bem.
Bibliografia:
1- Huberto Rohden. Filosofia cósmica do Evangelho.2.ed. Alvorada.
2- Carlos Torres Pastorino. Sabedoria do Evangelho, vol. I. Revista Sabedoria.
3- Francisco Cândido Xavier e Carlos A. Baccelli. Brilhe Vossa Luz. Ed. IDE.
Publicitário e radialista. Realiza atividades como expositor, evangelizador de mocidade e coordenador de teatro na seara espírita no Rio de Janeiro. E-mail: georgedemarco@hotmail.com .
Retirado da edição 421 do jornal Correio Fraterno
Esta sombra está presente em diversos momentos da história humana, mas, também, no nosso dia-a-dia. O holocausto nazista é uma crueldade histórica. Assim como o atentado às torres gêmeas do World Trade Center, nos Estados Unidos. Mas, recentemente, as manchetes de jornais se ocuparam com crueldades mais “caseiras”: A menina atirada pela janela, em São Paulo, provavelmente pelo próprio pai. A outra criança torturada em Goiânia pela mulher que se prontificou a criá-la. Na Áustria, um pai tranca a filha num porão durante vinte e quatro anos, durante os quais abusou sexualmente da própria filha, tendo com ela sete filhos. Um jovem italiano de Verona (norte da Itália) morreu ao final de cinco dias de agonia, após ser espancado por um grupo de neonazistas aos quais negou um cigarro. Os casos são, infelizmente, muitos. Até então, qualquer um acima citado poderia parecer enredo de um bizarro filme de terror. Mas é a realidade da natureza humana.
Se a crueldade nos fatos históricos, apesar de terríveis, acaba por ser assimilada devido às situações políticas, por exemplo; o mal “doméstico” assusta por não apresentar razão alguma, fora, tão-somente, a animalidade que se oculta no homem. Quando o homem pratica o mal, é chamado de “animal”. Sem ofensas aos animais. É uma forma de se identificar a ação instintiva, a agressividade manifesta. O homem “humano” é o de bem, pleno, 100% humano, integral. E o homem “mais intensamente realizado que o mundo viu foi Jesus o Cristo, o ‘filho do homem’, isto é, o homem por excelência”.1 A expressão ‘filho de...’, exprime o possuidor da qualidade que o complementa. No hebraico, bem-adam e no grego, o uiòs tou anthrópou, o “filho do homem”, segundo Pastorino,2 é o espírito que já concluiu sua evolução, adquirindo conhecimento próprio, através de suas experiências, alçando os planos superiores. Até chegar lá, precisamos escapar de muitas sombras que cercam nossa existência. O mal é a principal delas. Qualquer resquício de crueldade é um sinal do que temos de animalidade em nós. Não importa se falamos de arremessar um cachorro pela janela ou um avião num prédio. O fato de estas notícias despertarem tanto interesse atesta a atração que temos pelo “lado negro”. Neste ponto, o mal, todas as religiões aceitam alguma forma de confronto entre a luz e a escuridão. O Zoroastrismo, religião da antiga Pérsia, foi o provável difusor deste “embate” que pode ter influenciado o cristianismo, por exemplo. A partir daí, segundo a lenda, figuras como Lúcifer, que se desgraçou por sua soberba, é a imagem da auto-suficiência humana, que, então, dá ao homem o direito de praticar o mal contra seu próximo. Nem os filósofos se aprofundaram tanto no tema, por entender que esta concepção seria de domínio estritamente teológico. Mas, ultimamente, as ações que atentam contra a racionalidade tornaram-se objetos de estudos da sociologia, da psicologia e até das ciências biológicas. Mas, segundo Bezerra de Menezes3, na didática de Deus, o mal não é recebido com a ênfase que caracteriza muita gente na Terra, quando se propõe a combatê-lo. A Lei de Deus determina, em qualquer parte, seja o mal destruído não pela violência, mas pela força pacífica e edificante do bem. O mal não suprime o mal. Em razão disso, Jesus nos recomenda amar os inimigos e nos adverte de que a única energia suscetível de remover o mal e extingui-lo é e será sempre a força suprema do bem.
Bibliografia:
1- Huberto Rohden. Filosofia cósmica do Evangelho.2.ed. Alvorada.
2- Carlos Torres Pastorino. Sabedoria do Evangelho, vol. I. Revista Sabedoria.
3- Francisco Cândido Xavier e Carlos A. Baccelli. Brilhe Vossa Luz. Ed. IDE.
Publicitário e radialista. Realiza atividades como expositor, evangelizador de mocidade e coordenador de teatro na seara espírita no Rio de Janeiro. E-mail: georgedemarco@hotmail.com .
Retirado da edição 421 do jornal Correio Fraterno
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