terça-feira, 30 de agosto de 2011

A Ceifa

Não vos enganeis: de Deus não se zomba; pois aquilo que o homem semear, isso também ceifará.
Gálatas, 6:7

O principiante da verdade deve, primeiramente, se certificar da existência absoluta de Deus, como Pai de amor e bondade para com tudo e todos. Não poderemos ter fé em algo sem termos certeza da Sua vida. Por conseguinte, não há outro caminho para o espírito a não ser procurar a divindade, e ela é tão sábia que se apresenta de variadas formas, de acordo com a evolução de quem a procura.
Se as árvores tivessem raciocínio e pudessem falar, com certeza algumas delas, que poderemos comparar com os materialistas, diriam que Deus é a Terra, de onde tiram o sustento, outras, com mais capacidade de percepção apontariam o Sol como o Deus verdadeiro. De algum modo, umas e outras estariam certas, porquanto a Terra também saiu do astro-rei. Não poderemos classificar os materialistas como homens sem fé, porque assim estaremos cometendo falta grave, e muito grave, pois eles acreditam em alguma coisa; essa é a base da própria vida. O próprio Evangelho Segundo o Espiritismo divide a fé em duas partes: a humana e a divina. Sem a fé humana, a espiritual não encontra base no mundo para seu devido trabalho e, sem a fé divina, a da Terra se perderia em labirintos indevassáveis.
O homem que muitas vezes classificamos de materialista intrinsecamente nunca o foi. Dentro de seu coração vibra a existência de Deus, só que esse Pai se apresenta a ele na dimensão que sua sensibilidade suporta.
Quem não aceita o Criador como espírito individual, comandante de toda a criação, respeita, todavia, algumas leis que ele conhece como sendo boas maneiras: a de amizade mútua, na realização de bons negócios que garantem sua tranqüilidade; a de ser sincero no comércio, objetivando o sustento do seu crédito; a de falar somente a verdade, para granjear confiança; a de ser fiel no afã de ser garantido no seu posto e de ampliar, cada vez mais, seus pertences; e assim, sucessivamente. Não seria, pois, um prenúncio de respeito às leis de Deus? Ele caminha, talvez sem pensar, para a fé divina, impulsionado por algo que vibra em seu coração.
Compete, também, a quem se estriba na fé divina, não se esquecer da fé humana. As duas fornecem o equilíbrio para a alma, e sem a sua união não haverá felicidade.
Não vos enganeis, de Deus não se zomba. Quem contrariar as leis vigentes da criação, está zombando do seu Criador, mas Ele não se encoleriza com este fato. A própria vida se encarrega de disciplinar os transviados. O homem portador de fé humana, que respeita as leis do mundo, não zomba de Deus; ao contrário, ele ama ao Senhor de acordo com seu entendimento e, quando escapa em algum compromisso, colhe o que plantou, imediatamente; sofrendo as conseqüências, muda de conduta.
"Pois aquilo que o homem semear, isso também ceifará". Essa é uma lei para todos os espíritos, em todos os mundos, tanto é aplicada no serviço do bem, quanto nas hostes do mal. E o espírito, quanto mais se desmaterializa, menos mal ele faz, por saber, com fé divina e humana, das desastrosas conseqüências desse mal.
Deus não se zanga por saber que Seus filhos estão d’Ele zombando, pois, antes que os filhos fossem, em Sua plena Onisciência, já sabia disso. A vida é uma eterna lavoura, onde, constantemente plantamos e colhemos e a zombaria que, por acaso, fazemos da vida, a nós retorna, sem que Deus conosco Se zangue.
O Cristo, sendo mensageiro dos Céus, veio nos concitar para o bom plantio. Surgiu no mundo para nos ensinar o cultivo da terra do coração e, também a escolher as sementes, para não nos arrependermos nas colheitas. Seria difícil aprendermos por nós mesmos, sem a ajuda do Mestre.
Entretanto, a maior parte cabe a nós fazermos, esforçando-nos para aceitar, entender e trabalhar. Assim procedendo, as bênçãos dos Céus em nosso favor nunca faltarão.
Cuidemos, pois, de semear nossos pensamentos, nossas idéias, mas antes, que sejam submetidos a rigorosa classificação pelas mãos da mente e pela luz do coração, de modo que não venhamos a tomar o próprio veneno que, por ventura, distribuímos para os outros.
A palavra representa uma semente que carrega os sentimentos de quem as pronuncia. Se formos dotados de bom senso, de amor, de mansidão, de caridade, perdão e fraternidade, colheremos um manancial de luz para a eternidade. Mas, se o nosso verbo se enraizar nos instintos inferiores, na vingança, na maledicência e no egoísmo, ceifando toda a podridão que nos colocará nas trevas, com as bênçãos do tempo indeterminado.
O Evangelho é o roteiro para todos os agricultores da vida e, se não o seguirmos, a morte nos perseguirá sem tréguas. É necessária uma atuação urgente em nós mesmo, na auto-educação dos nossos costumes e hábitos, no sentido de que observemos que plantando somente o bem, a ceifa será puramente amor.
E, se não conseguirmos nos livrar da zombaria a Deus, façamos com que, pelos menos, aconteça em menor escala, na certeza de que cada passo em direção a Ele corresponda à nossa libertação espiritual e à felicidade eterna.
"Não vos enganeis; de Deus não se zomba; pois aquilo que o homem semear, isso também ceifará."
Miramez
Por João Nunes Maia
Livro:O Mestre dos Mestres


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