Passaste por mim com simpatia, mas quando me viste os olhos parados, indagaste em
silêncio porque vagueio na rua.
Talvez por isso estugaste o passo e, embora te quisesse chamar, a palavra esmoreceu
me na boca.
É possível tenhamos suposto que desisti do trabalho, no entanto, ainda hoje, bati, em
vão, de oficina a oficina... Muitos disseram que ultrapassei a idade para ganhar
dignamente o meu pão, como se a madureza do corpo fosse condenação à inutilidade,
e outros, desconhecendo que vendi minha roupa melhor para aliviar a esposa doente,
despediram-me apressados, acreditando-me vagabundo sem profissão.
Não sei se notaste quando o guarda me arrancou à contemplação da vitrina, a gritar
me palavras duras, qual se eu fosse vulgar malfeitor. Crê, porém, que nem de leve me
passou pela mente a idéia de furto; apenas admirava os bolos expostos, recordando os
filhinhos a me abraçarem com a fome, quando retorno à casa.
Ignoro se observaste as pessoas que me endereçavam gracejos, imaginando-me
embriagado, porque eu tremesse, encostado ao poste; afastaram-se todas, com
manifesto desprezo, contudo não tive coragem de explicar-lhe que não tomo qualquer
alimento, há três dias...
A ti, porém, me fitaste sem medo, ouso rogar apoio e cooperação. Agradeço a dádiva
que me estendas, no entanto, acima de tudo, em nome do Cristo que dizemos amar,
peço me restituas a esperança, a fim de que eu possa honrar, com alegria, o dom de
viver. Para isso, basta que te aproximes de mim, sem asco, para que eu saiba, apesar
de todo o meu infortúnio, que ainda sou teu irmão.
◆◆◆
Espírito: MEIMEI
silêncio porque vagueio na rua.
Talvez por isso estugaste o passo e, embora te quisesse chamar, a palavra esmoreceu
me na boca.
É possível tenhamos suposto que desisti do trabalho, no entanto, ainda hoje, bati, em
vão, de oficina a oficina... Muitos disseram que ultrapassei a idade para ganhar
dignamente o meu pão, como se a madureza do corpo fosse condenação à inutilidade,
e outros, desconhecendo que vendi minha roupa melhor para aliviar a esposa doente,
despediram-me apressados, acreditando-me vagabundo sem profissão.
Não sei se notaste quando o guarda me arrancou à contemplação da vitrina, a gritar
me palavras duras, qual se eu fosse vulgar malfeitor. Crê, porém, que nem de leve me
passou pela mente a idéia de furto; apenas admirava os bolos expostos, recordando os
filhinhos a me abraçarem com a fome, quando retorno à casa.
Ignoro se observaste as pessoas que me endereçavam gracejos, imaginando-me
embriagado, porque eu tremesse, encostado ao poste; afastaram-se todas, com
manifesto desprezo, contudo não tive coragem de explicar-lhe que não tomo qualquer
alimento, há três dias...
A ti, porém, me fitaste sem medo, ouso rogar apoio e cooperação. Agradeço a dádiva
que me estendas, no entanto, acima de tudo, em nome do Cristo que dizemos amar,
peço me restituas a esperança, a fim de que eu possa honrar, com alegria, o dom de
viver. Para isso, basta que te aproximes de mim, sem asco, para que eu saiba, apesar
de todo o meu infortúnio, que ainda sou teu irmão.
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Espírito: MEIMEI
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