segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Os olhos do Amor

Ainda quando eu falasse todas as línguas dos homens, e mesmo a
língua dos anjos, se não tivesse caridade não seria senão como um
bronze sonante...”
“... A caridade é paciente; é doce e benfazeja; a caridade não é
invejosa; não é temerária e precipitada; não se enche de orgulho; não é
desdenhosa; não procura seus próprios interesses; não se melindra e
não se irrita com nada...”

Quando Paulo de Tarso definiu a verdadeira caridade, deixando implícito
ser a “reunião de todas as qualidades do coração”, isto é, o “amor”, diferencioua
completamente da prestação de serviços aos outros, da distribuição de
esmolas, da assistência social, da ajuda patológica aos dependentes afetivos,
de compensações de baixa estima, ou de tudo que se referia a atitudes
exteriores, sem qualquer envolvimento do amor verdadeiro.
Reforçou seu conceito acrescentando que: “E quando tivesse distribuído
meus bens para alimentar os pobres, e tivesse entregue meu corpo para ser
queimado, se não tivesse caridade, tudo isso não me serviria de nada”.
Muitas vezes, “doamos coisas” ou “favorecemos pessoas”, a fim de
proporcionar a nós mesmos, temporariamente, uma sensação de bem-estar, de
poder íntimo ou de vaidade pessoal, como que compensamos nossos
desajustes emocionais e complexos de inferioridade.
São sentimentos transitórios e artificiais que persistem entre as
criaturas, que, por não se encontrarem satisfeitas consigo mesmas, trazem
profunda desconsideração e desgosto, e super-valorizou-se fazendo “algo para
o próximo”, para provar aos outros que são boas, importantes e merecedoras
de atenção.
Na realidade, caridade é amor, e amor é a divina presença de Deus em
nós. Raio com que Ele modela tudo, o amor é considerado a real estrutura da
vida e a base de toda a Lei Universal.
É imprescindível esclarecermos que há inúmeras formas de focalizar a
caridade, e nós nos reportaremos a ela como o “amor-essência” - energias que
emergem de nossa natureza mais profunda: a Onipresença Divina que habita
em tudo.
Minerais, vegetais, animais e seres humanos, ao mesmo tempo que
vibram também recebem essa “vitalidade amorosa”, num fenômeno de trocas
incessantes. Um mineral de rocha permanecera como tal, enquanto a “atração”
e a “tendência” de seus átomos e moléculas se mantiverem atraídos e
integrados uns aos outros. Tais “atrações” constituem os primeiros estágios
dessa energia do amor nos seres primitivos. Semelhante “poder atrativo”
prospera e se movimenta em cada fase da vida, de conformidade com o grau
evolutivo em que se encontram os elementos e as criaturas em ascensão.
Observemos a Natureza: propensões, gostos e identificações com as
quais se particularizam cada ser do Universo, inclusive a própria criatura
humana, são movimentações dessa “força de predileção”, nomeada
comumente por “aspiração amorosa”.
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Segundo o apóstolo João, “Deus é Amor: aquele que permanece no
amor permanece em Deus e Deus permanece nele”. (1) Conseqüentemente,
nós, herdeiros e filhos Dele, somos Amor, criados por esse plasma divino;
portanto, somos oriundos do “Amor Incomensurável”, que sustenta e dirige
suas criaturas e criações universais.
Todos nós estamos nos descobrindo no processo dinâmico da evolução,
que se assemelha a um gradativo despetalar de camadas e mais camadas;
inicia-se pelas mais densificadas até atingir “o cerne” - nosso âmago amoroso.
“Deus fez os homens à sua imagem e semelhança” (2) e, dessa forma,
somente conheceremos o verdadeiro sentido da caridade como amor criativo,
integrador e generoso, quando tivermos uma clara consciência de nós
mesmos.
No momento em que passamos a identificar nos outros a mesma
essência de amor da qual eles e nós somos feitos, seremos capazes de
discernir o que é o sentimento de caridade. Seja jovens, velhos, crianças,
sadios ou doentes, seja homens ou mulheres, se passarmos a amá-los
incondicionalmente, como nos exemplificou Jesus, Nosso Mestre e Senhor, aí
estaremos completamente integrados na caridade.
Caridade não consiste em assumir e comandar sentimentos, decisões,
bem-estar, problemas, evolução e destino das pessoas, aquilo, enfim, que elas
podem e devem fazer por si mesmas, porque quando tentamos reduzir as
dificuldades delas, responsabilizando-nos por seus atos, estamos também
impedindo seu real crescimento e amadurecimento, somente alcançados
através das experiências que precisam enfrentar. Assim, distorcemos a
genuína mensagem da caridade, do amor ou da doação verdadeira.
Encontramos ainda na 1a Epístola de João: “Não escrevo um novo
mandamento, mas sim aquele que tivemos desde o princípio: que amemos uns
aos outros”. (3)
Quanto mais limitada e particularizada for a maneira de viver o amor,
menor será nossa consciência de que todos os seres humanos têm uma
capacidade ilimitada de amar ao mesmo tempo muitas pessoas. Quanto mais o
amor for compartilhado com os outros, mais nos desenvolveremos e nos
plenificaremos na vida.
Olhar os outros com os olhos do amor é a grande proposta da caridade.
O verdadeiro sentido da palavra caridade, como a entendia Jesus, era:
“Benevolência para com todos, indulgência para com as imperfeições alheias,
perdão das ofensas”. (4)
Caridade é amor, e não há amor onde não houver “profundo respeito”
aos seres humanos.
Se substituirmos na conceituação de perdão” por Jesus as palavras
“benevolência”, “indulgência e “amor-respeito”, compreenderemos realmente
esse sentimento incondicional do Mestre por todas as criaturas.
“Amor-respeito para com todos”, “Amor-respeito para com as
imperfeições alheias”, “Amor-respeito aos ofensores”: aqui estão as regras
básicas da conduta do Cristo.
Não olvidemos, porém, que respeitar os outros não quer dizer “ser
conivente” ou “manter cumplicidade”.
Concluímos ajustando o texto de Paulo ao nosso melhor entendimento:
“Ainda que eu falasse a língua dos homens e também a dos anjos; ainda que
eu tivesse o dom da profecia e penetrasse todos os mistérios; ainda que eudominasse a ciência e tivesse uma fé tão grande que removesse montanhas,
tudo isso não me serviria de nada se não tivesse amor-respeito aos seres
humanos”.
(1) 1º João 4:16.
(2) Gênesis 1:26.
(3) 1º João 3:11.
(4) Questão 886, O Livro dos Espíritos.

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