Dona
Marlene era uma senhora alegre, ativa, independente e muito lúcida. Aos
oitenta anos, apresentava algumas limitações físicas compatíveis com a
idade.
As
dores articulares, provocadas pelo desgaste natural e consequente
artrose, a incomodavam diariamente, mas nada que lhe diminuísse o
entusiasmo.
Vibrava
com cada conquista pessoal e profissional dos filhos e netos. Novos
empreendimentos, cursos, especializações, casamentos, uma nova gravidez
na família. Tudo era motivo para seus olhos brilharem de alegria.
Morava
com uma das filhas e sua casa era muito bem cuidada. Sempre limpa,
arrumada, arejada e repleta de porta-retratos, onde cada fotografia
contava uma história.
Certo
dia, durante uma caminhada de rotina, a senhora sofreu uma queda que
resultou em uma fratura articular, necessitando ser submetida a cirurgia
Após
a alta hospitalar, por recomendação médica, ela precisaria ficar um
período em repouso, pois levaria algum tempo para voltar a caminhar com
independência.
Os
filhos acharam que a melhor solução seria encaminhá-la a uma Casa de
Apoio para Idosos. A justificativa era de que ela necessitava de
cuidados especiais, para os quais a família não estava devidamente
preparada.
Já instalada na Casa de Apoio, dona Marlene recebeu a visita de uma jovem amiga, que a encontrou acamada, totalmente dependente.
Durante
a conversa, ela dizia que sentia falta da sua casa, dos objetos
pessoais, da presença da família, enfim, do seu alegre cantinho.
Com
o tempo, ela voltou a caminhar. Aos poucos, apesar da fragilidade
física, foi se tornando novamente independente. Uma das filhas a
visitava semanalmente, mas não falava em levá-la de volta ao seu lar.
Nas
visitas periódicas, a amiga foi percebendo que a senhora deixara de
falar em voltar para casa. Percebeu também a tristeza que lhe ia na
alma.
Tinha certeza que dona Marlene não falava no assunto porque no fundo se envergonhava da situação de abandono.
Nas poucas vezes em que se referia à amada família, justificava de várias formas a dificuldade que seria se ela voltasse para casa. Dizia que a família não poderia assisti-la, pois todos tinham seus compromissos pessoais.
Em
verdade, seus lábios diziam palavras que seu coração não compreendia.
No lugar daquele olhar alegre e doce, antes cheio de brilho, surgiu um
olhar triste, sem vida, que refletia solidão e abandono.
Não
era necessário ter muita sensibilidade para perceber que, por dentro,
ela morria a cada dia. Que a esperança de voltar para o seio da família
ia embora e junto ia também a vontade de viver.
Passado
algum tempo, devido a uma determinada complicação de saúde, tornou a
ser hospitalizada. Seu organismo cansado, enfraquecido pela dor maior da
solidão, não resistiu. Ela havia desistido de viver.
* * *
Algumas famílias necessitam contar com o apoio das instituições especializadas para cuidar dos seus idosos.
É uma difícil decisão e se justifica, em muitos casos.
É compreensível então, contar com tal recurso, enquanto se necessita cumprir nossos deveres profissionais e familiares.
Essa atitude não significa abandoná-los.
O importante é se fazer presente, levando amor e carinho, pois nada justifica a desatenção e o desamparo.
Pensemos nisso.
Redação do Momento Espírita.
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