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quarta-feira, 13 de novembro de 2024

Falando com o além

 Falando com o além




Ciência e Médiuns aprimoram a tecnologia e os métodos de contato com os que morreram. Com isso, milhões encontram conforto e respostas para suas inquietações.



Por Celso Fonseca, Eliane Lobato e Ricardo Miranda.

Colaborou Eduardo Marini.





A morte, para o católico São Paulo, era a “passagem para a vida definitiva”. O poeta grego Eurípedes escreveu que “morrer deve ser como não haver nascido”, enquanto o português Fernando Pessoa a considerava o grande “enigma”.





Filósofos, pensadores, mestres como Goethe, Platão, Rimbaud, Byron, Mário Quintana, todos deixaram registrado algum tipo de entendimento sobre a única travessia supostamente sem volta. Mas e se pudéssemos mandar mensagens do lado de lá para cá ? Muita gente acredita que falar com os mortos é possível – e alguns afirmam fazer isso cotidianamente. São os médiuns, os intermediários entre os espíritos e os homens. Há estudiosos, como a paulista Sonia Rinaldi, que empregam física, fonética, biometria e tecnologia digital para asfaltar a estrada que parecia interditada entre esses dois planos, o dos vivos e o dos mortos. A ferramenta, nesse caso, é a ciência e não a fé.


                                                                                             

Uma das maiores especialistas em Transcomunicação Instrumental (TCI), nome dado à gravação de vozes e até filmagem de pessoas que já morreram, Sonia Rinaldi comemora um marco em sua cruzada : O primeiro caso autenticado por um laboratório internacional de um contato com um espírito. O fato mais positivo de tudo isso é que, pelo caminho da ciência ou da espiritualidade, essas comunicações geram um conforto imensurável nas pessoas que buscam contato com os seus entes queridos. E dão respostas para muitas de suas inquietações.





A pesquisadora Sonia obteve o primeiro laudo internacional confirmando a voz de um espírito. O caso estudado cientificamente por Sonia é o de Cleusa Julio, uma mãe como outra qualquer : Não suportava a dor pela perda da filha adolescente, Edna, que morreu há três anos, atropelada por um carro enquanto andava de bicicleta. Dilacerada, procurou a Associação Nacional de Transcomunicadores, presidida por Sonia, econseguiu estabelecer comunicação com a menina.

Uma das conversas gravadas entre mãe e filha foi enviada há seis meses a um centro de pesquisas em Bolonha, na Itália, o Laboratório Interdisciplinar de Biopsicocibernética, único na Europa totalmente dedicado ao exame e análise científicos de fenômenos paranormais. Junto, foi encaminhada outra fita com um recado deixado por Edna, antes de morrer, numa secretária eletrônica. O resultado, que acaba de chegar, é um surpreendente laudo técnico de 52 páginas, cuja conclusão diz : A voz gravada por meio da transcomunicação é a mesma guardada na secretária eletrônica.





O chamado Caso Edna, revelado com exclusividade a "ISTO É", tem o aval do físico Claudio Brasil, mestre pela Universidade de São Paulo que se dedicou nos últimos anos a analisar centenas de vozes paranormais : “Temos que abrir a mente e aceitar que a ciência não tem explicação para tudo”, diz ele. “É um trabalho puramente matemático, à prova de fraudes”, afirma Sonia, autora de sete livros, entre eles Gravando vozes do além, que detalha técnicas para contatos em outras dimensões.





Em 18 anos de pesquisas, ela guarda 50 mil gravações em áudio com mortos. No início, usava um gravador. Hoje, as conversas são gravadas por telefone ou microfone conectados ao computador e, no caso de gravação e filmagem simultâneas, com o auxílio de uma câmera digital. Acostumada a trazer conforto aos outros, Sonia perdeu seu marido, Fernando, há um ano, vítima de câncer. Segundo ela, Fernando continua sendo seu mais ativo colaborador, agora do outro lado. “A dor se transforma em esperança”, emociona-se.


                                                                


O médico Sérgio Felipe de Oliveira, neurocientista com mestrado em ciências pela USP (Universidade de São Paulo) é idealizador do Projeto Uniespírito (Universidade Internacional de Ciências do Espírito) e estuda a mediunidade e os estados de transe. Defende em suas pesquisas que a glândula pineal – localizada no cérebro e que regula o ciclo do sono – seria o órgão sensorial da mediunidade. Segundo Sérgio, a pineal captaria informações do mundo espiritual por ondas eletromagnéticas, como “um telefone celular”, e as transformaria em estímulos neuroquímicos. Sérgio de Oliveira pesquisa a glândula pineal, que seria o “órgão sensorial” dos médiuns. O depoimento de Luiz Augusto confronta um mundo invisível, habitado por espíritos, à exatidão da ciência com suas idéias cartesianas. Esses dois universos sempre mantiveram uma enorme e irreversível distância. Mas hoje o que parecia inconciliável se mostra complementar.





Cientistas de renome, como Stephen Hawking, reconhecem que é pouco inteligente supor que a nossa realidade é a única expressão do universo. Diz a antropóloga Nara de Oliveira, professora e pesquisadora do Centro de Altos Estudos da Conscienciologia, em Foz do Iguaçu, Paraná : “A ciência física que conhecemos, dentro do paradigma materialista, não tem instrumental para estudar mecanismos subjetivos, como o espírito. Como trabalhar fenômenos extrafísicos com parâmetros físicos ?” Nara trabalha na Enciclopédia da Conscienciologia, sob a coordenação do médico Waldo Vieira. “Temos no Centro a maior biblioteca do mundo sobre experiências fora do corpo.”





Talvez uma frase de Alessandra Wagner, estilista carioca, viúva do jornalista Tim Lopes, executado e queimado por traficantes quando trabalhava numa reportagem na favela da Vila Cruzeiro, em 2002, para a Rede Globo, resuma o crescente interesse pela Doutrina Espírita: afinal, a vida não acaba aqui ? A dúvida aflige mais as pessoas que têm maior escolaridade e renda, segundo os dados do censo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2000. Esse é o extrato predominante dos três milhões de espíritas registrados pelo censo no País. Mas, para além dos números oficiais, outros milhões de adeptos de outras religiões, no Brasil e no mundo, buscam caminhos científicos ou espíritas de comunicação com os mortos e sustentam um mercado literário próspero. São quase 200 milhões de livros vendidos sobre as possibilidades de vida e a interligação entre elas.





O jornalista carioca Marcel Souto Maior escreveu três livros sobre Chico Xavier, que venderam 350 mil exemplares. Na última obra, As lições de Chico Xavier, conta histórias e questiona até que ponto é possível provar os fenômenos. “São muitas as suspeitas de fraude e de charlatanismo. É necessário checar tudo. A ciência é empírica, mas pode ser contaminada pela fé”, alerta. As dúvidas começam quando a atividade vira uma caixa registradora. Não é o caso de Chico, que psicografou 412 livros, vendeu mais de 20 milhões de exemplares e reverteu tudo para instituições de caridade.










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