terça-feira, 28 de agosto de 2012

MÉDIUM ESPÍRITA

Quando o Médium Espírita apareceu na assembléia doutrinária, sinceramente decidido à
tarefa que lhe fora designada, abraçou o serviço com ardor; no entanto, das pequenas
multidões que o acompanhavam saíram vozes: “é por demais verde, não tem
experiências”. O seareiro do Bem assumiu ares de adulto e adotou costumes austeros e
mostrou-se entusiasta, mas ouviu novo conceito: “é um temperamento perigoso, entregue
à chocarrice”. Procurou então adicionar veemência ao otimismo e os circunstantes
fizeram coro: “é explosivo, dado à violência”.
O servidor arrefeceu os impulsos e começou a usar textos esclarecedores para
fundamentar as próprias asserções, lendo pareceres de autoridades, e escutou novo
apontamento: “é um burro que não sabe falar, senão recorrendo a notas alheias”.
Abandonou, daí em diante, o sistema de citações e passou a dar somente respostas
rápidas sobre os problemas que lhe vinham à esfera de ação, e exclamaram para logo: “é
um preguiçoso, sem qualquer atenção para o estudo”. Nessa altura, o obreiro da
Espiritualidade julgou mais razoável servir à Causa da Luz, no próprio lar; contudo, ouviu:
“é um covarde, não enfrenta responsabilidades diante do povo”. O Médium regressou às
atividades públicas e entrou a colaborar na sementeira do conhecimento superior, onde
fôsse chamado, e surgiu outra sentença: “é um manequim da vaidade, manobrado por
agentes das trevas”.

 O atormentado trabalhador procurou evitar discussões e escolheu atitude de reserva,
falando apenas em torno das questões mais simples da edificação espiritual, e comentouse:
“é mole demais, sem qualquer fibra moral para os testemunhos de fé”. Registrando
isso, esposou o regime da mente arejada com o verbo franco, e anotaram, de imediato: “é
um obsidiado, entregue à mistificação”. Tentou acomodar-se, fazendo unicamente aquilo
que considerava como sendo o seu próprio dever, e clamaram: “é vagabundo, nada quer
com o trabalho”. Ele tornou a inflamar-se de boa vontade, oferecendo o máximo das
próprias forças à construção da Espiritualidade Maior, e acusaram: “é revolucionário, deve
ser vigiado...”
Aflito, o medianeiro procurou o Mentor Espiritual que lhe propiciava amparo constante, e
chorou:
- Ah! benfeitor meu, que faço se não satisfaço?
- De quem recebeste a tarefa do bem? – perguntou o amigo. – Do Senhor ou dos
homens?
- Do Senhor – soluçou o Médium.
- Então – replicou o abnegado companheiro -, levarei tua indagação ao Senhor e amanhã
trarei a resposta.
No dia seguinte, ao amanhecer, quando o servidor orava, rogando força e inspiração,
surgiu-lhe à frente o instrutor espiritual e falou, sereno:
 O Senhor mandou dizer-te que, em te nomeando para colaborar na Obra de redenção,
assim o fêz porque confiava em teu amor para com os irmãos da família humana, e que,
por isso mesmo, não te solicitou o inventário das críticas que porventura te fôssem feitas,
e sim te recomendou tão-somente servir e trabalhar.
Nesse instante, o primeiro clarão diurno varou, de chofre, a vidraça. O medianeiro, de
alma subitamente bafejada por nova compreensão, mirou o fio de luz que vencera as
trevas para aquecê-lo em silêncio... Em seguida, pensou e pensou, a pouco e pouco
invadido de estranho júbilo... Desde então, o Médium Espírita olvidou a si mesmo e
aprendeu com o raio de Sol que a sua força vinha do Senhor e que a sua felicidade se
resumia em servir e servir, trabalhar e trabalhar.


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