terça-feira, 21 de agosto de 2012

O ADOLESCENTE NA BUSCA DA IDENTIDADE E DO IDEALISMO

O desabrochar da adolescência, à semelhança do que ocorre com o
botão de rosa que se abre ante a carícia do Sol, desvela-lhe a intimidade que
se encontra adormecida, e desperta, suavemente, aspirando a vida,
exteriorizando aroma e oferecendo pólen para a fertilização e ressurgimento
em novas e maravilhosas expressões.
A plenitude da vida, na fase da adolescência, estua e exterioriza-se,
deixando que todos os conteúdos arquivados no inconsciente do ser passem a
revelar-se, em forma de tendências, aptidões, anseios e tentativas de
realização.
Nem sempre esse despertar é tranqüilo, podendo, às vezes, ser uma
irrupção vulcânica de energias retidas que estouram, produzindo danos.
Noutras ocasiões pode expressar-se como sofrimento íntimo, caracterizado por
fobias de aparência inexplicável, mas que procedem dos registros
perispirituais, mergulhados no inconsciente, que repontam como conflitos,
consciência de culpa, pudor exacerbado, misticismo, em mecanismos bem
elaborados de fuga da realidade.
Reencarnando-se, para reparar os erros e edificar o bem em si mesmo, o
Espírito atinge a adolescência orgânica, vivenciando o transformar de energias
e hormônios sutis quão poderosos, que o despertam para as manifestações do
sexo, mas também para as aspirações idealistas, desenvolvendo a busca da
própria identidade.
Carregando a soma das personalidades vividas em outras reencarnações,
a sua identificação com o mundo atual demanda tempo e amadurecimento,
mediante os quais pode aquilatar quem realmente é e o que legitimamente
deseja.
Não tendo o discernimento ainda para eleger o que é melhor, quase
sempre se entrega à busca do mais imediato, porque mais simples, procurando
acomodar-se às manifestações fisiológicas do comer, dormir, praticar sexo,
vencer o tempo sem grande esforço. Trata-se de um atavismo pernicioso, que
deve ser melhor direcionado, a fim de que seja descoberta a finalidade da
existência e como alcançar esse patamar que o aguarda.
Se o lar oferece segurança afetiva e compreensão, o adolescente tem
facilidade para selecionar os valores e aceitar aqueles que lhe são mais
favoráveis para o progresso. Todavia, se o grupo familiar é traumatizante, foge
para comportamentos oportunistas, que parecem afugentar as mágoas e
libertá-lo do cárcere doméstico.
A influência dos pais é decisiva na elaboração e desenvolvimento do
idealismo, na afirmação da própria identidade, sem que haja pressão ou
autoritarismo dos genitores, antes oferecimento de meios para o diálogo
esclarecedor, sem a sujeição aos conselhos castradores e impositivos, sempre
de maus resultados.
Há uma tendência no jovem para fugir aos programas elaborados, às
experiências vividas por outrem, ao aproveitamento da sabedoria dos mais
antigos. Cada ser é uma realidade especial, que necessita vivenciar suas
próprias aspirações, muitas vezes equivocando-se para melhor compreender o
caminho por onde deve seguir. Em razão disso, experiência e uma conquista
pessoal, que cada qual aprende pelo próprio esforço, não raro, através de erros
que são corrigidos e insucessos que se fazem ultrapassados pelo êxito.
Quando alguém deseja impor seu ponto de vista, transfere realização não
lograda, para que o outro a consiga, assim alegrando aquele que se lhe torna
mentor.
A educação propõe e o educando aprende mediante o exercício, a
reflexão, o amadurecimento.
Os modelos devem ser silenciosos, falando mais pelos exemplos, pela
alegria de viver, pelos valores comprovados, ao invés das palavras sonoras,
mas cujas práticas demonstram o contrário.
Quando alguém convive com adolescente encontra-se sob a alça de mira
da sua acurada observação. Ele compara as atitudes com as palavras, o
comportamento cotidiano com os conteúdos filosóficos, não acreditando senão
naquilo que édemonstrado, jamais no que é proposto pelo verbo. Em razão
disso, surgem os conflitos domésticos, nos quais os genitores se dizem
incompreendidos e não seguidos, olvidando-se que são os responsáveis, até
certo ponto, pelo insucesso das suas proposições.
A identidade de cada um tem suas características pessoais, e essas não
podem, nem devem ser clones, nos quais se perde a individualidade.
A busca da identidade no adolescente é demorada, qual ocorre com o
indivíduo em si mesmo, prolongando-se pelo período da razão,
amadurecimento e velhice.
Por isso mesmo, nem sempre a avançada idade biológica é sinônimo de
sabedoria, de equilíbrio. Jovens há, maduros, enquanto idosos existem que
permanecem aprisionados na criança caprichosa e renitente da infância não
ultrapassada.
O idealismo brota do âmago do ser e deve ser cultivado pelos genitores,
que estimularão as tendências positivas do filho, oferecendo-lhe os recursos
emocionais e afetivos para que ele possa materializar a aspiração do mundo
íntimo. Quando se revelar a tendência para o idealismo perverso, o
desequilíbrio firmado no egoísmo, no capricho, nos desregramentos morais, é
necessário ensinar-lhe a técnica de como canalizar as energias para o lado
melhor da vida, propondo ideais práticos e mais imediatos, que sejam
compensadores psicologicamente, de forma que a eleição se opere com
naturalidade, por meio da substituição daqueles que são perturbadores por
esses outros que são satisfatórios.
Ao invés das lutas contínuas, que se fazem imposições descabidas,
enriquecidas de queixas e lamentações pelo investimento dirigido ao filho, a
quem se informa não saber aproveitar tudo quanto recebe, é justo que todas as
propostas sejam apresentadas de forma edificante, sem acusações nem
rejeições, mas com espírito de tolerância e compreensão, até que o
discernimento do adolescente aceite como fenômeno natural a contribuição,
tendo em mente que a escolha foi própria e que isso é bom para ele, não
porque outros assim o queiram, porém porque mais o conforta e o agrada.
A adolescência é ainda fase de amoldamento, de adaptação, ao mesmo
tempo de transformações, que merece e exige paciência e habilidade
psicológica.
De um lado, existe o interesse familiar, que trabalha para o melhor do
educando, mas por outra parte se encontra o grupo social, nem sempre
equilibrado, na Escola, no Clube, na rua, no trabalho, conspirando contra as
atitudes saudáveis que se deseja oferecer e que naturalmente atraem o
adolescente, porque ele gosta de ser igual aos demais, não chamar a atenção,
ou quando, em conflito, quer destacar-se, exibir-se, exatamente porque vive
inseguro, experimenta dramas, que mascara sob a desfaçatez, o cinismo
aparente...
Com o tranqüilizar do fluxo sexual, mediante a reflexão e o trabalho,
através do estudo e das aspirações superiores que se devem ministrar com
cuidado, ele passa a identificar-se com o mundo, com as pessoas e por fim
com ele mesmo. Essa auto-identificação é mais demorada, porque mais
profunda, prolongando-se por toda a existência bem orientada pelo dever e
pelas aspirações enobrecidas.
O idealismo torna-se-lhe um alimento que deve ser ingerido com
freqüência, a fim de que não haja carência emocional e perda de identidade no
tumulto das propostas sociais, econômicas e artísticas...
Invariavelmente o Espírito reencarna para dar prosseguimento a tarefas
que ficaram interrompidas, e ressurgem nos painéis mentais como aspirações
e tendências mais acentuadas. Outras vezes, no entanto, deve começar a
experimentar atividades novas, mediante as quais progredirá no rumo da vida e
de Deus.
Na fase da insegurança pela adolescência, toda a vigilância é necessária,
de modo a auxiliar o jovem a encontrar-se e a definir o seu ideal de vida,
entregando-se-lhe confiante e rico de perseverança até conseguir a meta
ambicionada.


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