terça-feira, 4 de setembro de 2012

HEDONISMO

O conceito de hedonismo tem-se desdobrado em variantes através dos
séculos. Criado, originariamente para facultar o processo filosófico da busca do
prazer, hoje apresenta-se, do ponto de vista psiquiátrico como sendo uma
expressão psicopatológica, por significar apenas o gozo físico, abrasador,
incessante, finalidade única da existência humana, essencialmente egotista.
Tal conceito surgiu com o discípulo de Sócrates, Aristipo de Cirene, por
volta do século 5º antes de Cristo e foi consolidado por seus seguidores.
A finalidade única reservada ao ser humano, sob a óptica hedonista, era o
prazer individual.
Na atualidade, consideram-se duas vertentes no hedonismo: a primeira,
denominada psicológica ou antiga, que tem como meta o prazer como sendo o
último fim, constituindo uma realidade psicológica positiva, gratificante, e a
ética ou moderna, que elucida, não procurarem as criaturas atuais sempre e
somente o prazer pessoal, mas que se devem dedicar a encontrar e conseguir

aquele que é o prazer maior para si mesmas e para a humanidade.
A tendência do ser humano, todavia, é a busca do que agrada de imediato,
em razão do atavismo remanescente da posse, da dominação sobre o
espécime mais fraco, que se lhe submete servilmente, proporcionando o gozo
da falsa superioridade.
Nesse comportamento, a libido predomina, estabelecendo a meta próxima,
que se converte na auto-realização pelo atendimento ao desejo.
O desejo é fator de tormento, porqüanto se manifesta com predominância
de interesse, substituindo to dos os demais valores, como sendo primacial,
após o que, atendido, abre perspectivas a novos anseios.
Nesse capítulo, o desejo de natureza lasciva, fortemente vinculado ao
sexo, atormenta, dando surgimento a patologias várias, que necessitam
assistência terapêutica especializada.
Noutras vezes, as frustrações interiores impõem alteração de conduta,
dando origem ao desejo do poder, da glória, da conquista de valores
amoedados, na vã ilusão de que essas aquisições realizam o seu possuidor. A
realidade, no entanto, surge, mais decepcionante, o que produz, às vezes,
estados depressivos ou de violência, que irrompem sutilmente ou voluptuosos.
São algumas dessas ocorrências psicológicas que dão surgimento aos
ditadores, aos dominadores arbitrários de pessoas e de grupos humanos, aos
criminosos hediondos, aos perseguidores implacáveis, a expressivo número de
infelicitadores dos outros, porque infelizes eles próprios. No íntimo,
subconscientemente, está a busca hedonista, impositiva, egóica, sem nenhuma
abertura para o conjunto social, para a comunidade ou para si mesmo através
das expressões de afeto e de doação, de carinho e bondade, que são valores
de alto conteúdo terapêutico.
O hedonista vê-se apenas a si mesmo, aturdindo-se na insatisfação que
acompanha o prazer, porqüanto jamais se torna pleno. A ânsia do prazer é tão
incontrolável quão intérmina. Conseguido um, outro surge, numa sucessão
desenfreada.
Quando a consciência do dever estabelece os paradigmas da
autoconquista, o prazer se transfere de significado, adquirindo outro sentido,
que é de legitimidade para a harmonia do ser psicológico, exteriorizando-se em
serviço, elevação interior, realizações perenes. Arrebenta as amarras do ego e
abre as asas para o ser profundo poder expandir-se, voando em direção do
Infinito.
O prazer de ajudar transforma o indivíduo em um ser progressista,
idealista, que se realiza mediante a construção da felicidade em outrem, sem
qualquer forma de fuga da sua própria realidade.
Nessa fase experimental da saída do ego e de sua superação, novos
prazeres passam a ocupar os estados emocionais: a visão das paisagens
irisadas de Sol e ricas de beleza, o encantamento que o mundo oferece, a
alegria de estar vivo, o sentido de utilidade que experimenta, a empatia que
decorre dos valores que vão sendo descobertos, contribuindo para o autoencontro,
para o significado existencial.
A busca do prazer, portanto, é parte essencial dos desafios psicológicos
existenciais, desde que seja direcionada para aqueles que propõem libertação,
conquista de paz, realização interior.
O altruísmo é o antídoto, a terapia mais valiosa para a superação do
estágio hedonista da evolução do ser.


Amor,Imbatível amor/J.De Angelis/Divaldo Franco

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