Minha avó Helena, imigrante italiana, pedia a Deus lhe desse uma boa e santa passagem.
Não queria mofar num leito.
Que fosse tudo rápido, coração em paz, protegida pela Espiritualidade.
Quando chegou sua hora obteve do Céu o “visto” almejado.
Rompeu-se um vaso cerebral, promovendo, em breves horas, sua transferência para o Além.
Sabemos que a morte súbita não é boa para o Espírito, impondo-lhe determinados traumas, a não ser que tenha algum preparo.
Muito mais que isso, vó Helena tinha valioso atestado de aproveitamento
da jornada humana, que se estendeu aos setenta e quatro anos.
O marido morreu com perto de quarenta anos. Viúva jovem, com oito filhos
para criar, lutou muito, enfrentou dificuldades, mas sempre confiante
em Deus e generosa com as pessoas.
***
Vovó tinha convicção de que a morte seria apenas um retorno à pátria comum.
Não tinha medo.
Tudo o que desejava era uma transição tranqüila.
Essa consciência de imortalidade não é comum.
As pessoas normalmente revelam crença superficial. Acreditam vagamente na vida futura, sem que isso repercuta no seu dia-a-dia.
Isso pode ser constatado pela própria maneira como se referem ao mortos.
Quando falece um familiar querido, a pessoa lamenta:
Perdi meu filho…
Perdi meu pai…
Perdi meu marido…
Se amanhã seu filho, leitor amigo, for estudar fora ou mudar-se para outra cidade, você dirá que o perdeu?
Obviamente, não.
Informará apenas que ele está morando alhures.
O verbo perder, em se tratando da morte, tem uma carga negativa,
desajustante. Passa a idéia de definitiva e intolerável privação.
Melhor dizer que o filho partiu.
É mais leve, sugere uma separação transitória que faz parte dos projetos
divinos para jornada humana, em favor de experiências necessárias ao
nosso crescimento espiritual.
Algo das ilusões terrestres se vai com os amados que partem,
convidando-nos a valiosas reflexões em favor de uma existência mais
consciente e disciplinada.
***
A morte é exatamente o que vovó dizia:
A passagem de retorno à nossa pátria, o Mundo Espiritual, de onde viemos para as experiências na carne.
Será boa, sem traumas e perplexidades, se estivermos preparados,
cultivando aqueles valores espirituais que, segundo Jesus, as traças não
roem nem os ladrões roubam.
Será santa, habilitando-nos ao imediato reencontro com os amados que nos
precederam, se trouxermos a consciência tranqüila pelo dever cumprido,
no empenho de servir.
Praza aos céus, faça eu por merecer, como vó Helena, uma boa e santa passagem.
Richard Simonetti
Nenhum comentário:
Postar um comentário