sábado, 9 de fevereiro de 2013

A coragem da palavra escrita

Todos os dias, publicações das mais diversas chegam às prateleiras das livrarias. Vivemos um tempo em que publicar um livro se tornou fácil.
Isso permite que abundem as nulidades e que se publique tantas e tantas páginas sem verdadeiro conteúdo.
Literatura que não soma, que não acrescenta algo de útil e bom ao ser humano.
Ao longo da história da Humanidade, contudo, a palavra escrita se fez presente, iluminando mentes, alertando o povo.
Inúmeros são os exemplos nos tempos passados e, na atualidade, ainda em alguns países, de escritores que ousaram utilizar a sua pena para criticar governantes, denunciar ditaduras, protestar contra a injustiça.
Romancistas, jornalistas, amantes da verdade se serviram da palavra escrita para lutar por direitos humanos, para esclarecer as mentes.
Em épocas de repressão, se tornaram heróis, tendo alguns deles, pago sua ousadia com prisão e tortura.
Mulheres corajosas, nesse contexto, não faltaram. Recordamos de Rachel de Queiroz que, com apenas dezessete anos, enviou uma carta ao jornal O Ceará, ironizando determinado concurso.
O sucesso foi tão grande que ela foi convidada a colaborar com aquele veículo da imprensa.
Durante trinta e um anos foi cronista exclusiva da extinta revista O Cruzeiro. Enquanto o Brasil tentava a sua redemocratização, Rachel usou o espaço que dispunha nesse veículo de alcance nacional para conclamar o povo a bem utilizar da sua qualidade de cidadão.
Mulher de coragem em tempos tão conturbados, escreveu: Não sei se vocês têm meditado como devem no funcionamento do complexo maquinismo político, que se chama governo democrático, ou governo do povo.
Em política, a gente se desabitua de tomar as palavras no seu sentido imediato.
No entanto, talvez não exista, mais do que esta, expressão nenhuma nas línguas vivas que deva ser tomada no seu sentido mais literal: governo do povo.
Porque, numa democracia, o ato de votar representa o ato de fazer o governo.
Pelo voto não se serve a um amigo, não se combate um inimigo, não se presta ato de obediência a um chefe, não se satisfaz uma simpatia.
Pelo voto a gente escolhe, de maneira definitiva e irrecorrível, o indivíduo ou grupo de indivíduos que nos vai governar por determinado prazo de tempo.
Escolhem-se pelo voto aqueles que vão modificar as leis velhas e fazer leis novas – e quão profundamente nos interessa essa manufatura de leis!
A lei nos pode dar e nos pode tirar tudo, até o ar que se respira e a luz que nos alumia, até os sete palmos de terra da derradeira moradia.
E conclui: Votem, irmãos, votem... Mas não se esqueçam de que dentro da cabine indevassável vocês são homens livres... O voto é secreto.
*   *   *
Sim, escritores os há muitos. Também brasileiros de valor que se preocuparam e se preocupam com os destinos da Pátria do Cruzeiro. Por amá-la, a desejam grandiosa, livre, vitoriosa.
E felizes os seus filhos, com direito de trabalhar e progredir.
Unamo-nos a eles, realizando a parte que nos cabe.

Redação do Momento Espírita, com frases da crônicaVotar, de Rachel de Queiroz, da revista O Cruzeiro, de 1947.

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