Quando a crença na
imortalidade do Espírito é legítima, ocorre uma profunda mudança no indivíduo,
que se ilumina pelo conhecimento libertador.
Tudo quanto
antes se afigurava de maneira imediatista ou se fazia portador de um significado
psicológico mais superficial altera os seus conteúdos para se agigantar em
sentido existencial profundo, que tem a ver com a perenidade do ser e todos os
efeitos do seu comportamento.
Reconhecendo-se que toda ação dá lugar a uma reação
correspondente, a certeza da sobrevivência à morte biológica induz a uma visão
de profundidade em torno da caminhada evolutiva, identificando-se nas heranças
ancestrais os diversos períodos do processo, que deixaram as marcas poderosas da
sua experiência.
Quando a
cultura pessoal mantinha as convicções materialistas ou a indiferença em torno
da vida-depois-da-vida, as metas buscadas estavam sempre próximas e, após
alcançá-las, advinha o tédio, a perda de sentido, porque não mais havia
estímulos para continuar na faina a que se adaptara.
É comum,
nesses casos, muitas das ambições serem conseguidas e logo depois de fruídas
desaparecem, deixando o vazio existencial em lugar da ansiedade e do afã que se
constituem motivações para as lutas.
Não raro, as
pessoas que atingem o topo de suas necessidades ou especulações perdem os
impulsos de continuação do esforço, por já não haver razão lógica para a
aplicação de tanto empenho.
Como ninguém
vive em segurança emocional sem um objetivo, especialmente relevante, tombam-se
ao buscarem os prazeres exaustivos, invariavelmente derrapando-se no uso de
drogas químicas responsáveis por alucinações e desvarios, buscam-se as
exigências do sexo desvairado, empanturram-se de alimentos de difícil digestão,
entregam-se ao alcoolismo, ao tabagismo, e o pensamento em desalinho
ensombrece-se, facultando a instalação de enfermidades
perturbadoras...
O ser humano
é construído para a ação contínua e o seu pensamento deve sempre estar ativo,
cultivando ideias dignificantes, construtivas, que o envolvam em ondas de
harmonia e de saúde.
Os devaneios
e fugas psicológicas são responsáveis pelas aberturas vibratórias que
proporcionam a sintonia com os Espíritos inferiores, esses que se comprazem em
gerar desarmonias interiores, transformando-se em obsessões de longo
curso.
Constata-se,
então, que grande parte da mole humana transita entre anseios absurdos e tédios
injustificáveis, contribuindo para a insatisfação que toma conta da sociedade
hodierna, dando lugar aos desaires coletivos e de amplas proporções
obsessivas.
As metas
materiais mui facilmente podem se alcançadas, mas depois de conseguidas perdem o
impacto do interesse mantido, produzindo desencanto... É nesse momento que
chegam a maturidade física, a velhice e as reflexões que se pedem em amarguras,
lamentando-se o tempo que foi aplicado para amealhar valores que não preenchem
os vazios do sentimento, nem se encarregam de produzir harmonia
interna.
A própria
figura da morte torna-se mensageira de devastação pela perspectiva do
aniquilamento da vida, por conseqüência, pela total falta de sentido
existencial.
Quando, porém
se tem convicção a respeito da imortalidade do Espírito, a esperança está sempre
presente e qualquer tipo de programação não se encerra na etapa da consumpção
biológica.
Há indivíduos
que afirmam acreditar na sobrevivência da vida após o túmulo. Entretanto, os
seus atos desdizem completamente a assertiva. Isto porque, vivem como se nunca
lhes terminasse o périplo carnal, ou se permitem comportamentos esdrúxulos em
relação à crença, como a irresponsabilidade moral, as condutas não compatíveis
com a boa ética recomendada pelo Evangelho de Jesus, as atitudes agressivas e
vingativas...
A crença na
transcendência da vida impõe, sem dúvida, responsabilidade em todos os momentos
da existência corporal.
Os
pensamentos obedecem a um programa edificante, tendo em vista o desenvolvimento
intelecto-moral do indivíduo. Logo, os seus são atos saudáveis, evitando as
pequenezes muito comuns das pessoas atormentadas ou inquietas.
Torna-se
capaz de suportar as vicissitudes, por mais angustiantes e desafiadoras que se
apresentem, entendendo que somente lhe acontece aquilo que virá contribuir em
favor de sua edificação espiritual, porque o mundo não se encontra à matroca,
mas é dirigido pelo Excelso Nauta Jesus...
A resignação
encontra-se ao lado da coragem para os enfrentamentos, nunca se evadindo dos
compromissos assumidos perante a vida, a fim de que se não se transforme em peso
na economia moral da sociedade, ante, porém, alguém que contribui em favor do
progresso de todos.
Reveste-se de
paciência em relação àqueles que se fazem percalço no desenvolvimento dos
outros, assinalados pela agressividade e malquerença, sempre criando embaraços e
problemas. Compreende que não são maus, mas que se encontram enfermos da alma ou
demoram nas faixas mais primárias da evolução, procurando ajudá-los ao invés de
rechaçá-los com os mesmos instrumentos de agressividade.
Jamais se
permite abater quando lhe chegam as provações necessárias ao avanço espiritual,
mantendo a alegria de viver e de servir, o que lhe não impede os momentos de
maior tensão ou tristeza, aflição ou ansiedade...
Está sempre
disponível para as realizações dignificantes, tornando-se companheiro devotado
de todos os momentos junto aos trabalhadores do Bem e da Verdade, servidor
enobrecido que se transforma pelo seu exemplo de abnegação.
Embora haja
mulheres e homens honoráveis que ainda não consigam acreditar na sobrevivência
espiritual, portadores de excelente conduta, caso viessem a descobrir essa
realidade, entregam-se-lhe, poderiam oferecer um contributo mais amplo e
grandioso do que esse que eles estão ofertando à Humanidade.
A crença na
imortalidade proporciona metas próximas e remotas, ampliando ao infinito os
horizontes e as expectativas do ser humano, que se enobrece pelo Bem e se
liberta das paixões perturbadoras que afligem a maioria.
Encontramos
desse modo, em todos os segmentos da sociedade, aqueles que não crêem e são
nobres, assim como aqueles que afirmam acreditar na imortalidade e, no entanto,
não se facultam o crescimento moral tendo em vista o futuro que lhes
aguarda.
O
Espiritismo, demonstrando a continuidade da vida depois da disjunção molecular
do corpo somático, contribui de maneira eficaz para a construção de uma
sociedade mais razoável, mais lúcida quanto aos seus deveres, mais
fraternal.
Demonstrando
que a reencarnação é oportunidade de refazer experiências malogradas, adquirir
novos conhecimentos, desenvolver as aptidões adormecidas, limar as imperfeições
morais favorece a alegria infinita do discernimento lógico e da oportunidade de
adquirir a plenitude, a harmonia interior que estimula o crescimento em relação
aos valores eternos.
Joanna de
Ângelis
Por Divaldo P. Franco
Livro: Liberta-te do Mal
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