sexta-feira, 25 de abril de 2014

Tempos de descarte

Nossos dias parecem feitos de momentos instantâneos. As coisas se transformam, as necessidades se sucedem e se modificam, fazendo com que tudo pareça volátil e fugaz.
Por vezes, nos parece que a própria vida é nada mais do que uma leve impressão e que nada vale um grande investimento, pois não há o que sobreviva ao descarte e a se tornar obsoleto.
Talvez por isso alguns de nós imaginamos que nossos relacionamentos também são descartáveis e fugazes, nesses dias em que vivemos.
Acabamos aceitando a ideia infeliz de que qualquer esforço de investimento nas pessoas parece algo inútil, uma verdadeira perda de tempo, pois logo essas serão, ou poderão ser substituídas.
Logo, é natural que nossos relacionamentos não suportem as primeiras rusgas, não sobrevivam aos primeiros embates, não ultrapassem os primeiros enfrentamentos.
Os investimentos da paciência, da consideração, do carinho, perdem sentido, nesse insistente descarte de tudo e de todos.
A amizade logo se desfaz, o relacionamento não cria raízes, os laços não se apertam e os nós se desfazem ao menor esforço.
Tudo isso porque esquecemos de que, muito embora o mundo esteja veloz, a comunicação seja instantânea, e a tecnologia se renove rapidamente, nossa mente e nosso coração são os mesmos de sempre.
Nossas necessidades emocionais em nada mudaram com a tecnologia.
A construção de nossos sentimentos ainda se faz gradual e lentamente, como a cem, quinhentos ou mil anos atrás.
Aprender a amar, cultivar uma amizade, aprender a querer bem, tudo se faz em velocidades medievais, poderíamos dizer.
Nada disso mudou no século XXI. O mundo externo se transformou por completo. Nossas necessidades e capacidades de amar são as mesmas.
Assim, cada vez mais se torna importante que resgatemos o tempo a dedicar aos nossos amores.
Nenhum casamento se fortalecerá sem o investimento de ambos.
Porém, se entre nossas prioridades não há tempo e investimento suficiente para que a vida seja compartilhada, natural que a relação feneça.
Se em nossos dias não há prioridade e tempo para os amigos, como manter as amizades?
Ninguém pode esquecer que a amizade se consolida lentamente, como quem cozinha no fogo brando, através da conversa solta e fraterna, da visita despretensiosa que estreita laços, ou do telefonema sem hora marcada mas que aconchega o ouvido.
Serão esses investimentos lentos, graduais, que serão efetivos, pois que criarão raízes profundas no coração.
Somente dessa forma nossos laços conseguirão vencer o tempo e a distância, a ponto de nos acompanhar para além desta vida, pois que permanecerão no coração.
O mais, o que efetivamente é descartável ou volátil, isso ficará, se perderá no tempo, ganhará esquecimento.
Entretanto, que nunca aquilo que pertença ao coração ganhe a falsa impressão de também ser descartável.
Porque, um dia, ao se perder tudo, inevitável fator da vida, permanecerá em nós somente aquilo que agasalharmos na mente e no coração.
Pensemos nisso.
Redação do Momento Espírita.

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