Conta Esopo (620-560 a.C.) que um homem muito avarento vivia preocupado com a segurança de seus bens.
Depois de muito pensar sobre o assunto, resolveu que o investimento mais seguro seria o ouro.
Aplicou todas as suas economias em expressiva quantidade do nobre metal, que fundiu numa única barra maciça.
Enterrou-a num bosque e todas as noites visitava seu tesouro para deleitar-se.
Numa dessas oportunidades, um ladrão o seguiu. Descobrindo o
esconderijo, voltou mais tarde, desenterrou o tesouro e fugiu com ele.
Ao tomar conhecimento do grave prejuízo que sofrera, o avarento desesperou-se. Só faltou enlouquecer de dor.
Um vizinho, buscando consolá-lo, falou, incisivo:
– Por que está tão transtornado, meu amigo? Se o ouro que você guardava
fosse uma simples pedra, daria no mesmo, pois não tinha nenhuma
serventia para você.
***
Sábias palavras!
O dinheiro amoedado, na volúpia de entesourar, é peso morto a
aprisionar-nos na avareza que, como define Balzac (1799-1850), é esse nó
corredio que aperta cada dia mais o coração e acaba por sufocar a
razão.
Se sumir, não haverá nenhuma repercussão em nossa vida.
Há pessoas que poupam o tempo todo e acumulam razoável capital que nunca
irão usar. Servirá apenas para suscitar disputas entre os herdeiros,
quando o poupador bater as botas.
Há um provérbio chinês bem significativo:
Mesmo que tenhas dez mil plantações, só podes comer uma tigela de
arroz por dia; ainda que a tua casa tenha mil quartos, nem de dois
metros quadrados precisas para passar a noite.
E há as tensões, as dúvidas e a perda de algo precioso, conforme define outro exemplar da sabedoria chinesa:
Quem abre o coração à ambição, fecha-o à tranqüilidade.
Melhor combater tais tendências, aprendendo a investir algo de nossos
recursos no Banco da Providência, minorando aflições, atendendo
enfermos, alimentando famintos, oferecendo melhores condições de vida
para muita gente que vive miseravelmente.
O lucro auferido com investimentos dessa natureza é imediato, exprimindo-se em inefável sensação de paz.
O bem estendido ao redor de nossos passos é bênção de Deus em nossas vidas.
***
Questão crucial:
Quando se trata de abrir a bolsa em favor do próximo sempre cogitamos das sobras.
Invariavelmente, porém, sob inspiração do velho egoísmo humano, sempre
nos parecerá indispensável o dinheiro amoedado, ainda que o tenhamos
sobrando nos cofres.
Por isso o fecho costuma emperrar.
É de Sêneca judiciosa observação envolvendo a maneira como superestimamos nossas necessidades.
Para a nossa avareza, o muito é pouco.
Para a nossa necessidade, o pouco é muito.
Assim, quase nada sobra para o Banco da Providência.
Por isso Jesus nos oferece o exemplo da viúva pobre (Lucas, 21:1-4),
dando a entender que o valor está em darmos o que vai fazer falta.
E considere, leitor amigo:
Geralmente, esse “fazer falta” está em nossa cabeça, como sugere o filósofo romano.
Talvez nos estimule reconhecer que os investimentos nos Bancos do mundo,
por mais que rendam, não acrescentarão um só centavo aos valores
espirituais.
Tudo ficará aqui, quando formos convocados pela Morte à viagem de
retorno. Se só eles merecem nossa atenção, estaremos mal, “ao relento”,
na espiritualidade.
Quanto aos investimentos no Banco da Providência, estes rendem
dividendos para a Vida Eterna, habilitando-nos a estada em “hotel cinco
estrelas”, no Além, amparados por generosos benfeitores.
***
Se alimentamos a intenção de emprestar a Deus, recomenda-se algum
critério, evitando sustentar a malandragem e a indolência, que,
infelizmente, grassam por aí.
O ideal será escolhermos intermediários confiáveis. São as instituições
que desenvolvem serviços assistenciais e promocionais de forma
transparente e produtiva.
Nelas são identificados os legitimamente carentes, desenvolvendo-se, em
seu benefício, ações no sentido de promovê-los, reorganizando suas
vidas.
Usando expressão bem atual, ajudam os excluídos a encontrar um lugar na sociedade, construindo seu futuro.
O Centro Espírita envolvido com o trabalho social, na vivência dos
princípios de caridade que norteiam o Espiritismo, enquadra-se
perfeitamente nessa condição.
Ali se desenvolvem os mais variados serviços em favor da população
carente, onde todos podemos fazer valiosos investimentos de dois tipos:
• Em espécie.
Aplicar parte de nossos rendimentos, de forma disciplinada e
perseverante, com a mesma regularidade com que pagamos contas de água,
luz e telefone.
• Em serviço.
Aplicar parte de nosso tempo para engrossar as fileiras de voluntários
que desenvolvem serviços de assistência e promoção social, sob a
bandeira da solidariedade.
Então, sim, estaremos contabilizando créditos abençoados na Poupança
do Céu, em favor de uma existência mais feliz na Terra e um retorno
tranqüilo à vida espiritual.
Vamos investir?
Richard Simonetti
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