E ele disse: "Nenhum homem poderá revelar-vos nada senão o que já está meio adormecido na aurora do vosso entendimento. O mestre que caminha à sombra do templo, rodeado de discípulos, não dá de sua sabedoria, mas sim de sua fé e de sua ternura. Se ele for verdadeiramente sábio, não vos convidará a entrar na mansão de seu saber, mas antes vos conduzirá ao limiar de vossa própria mente. O astrônomo poderá falar-vos de sua compreensão do espaço, mas não vos poderá dar sua compreensão. O músico poderá cantar para vós o ritmo que existe em todo o universo, mas não vos poderá dar o ouvido que capta a melodia, nem a voz que a repete. E o versado na ciência dos números poderá falar-vos do mundo dos pesos e medidas, mas não vos poderá levar até lá. Porque a visão de um homem não empresta suas asas a outro homem. E assim como qualquer de vós se mantém só no conhecimento de Deus, assim cada um de vós deve ter sua própria compreensão de Deus e sua própria interpretação das coisas da terra." Pois o que vós amais nele pode tornar-se mais claro na sua ausência, como para o alpinista a montanha aparece mais clara, vista da planície. E que não haja outra finalidade na amizade a não ser o amadurecimento do espírito. Pois o amor que procura outra coisa a não ser a revelação de seu próprio mistério não é amor, mas uma rede armada, e somente o inaproveitável é nela apanhado. E que o melhor de vós próprios seja para vosso amigo. Se ele deve conhecer o fluxo de vossa maré, que conheça também o seu refluxo. Pois, que achais seja vosso amigo para que o procureis somente a fim de matar o tempo? Procurai-o sempre com horas para viver. Pois o papel do amigo é o de encher vossa necessidade, e não vosso vazio. E na doçura da amizade, que haja risos e o partilhar dos prazeres. Pois no orvalho de pequenas coisas, o coração encontra sua manhã e se sente refrescado." Então um literato disse: "Fala-nos da Conversação." E ele respondeu: "Vos falais quando deixais de estar em paz com vossos pensamentos; E quando não podeis mais viver na solidão de vosso coração, procurais viver nos vossos lábios, e encontrais então uma diversão e um passatempo nas vibrações emitidas. E em grande parte de vossas conversações, o pensamento é meio assassinado. Pois o pensamento é uma ave do espaço que, numa gaiola de palavras, pode abrir suas asas mas não pode voar. Há entre vós aqueles que procuram os faladores, por medo da solidão. O silêncio da solidão revela-lhes seu Eu desnudo, e eles preferem escapar-lhe. E há aqueles que falam e, sem saber ou prever, revelam uma verdade que eles próprios não compreendem. E há aqueles que possuem a verdade dentro de si, mas não a expressam em palavras. No íntimo de tais pessoas, o espírito habita num silêncio rítmico. Quando encontrardes vosso amigo na rua ou no mercado público, deixai que o espírito que está em vós ponha em movimento vossos lábios e dirija vossa língua. E que a voz escondida na vossa voz fale ao ouvido de seu ouvido; Pois sua alma guardará a verdade de vosso coração, como é lembrado o sabor do vinho, Mesmo depois que a sua cor houver sido esquecida, e a taça que o continha não mais existir.
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