Adélia Prado é uma famosa poetisa brasileira cuja poesia mostra o cotidiano feminino e faz reflexões existenciais. A autora mineira ganhou os prêmios Machado de Assis e Camões.
"Adélia Prado é uma escritora mineira. Ela nasceu em 13 de dezembro de 1935 na cidade de Divinópolis, no estado de Minas Gerais. Mais tarde, trabalhou como professora, foi diretora de um grupo de teatro e chefiou a Secretaria Municipal de Educação e Cultura de Divinópolis.
A poetisa escreveu obras em que a voz feminina está em destaque. Seus textos mostram, com lirismo, o cotidiano. Apresentam caráter universal, fazem reflexões existenciais e evidenciam a religiosidade. Adélia Prado, em 2024, ganhou o prêmio Machado de Assis e o famoso prêmio Camões."
"Resumo sobre Adélia Prado
Adélia Prado é uma famosa escritora brasileira.
Ela nasceu em 1935, em Divinópolis, Minas Gerais.
Além de poetisa, também foi professora e diretora de um grupo teatral.
As obras da autora valorizam o cotidiano e destacam o universo feminino.
Adélia Prado é vencedora dos prêmios Jabuti, Machado de Assis e Camões.
"Biografia de Adélia Prado
Adélia Prado nasceu em Divinópolis, no estado de Minas Gerais, em 13 de dezembro de 1935. De origem pobre, seu pai era ferroviário; e sua mãe, dona de casa. Foi alfabetizada no Grupo Escolar Padre Matias Lobato. Em seguida, por meio de uma bolsa de estudos, ingressou no Ginásio Nossa Senhora do Sagrado Coração.
Mais tarde, em 1950, ficou órfã de mãe. Como era a irmã mais velha, ficou responsável por cuidar da casa e dos irmãos. No ano seguinte, começou a estudar Magistério e se formou em 1953. No ano de 1955, iniciou sua carreira de professora em uma escola pública estadual. O casamento com o bancário José Assunção de Freitas ocorreu em 1958.
Em seguida, moraram por algum tempo em Governador Valadares. Em 1965, Adélia ingressou no curso de Filosofia em sua cidade natal. Publicou seu primeiro livro — Bagagem — em 1976. Para essa publicação, teve apoio dos escritores Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) e Affonso Romano de Sant’Anna (1937-).
Antes, porém, de publicar seu primeiro livro, a autora publicou textos em periódicos como A Semana e Gazeta de Minas. Em 1978, publicou O coração disparado, livro que lhe rendeu o prêmio Jabuti desse ano. Adélia Prado atuou como professora até 1979, quando decidiu se dedicar mais à literatura.
Foi diretora do grupo teatral Cara e Coragem, em Divinópolis, a partir de 1980. No ano de 1983, passou a chefiar a Secretaria Municipal de Educação e Cultura de Divinópolis, cargo que manteve até 1988. Já em 2014, ganhou o prêmio canadense Lifetime Recognition. Em 2024, foi a vencedora dos famosos prêmio Machado de Assis e Camões."
"Características das obras de Adélia Prado
A poesia de Adélia Prado apresenta estas características:
aspecto filosófico;
transcendentalismo;
temática do cotidiano;
reflexões existenciais;
caráter universal;
valorização da oralidade;
linguagem coloquial;
jogo semântico;
metalinguagem;
traços narrativos;
foco no ambiente doméstico;
religiosidade;
predominância de versos livres.
Já sua prosa possui os seguintes elementos:
objetividade;
lirismo;
linguagem concisa;
plurissignificação.
Por fim, tanto na poesia quanto na prosa, o foco é o universo feminino."
"Obras de Adélia Prado"
"Bagagem (1976) — poesia.
O coração disparado (1978) — poesia.
Solte os cachorros (1979) — contos.
Cacos para um vitral (1980) — romance.
Terra de Santa Cruz (1981) — poesia.
Os componentes da banda (1984) — romance.
O pelicano (1987) — poesia.
A faca no peito (1988) — poesia.
O homem da mão seca (1994) — romance.
Oráculos de maio (1999) — poesia.
Manuscritos de Felipa (1999) — romance.
Filandras (2001) — contos.
Quero minha mãe (2005) — novela.
Quando eu era pequena (2006) — literatura infantil.
A duração do dia (2010) — poesia.
Carmela vai à escola (2011) — literatura infantil.
Miserere (2013) — poesia.
Principais poemas de Adélia Prado
Adélia Prado possui vários poemas que merecem destaque, como “Impropérios”, “Grande desejo”, “Desenredo”, “Mulheres”, “A catecúmena”, “O espírito das línguas”, “Poema esquisito”, “Bilhete em papel rosa”, “Lápide para Steve Jobs” e “O ditador na prisão”, por exemplo. Porém, vamos ler, a seguir, três dos principais poemas dessa autora mineira.
O primeiro deles é “Dona doida”, do livro Bagagem. Nesse poema com traços narrativos, dois tempos se encontram pelo ato banal de “buscar os chuchus”. Os trinta anos que separam os dois atos levaram embora a mãe da narradora lírica e trouxeram a loucura ou a libertação:
Uma vez, quando eu era menina, choveu grosso
com trovoadas e clarões, exatamente como chove agora.
Quando se pôde abrir as janelas,
as poças tremiam com os últimos pingos.
Minha mãe, como quem sabe que vai escrever um poema,
decidiu inspirada: chuchu novinho, angu, molho de ovos.
Fui buscar os chuchus e estou voltando agora,
trinta anos depois. Não encontrei minha mãe.
A mulher que me abriu a porta riu de dona tão velha,
com sombrinha infantil e coxas à mostra.
Meus filhos me repudiaram envergonhados,
meu marido ficou triste até a morte,
eu fiquei doida no encalço.
Só melhoro quando chove. |1|
O próximo poema em destaque é “Com licença poética”, também da obra Bagagem. O título traz um jogo semântico ao unir o pedido de “com licença” com a expressão “licença poética”. Possui caráter intertextual ao dialogar com o Poema de sete faces, do poeta Carlos Drummond de Andrade. No mais, evidencia o universo feminino e a ideia de ser mulher:
Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não tão feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas, o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
(dor não é amargura).
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida, é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou. |2|
Por fim, temos o poema “Linhagem”, do livro O coração disparado. Nesse poema, também se percebe o jogo semântico com as palavras “ginecológica” e “genealógica”, de forma a destacar a linhagem, mas também a força feminina:
Minha árvore ginecológica
me transmitiu fidalguias,
gestos marmorizáveis:
meu pai, no dia do seu próprio casamento,
largou minha mãe sozinha e foi pro baile.
Minha mãe tinha um vestido só, mas
que porte, que pernas, que meias de seda mereceu!
Meu avô paterno negociava com tomates verdes,
não deu certo. Derrubou mato pra fazer carvão,
até o fim de sua vida, os poros pretos de cinza:
“Não me enterrem na Jaguara. Na Jaguara, não.”
Meu avô materno teve um pequeno armazém,
uma pedra no rim,
sentiu cólica e frio em demasia,
no cofre de pau guardava queijo e moedas.
Jamais pensaram em escrever um livro.
Todos extremamente pecadores, arrependidos
até a pública confissão de seus pecados
que um deles pronunciou como se fosse todos:
“Todo homem erra. Não adianta dizer eu
porque eu. Todo homem erra.
Quem não errou vai errar.”
Esta sentença não lapidar, porque eivada
dos soluços próprios da hora em que foi chorada,
permaneceu inédita, até que eu,
cuja mãe e avós morreram cedo,
de parto, sem discursar,
a transmitisse a meus futuros,
enormemente admirada
de uma dor tão alta,
de uma dor tão funda,
de uma dor tão bela,
entre tomates verdes e carvão,
bolor de queijo e cólica."
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