O olhar dos avós

 

´Segurei o teu pai, um dia, assim —

com dedos de algodão e choro de aurora.

Agora, sou tempo bordado em prata,

e embalo-te com mãos que já aprenderam a renúncia.

Um ciclo traçado com a tinta do amor,

no pergaminho eterno do tempo.

Tua risada — música que se repete,

canção antiga em nova voz.

Os anos não caminham, eles voam —

ferozes, velozes, sem pedir licença.

E no entanto, aqui estás tu…

e eu, velho, mas inteiro.

Não de cansaço, mas de plenitude.

Como chuva mansa que beija a terra.

Como um sussurro sagrado,

que só se ouve com o coração.

Esta é minha segunda chance —

ver a luz nascer de novo nos olhos de alguém.

Guiar, não comandar.

Amar, não moldar.

Segurar tua alegria sem prendê-la.

Vejo tua alma descobrir o céu

e escondo lágrimas atrás de sorrisos.

Porque no teu riso, vejo redenção —

um eco doce das lutas que venci.

Agora piso em solo sagrado,

com humildade e espanto silencioso.

Porque tu és feito de mim…

mas também de um mistério maior.

És um milagre que eu jamais sonhei merecer.

Um amor que atravessa gerações,

puro, vasto, sem medida.

E, mesmo grisalho, sou novo outra vez…

Pois em ti —

encontrei o meu ontem.


Sobre literatura?

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