Ela não teve a vida pela qual um dia orou. Ela teve algo maior.

 

Quando Helena completou 35 anos, sua vida desabou.  Após sete anos de casamento e tentativas intermináveis de se tornar mãe, seu marido simplesmente desapareceu. Na cozinha, havia um bilhete deixado sobre a mesa: "Não aguento mais, desculpe." O vazio que veio depois foi ensurdecedor. A casa, em Portland, ficou silenciosa demais.

Deixada sozinha, sem filhos e sem marido, ela sentiu como se seus sonhos tivessem sido destruídos. Mas Helena não se deixou afogar na dor. Começou a trabalhar como voluntária em um centro de apoio a crianças. Lá, conheceu cinco irmãos que haviam ficado órfãos após um incêndio.

Eles não tinham para onde ir. Ninguém queria acolher todos de uma vez. A assistente social disse: "Este é o kit que todos recusam." Helena viu nos olhos deles um silêncio familiar — o mesmo que morava nela. Na manhã seguinte, ela tomou uma decisão. Um por um, levou os meninos para sua humilde casa.

O primeiro foi Davi, o mais velho e reservado, mas com uma determinação férrea. Atrás dele estava Caio, silencioso e observador. Depois vieram os gêmeos, Thiago e Lucas — barulhentos, alegres e inseparáveis. E, finalmente, o pequeno Enzo, com apenas cinco anos, com olhos nos quais vivia uma esperança vulnerável.

Foi difícil. Mal havia dinheiro suficiente. A casa estava abarrotada, e a comida acabava mais depressa do que chegava. Mas, junto com o caos, veio outra coisa: a vida. Eles cantavam, brigavam, faziam as pazes, aprendiam, caíam e se levantavam. Helena não era perfeita, mas estava lá, todos os dias.

Com o passar dos anos, os meninos se tornaram homens. Davi tornou-se engenheiro. Caio, um dos fundadores de uma startup educacional. Thiago e Lucas abriram uma marca de moda. E Enzo tornou-se músico — com alma de poeta. Eles saíram, mas sempre voltavam para ela, para aquela velha casa que se tornou sua âncora.

No aniversário de 60 anos dela, todos se reuniram. A manhã começou com o cheiro de pão fresco. Em seguida, a entrega de uma chave grande e prateada. Um presente: uma casa nova, iluminada, espaçosa, com jardim e uma grande cozinha. Construída por eles, para ela. Mais tarde, entregaram-lhe os documentos de um fundo, para que ela nunca mais precisasse se preocupar com nada.

"Você nos deu vida. Agora é a nossa vez." Seis meses depois, os cinco organizaram uma grande festa. O evento repercutiu por todo o bairro. E ela era a homenageada. Usando um vestido azul-índigo, lá estava ela — a mãe Lena, como agora era chamada. As pessoas a aplaudiram de pé.

E, pela primeira vez, ela se viu, aos olhos dos outros, não como uma mulher que perdeu sua família, mas como uma mulher que a construiu.

Agora, todo domingo, sua casa volta a ficar cheia — vozes, netos, filhos, risos. Ela não teve a vida pela qual um dia orou. Ela teve algo maior.

Ela não adotou apenas cinco meninos. Ela criou cinco homens com corações cheios de amor. E isso fez dela, de fato, uma mãe.


Denise Galvão

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