domingo, 13 de janeiro de 2013

QUEDA E ASCENSÃO PSICOLÓGICA

Na base de inúmeras perturbações emocionais são encontradas a culpa e
a vergonha. A culpa procede de uma peculiar sensação de estar-se realizando
algo que está errado e de como esse comportamento afeta as demais pessoas.
Esse sentimento proporciona uma correlação entre a capacidade de agir
correta ou erradamente. O ato de haver-se equivocado, sem uma estrutura
equilibrada do ego em relação ao corpo, produz uma distonia que gera
sentimentos profundos de amargura e desajuste emocional.
Ao livre-arbítrio cabe o mister de examinar e discernir o que se deve e se
pode fazer, daquilo que se pode mas não se deve, ou se deve, porém não se
pode realizar. Ao errar, atormenta-se todo aquele que não possui resistências
psicológicas para considerar a própria fragilidade, dispondo-se a novo
cometimento reparador.
Quando o ego é saudável, enfrenta a situação do erro com naturalidade,
porque compreende que os conceitos certo e errado são abstratos, cabendolhe
discernir o que é de melhores resultados para si e para os outros, portanto,
permitindo-se o direito de errar e impondo-se o dever de corrigir.
Qualquer relacionamento humano é estabelecido dentro das diretrizes do
prazer e das compensações emocionais que proporciona. Quando a culpa se
apresenta, essa estrutura se fraciona, alterando a conduta do indivíduo. No
sentimento de culpa apresenta-se um elemento conflitivo que é o
ressentimento daquele que erra em relação ao outro a quem feriu, facultando,
não raro, uma situação recíproca.
Nos relacionamentos afetivos próximos, o sentimento de culpa é
devastador, porque gera ambivalência de conduta: um pai ou mãe que se
comporta sob sentimento de culpa em relação a um filho, mantém
ressentimento desse filho que, por sua vez, responde com o mesmo
sentimento em relação ao genitor, e culpa-se por essa atitude, que lhe parece
incorreta.
Esse tormento alastra-se no campo emocional, tornando a situação cada
vez mais embaraçosa, porque a culpa faz-se maior.
Invariavelmente, no ódio, no ressentimento, no ciúme, o paciente se sente
aprisionado no agente da sua reação, por sentimento de culpa, que procura
dissimular através de acusações contínuas em relação ao outro.
Quando se está sujeito a um julgamento moral, o conceito emocional que
envolve a culpa apresenta-se. Quando esse julgamento é oposto, portanto,
negativo, a culpa toma vulto. Por outro lado, se é positivo, tem-se a sensação
de encontrar-se sempre certo, o que é pe
rigoso, já que o erro faz parte do processo de aprendizagem e de crescimento
intelectual e moral. E graças ao conhecimento que esse sentimento se
desenvolve.
Desde a infância, o ser é orientado a descobrir o que é certo e o que é
errado, de forma que possa sempre agir acertadamente, assim amadurecendo
os conceitos morais, conforme o bem ou o mal que deles decorram em relação
a si mesmo como ao seu próximo.
Obrigada a participar do drama da vida, a criança é induzida a agir de
forma sempre correta, conforme o padrão do seu meio ambiente, os valores
éticos, as pressões existentes. Será esse comportamento que dará lugar ao
senso de responsabilidade. Entretanto, a ação da responsabilidade pode darse
sem se fazer acompanhar do sentimento de culpa, somente porque se haja
equivocado, considerando-se as imensas possibilidades de recuperação.
Toda vez que alguém com sentimento de culpa julga a própria conduta, se
constata que os seus sentimentos se apresentam negativos, prejudiciais, sente
vergonha dos mesmos e procura suprimi-los, amargurando-se por estar a
vivenciá-los, mesmo que sem consciência, autocondenando-se.
Com o acúmulo de conflitos e o represamento dos sentimentos, perde a
capacidade de discernimento para saber como agir com correção.
Nesse estado a auto-aceitação desaparece, dando lugar à repulsa por si
mesmo, abrindo espaço para a tristeza, o medo e outros sentimentos
perceptuais, que são identificados pelo ego.
A vergonha, de algum modo, está mais vinculada às funções do corpo, quando
não decorre dos atos morais. A herança antropológica permanece com
destaque em muitas funções orgânicas, tais a alimentação e a eliminação, a
aparência física, os movimentos... Normalmente são associados à conduta
animal, quando grotescos ou vulgares.
Torna-se indispensável que a educação contribua com orientação
adequada, de modo a definir-se um comportamento saudável, que evite as
associações depreciativas.
Não obstante, a sociedade não se estruturaria, se não existissem esses
sentimentos de culpa e de vergonha que, de alguma forma, funcionam como

árbitro de muitas ações, contribuindo para o despertar do discernimento.

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