José Pedro de Freitas era mineiro de Congonhas do Campo. Nascido em 1921, sua infância foi pobre, como muitos de sua época. Com muito esforço, só conseguiu estudar até o terceiro ano primário. Alguns amigos colocaram nele o apelido, pelo qual ficaria conhecido para sempre: Zé Arigó. A palavra tem vários significados, como caipira, roceiro, indivíduo rústico, matuto, simplório. Para José Pedro de Freitas, essa última lhe caia melhor. Era mesmo um sujeito simplório.
Por volta de 1950, Arigó começou a ter alguns distúrbios que o incomodavam enormemente, sentia fortíssimas dores de cabeça, sofria de insônia, tinha vidências e ouvia uma voz que o acompanhava onde quer que fosse. Durante três anos peregrinou pelos consultórios médicos à procura da cura, mas nenhum dos profissionais da medicina conseguiu diagnosticar o que ele tinha.
Certo dia, em desdobramento, viu uma entidade masculina vestida como um médico, que se fazia acompanhar por uma equipe de enfermeiros. A cena toda desenrolava-se em uma enorme sala de cirurgia. A entidade então apresentou-se, e Arigó percebeu que essa era a dona da voz que ele há tempos ouvia, e apesar de que a mesma falasse um idioma desconhecido, ele conseguia entender perfeitamente o que ela estava dizendo. Era o Dr. Adolfo Fritz, médico alemão desencarnado na Primeira Guerra Mundial, que não tivera condições de terminar sua tarefa na Terra.
O médico informou que havia escolhido Arigó para que esse continuasse o seu trabalho através da realização de cirurgias. Assombrado com o que estava vivenciando, Arigó acordou em pânico. A partir desse dia, conforme ele diria mais tarde, uma força estranha passou a utilizar-se de suas mãos rudes, no manejo de instrumentos inadequados em complicadas cirurgias no atendimento aos enfermos e aos aflitos que o procuravam.
As cirurgias realizadas por Arigó
A fama de Arigó alastrou-se rapidamente. Em 1958 curou um médico da Nasa, o Dr. Anorija Puharich, que sofria de um tumor no braço, usando apenas um canivete como instrumento cirúrgico. Perplexo com o que tinha visto, o médico americano disse que Arigó era a oitava maravilha do mundo.
O jornalista, pesquisador e escritor espírita Jorge Rizzini, autor de vários livros, esteve presente nessa cirurgia e filmou a mesma. Era impossível duvidar da veracidade do fato.
As operações eram feitas na cozinha, ou em um pequeno quarto dependendo do tipo de intervenção. O mais incrível reside no fato de que o médium curador mineiro se utilizava de bisturis, canivetes, espátulas e tesouras que eram trazidas em uma lata de goiabada. Jamais era feita qualquer assepsia, ou era dada anestesia, e mais ainda surpreendente: ninguém jamais sentia dor ou teve infecção após a cirurgia.
Uma de suas mais espetaculares cirurgias, e que teve uma enorme repercussão, foi quando atendeu e curou uma senhora idosa que sofria de um câncer devastador, tendo sido já desenganada pelos médicos. Operada com uma enorme faca pontiaguda, a paciente teve o tumor extirpado, e, para espanto dos presentes, saiu caminhando como se nada fosse. Não havia em seu corpo uma cicatriz sequer e nada indicava que um dia ela tivesse tido algum problema de saúde.
O secretário geral do Papa Pio XII foi uma das pessoas conhecidas também operadas e curadas por ele.
O ex-presidente Juscelino Kubistchek, amigo do médium mineiro, certa feita levou sua filha Márcia até Congonhas do Campo para que Arigó a operasse, uma vez que ela sofria de um problema na coluna que a estava impedindo de praticar o balé. A cirurgia foi um sucesso e Márcia triunfante voltou a fazer o que mais gostava.
Por vinte anos o médium operou em Congonhas do Campo, e jamais tirava a esperança daqueles que o procuravam, sempre confortava e pedia que continuassem a tomar o remédio e confiassem em Deus.
Desnecessário dizer que Arigó jamais cobrava por qualquer cirurgia. De formação católica, tornou-se espírita em função da sua própria vivência na mediunidade.
Prisão do médium
O desconhecimento da realidade das cirurgias espirituais e das realizações da mediunidade no campo do bem, levaram-no a ser injustamente acusado de exploração da mediunidade. Corria o ano de 1957, o próprio Dr. Fritz saiu em sua defesa, dizendo que “por quinze anos eu preparei este médium, e eu não o faria se não soubesse de sua honestidade”.
Apesar de jamais ter se indisposto com o clero e com os médicos, era muito difícil a atuação de Arigó em uma cidade de predominância católica. Acusado de curandeirismo pela Associação Médica de Minas Gerais, foi condenado a 15 meses de prisão. O presidente Juscelino testemunhava da seriedade do trabalho do médium, assim, ao saber da condenação, concedeu a ele um indulto.
Porém, os seus perseguidores não lhe deram trégua, e em 1964 é condenado novamente sob a mesma acusação da primeira vez. A pena imposta foi de um ano e meio de reclusão. Caravanas de todo o Brasil se dirigiram para a cidade de Conselheiro Lafaiete, onde cumpria a pena, a fim de apoiá-lo. Arigó recebeu visitas ilustres como Chico Xavier.
Tempo depois, ao ganhar liberdade provisória, foi recebido em Congonhas do Campo em verdadeira festa popular. Um justo reconhecimento para um homem cuja tarefa magnânima foi sempre a prática do bem ao semelhante.
Arigó deu então sequência ao seu trabalho, e passou a atender a todos que o procuram no Centro Espírita Jesus Nazareno, fundado por ele em 1959.
Seu desencarne
Certa feita, Arigó teve um estranho sonho no qual viu uma imensa cruz negra, e percebeu que o momento de sua passagem se aproximava. Dias depois, ao voltar de um sítio próximo a Congonhas do Campo, acometido por um mal súbito, perdeu o controle de seu carro que se chocou violentamente de frente com um veículo do antigo DNER – Departamento Nacional de Estradas de Rodagem.
Arigó não resistiu aos ferimentos e aos 51 anos de idade partiu para o plano espiritual em 11 de janeiro de 1971.
A ele referiu-se Herculano Pires em seu livro Arigó: Vida, Mediunidade e Martírio: “ao contrário do que pensam as pessoas, Arigó não é nenhum mestre em espiritismo, nem tão pouco um condutor de multidões, é apenas um médium”, e finaliza, “Arigó trouxe para a atual existência uma das mais árduas missões que uma criatura humana pode enfrentar na Terra: a de provar a natureza espiritual do homem”.
Por Gilson Pereira
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