sexta-feira, 12 de novembro de 2010

W. STAINTON MOSES

Não há escritor que tivesse deixado tão fortemente a sua marca sobre o lado religioso do Espiritismo quanto o Reverendo W. Stainton Moses.  Seus escritos confirmam o que já era aceito e definem muito do que era nebuloso.  Ele é geralmente considerado pelos Espíritas como o mais alto expoente de seus pontos de vista.  Entretanto, não o julgam o último e infalível; em comunicações póstumas, que têm forte indício de autenticidade, ele declarou que sua experiência se ampliara, modificando o seu ponto de vista sobre certos assuntos.  Isto é o inevitável resultado da nova vida para cada um de nós.  Esses pontos de vista religiosos serão abordados em capítulo à parte, que trata da religião dos Espíritas.
Além de ser um inspirado pregador religioso, Stainton Moses era um poderoso médium, de modo que foi um dos poucos homens que puderam seguir o preceito apostólico e o demonstrar por palavras e, também, pelo poder.  Neste ligeiro relato é o aspecto físico que deve ser destacado.
Stainton Moses nasceu em Lincolnshire, a 5 de novembro de 1839, e foi educado em Belford Grammar School e no Exeter College de Oxford.  Voltou-se para o ministério religioso e, depois de alguns anos de trabalho como cura na Ilha de Man e alhures, tornou-se professor na University College School.  É notável o fato que, durante o seu ano de viagem, tenha visitado o mosteiro do Monte Athos, e aí tenha passado seis meses – rara experiência para um protestante inglês.  Mais tarde teve a certeza de que isso fora o inicio de sua carreira psíquica.
Enquanto cura, teve oportunidade de mostrar a sua coragem e o senso de dever.  Uma grande epidemia de varíola espalhou-se na sua paróquia, que não dispunha de médico. Diz o seu biógrafo:
- “Dia e noite estava ele à cabeceira de doentes pobres; por vezes, depois de haver assistido a um moribundo, se via obrigado a unir as tarefas de sacerdote às de coveiro, e ele próprio transportar os cadáveres”.
Não é de admirar que ao se retirar tenha recebido uma grande manifestação de reconhecimento dos habitantes, que pode ser resumida nestas palavras:  “Quanto mais o conhecemos e quanto mais vimos o seu trabalho, tanto maior é a nossa saudade do senhor”.
Em 1872 é que sua atenção se voltou para o Espiritismo, por meio de sessões com Williams e Miss Lottie Fowler.  Muito antes havia ele verificado que possuía o dom da mediunidade de maneira invulgar.  Ao mesmo tempo se havia prontificado a fazer um estudo completo do assunto, pondo sua poderosa inteligência a esse serviço.  Seus escritos, com o pseudônimo de M.A Oxon, são clássicos no Espiritismo.  Incluem os “Ensinos Espiritualistas”, elevados aspectos do Espiritismo, e outros trabalhos.  Finalmente tornou-se redator de “Light” e durante muitos anos sustentou as suas altas tradições.  Sua mediunidade progrediu rapidamente até que abarcou quase todos os fenômenos físicos conhecidos.
Esses resultados não foram conseguidos antes que ele passasse por um período de preparação.  Diz ele:
- “Durante muito tempo falhou-me a prova desejada.  E, se tivesse feito como a maioria dos investigadores, teria desesperado e abandonado a investigação.  Meu estado mental era muito positivo e eu era obrigado a algum sofrimento pessoal antes de conseguir o que desejava.  Pouco a pouco, um pedacinho aqui, outro ali, veio a prova, quando minha mente se abriu para a receber.  Cerca de seis meses haviam sido aplicados em persistentes esforços para  que me fosse dada a prova da eterna existência de Espíritos humanos e de seu poder de comunicação.” 
Em presença de Stainton Moses erguiam-se no ar mesas pesadas, livros e cartas eram trazidos de uma sala para outra em plena luz.  Há testemunhos independentes dessas manifestações, por pessoas fidedignas.  Em seu livro “What am I?”, o finado Serjant Cox registra o seguinte incidente ocorrido com Stainton Moses:
- “Terça-feira, 2 de junho de 1873, um amigo pessoal, cavalheiro de alta posição social, formado em Oxford, veio à minha residência em Russel Square, vestir-se para um jantar a que tínhamos sido convidados.  Ele havia demonstrado antes notável força psíquica.  Como tínhamos meia hora de espera, fomos à sala de jantar.  Eram exatamente seis horas e, aliás, estava claro.  Eu abria cartas e ele lia The Times.  Minha mesa de jantar é de mogno, muito pesada e antiga, e tem um metro e oitenta por dois e setenta.  Está sobre um tapete turco, o que aumenta a dificuldade de a mover.  Uma tentativa mais tarde mostrou que os esforços combinados de dois homens fortes apenas a moviam uma polegada.  Estava sem toalha e a luz caía em cheio sobre ela.  Ninguém se achava na sala, exceto eu e meu amigo.  Subitamente, enquanto estávamos sentados, ocorreram batidas altas e freqüentes sobre a mesa.  Meu amigo estava sentado e segurava o jornal com ambas as mãos, tendo um braço apoiado na mesa e o outro no espaldar da cadeira; sentava-se de lado, de modo que as pernas e os pés não se achavam debaixo da mesa, mas de lado.  Então a mesa estremeceu como se estivesse com sezões; depois oscilou para um lado e para o outro tão violentamente, quase deslocando as pesadas colunas, em número de oito, que lhe serviam de pernas.  Em seguida, moveu-se para  frente cerca de três polegadas.  Olhei para baixo dela, para me assegurar de que não era tocada; mais ainda se moveu e continuaram as batidas no seu tampo.  Esse súbito acesso de tal força, àquela hora e naquele lugar, sem ninguém mais, alem de mim e de meu amigo, e sem qualquer idéia de a invocar, causou-nos a maior admiração.  Meu amigo disse que jamais lhe acontecera algo no gênero.  Então sugeri que talvez fosse uma rara oportunidade, com tamanha força em ação, para fazer uma tentativa de movimento sem contacto, quando a presença de apenas duas pessoas, a luz do dia, o lugar, o tamanho e o peso da mesa tornavam a experiência de suma importância. Em conseqüência ficamos de pé, ele de um lado da mesa,  e eu do outro.  Estávamos afastados dela cerca de sessenta centímetros e mantínhamos as mãos cerca de vinte centímetros acima dela.  Em um minuto ela se abalou violentamente; depois se moveu sobre o tapete a uma distância de uns dezoito centímetros.  Depois se levantou cerca de sete centímetros, do lado em que se achava o meu amigo; a seguir se ergueu igualmente do meu lado.  Finalmente, meu amigo baixou a mão até dez centímetros acima da ponta da mesa, e pediu que ela se erguesse e tocasse em sua mão.  Assim se fez.  E então, conforme o pedido, ela se ergueu até a minha mão, que, do outro lado se achava à mesma altura e da mesma maneira”. 
- Em Douglas, na Ilha de Man, num domingo de agosto de 1872, foi feita notável exibição de força de um Espírito.  Os fatos descritos por Stainton Moses são confirmados pelo Dr. Speer e sua senhora, em cuja residência ocorreram os fenômenos, que duraram desde o almoço até as dez da noite.  Batidas acompanhavam o médium para onde quer que ele fosse, até mesmo na igreja e o Dr. Speer e a senhora as ouviam quando sentados em seus lugares.  Ao regressar da igreja, Stainton Moses verificou em seu quarto que os objetos tinham sido tirados da penteadeira para a cama, onde tinham sido dispostos em forma de cruz.  Foi avisar o Dr. Speer, para que testemunhasse o que tinha acontecido e ao voltar ao quarto verificou que o seu cabeção, que tinha tirado poucos instantes antes, havia sido colocado, na sua ausência, em redor do topo da cruz.  Ele e o Dr.  Speer trancaram a porta do quarto e desceram para o lanche, mas durante a refeição batidas fortes se produziram e a pesada mesa de jantar foi movida três ou quatro vezes.  Num exame posterior no quarto acharam que dois outros objetos tirados das gavetas tinham sido adicionados à cruz.  O quarto foi trancado novamente e em três visitas subseqüentes novos objetos tinham ampliado a cruz.  Disseram-nos que, na primeira ocasião, em casa não estava ninguém que fosse capaz de fazer tais brincadeiras e que depois precauções adequadas haviam sido tomadas para evitar essas coisas.
Assim Mrs. Speer descreveu a série de acontecimentos:
- “Enquanto estávamos na igreja foram ouvidas pancadas por todos os membros do grupo, em diversas partes do banco onde estávamos sentados.  De volta Mr. S.Moses encontrou em sua cama três coisas tiradas de sua penteadeira e colocadas sobre a sua cama em forma de cruz.  Chamou o Dr. Speer ao seu quarto, para que visse o que havia acontecido em sua ausência.  O Dr. Speer ouviu batidas fortes no pé da cama.  Então trancou a porta, meteu a chave no bolso e deixou o quarto vazio por algum tempo.  Fomos jantar e, durante a refeição, a grande mesa de jantar, cheia de cristais, porcelanas, etc., moveu-se várias vezes, trepidou e deu batidas.  Parecia cheia de vida e movimento.  Batidas acompanharam o hino que nossa filhinha estava cantando, e batidas inteligentes acompanhavam a nossa conversa.  Várias visitas foram feitas ao quarto fechado e de cada vez verificávamos que algo tinha sido adicionado à cruz.  O Dr. Speer tomou a chave, abriu a porta e saiu por ultimo.  Finalmente tudo cessou.  A cruz foi colocada abaixo do centro da cama; todos os objetos de uso tinham sido tirados da valise do nosso amigo.  Cada vez que íamos ao quarto ouviam-se batidas.  Em nossa ultima visita foi lembrado deixar uma folha de papel e um lápis na cama e, quando voltamos novamente, encontramos as iniciais de três amigos de Mr. Moses, todos mortos, e desconhecidos de quem quer que fosse na casa, exceto ele próprio. A cruz era perfeitamente simétrica e tinha sido feita num quarto fechado, onde ninguém poderia ter entrado e era, realmente, uma notável manifestação da força do Espírito.” 
Um desenho mostrando os vários objetos de toucador e sua disposição é dado à página 72 do livro de Arthur Lillie “Modern Mystics and Modern Magic”.  Outros exemplos são citados no apêndice.
Em suas sessões com o Dr. Speer e senhora, muitas comunicações foram recebidas, dando provas de identidade de Espíritos, sob a forma de nomes, datas e lugares, desconhecidos dos presentes e verificados posteriormente.
Diz-se que um grupo de Espíritos estava ligado à sua mediunidade.  Por seu intermédio um corpo de doutrina foi comunicado por meio da escrita automática, começando a 30 de março de 1873 e continuando até o ano de 1830.  Uma seleção destes escritos constitui os “Ensinos Espiritistas”.  Na sua introdução, diz Stainton Moses:
“O tema central foi sempre de caráter puro e elevado, em grande parte de aplicação pessoal, visando minha própria direção e orientação.  Posso dizer que através de todas essas comunicações escritas, que vão, ininterruptamente, até 1880, não há leviandades, nem brincadeiras, não há vulgaridades nem incongruências, não há falsidades nem enganos, tanto quanto eu saiba ou tenha podido descobrir.  Nada incompatível com o objetivo visado, sempre e sempre repetido, de instrução, de esclarecimento e de orientação por Espíritos escolhidos para essa tarefa.  Julgados, como eu mesmo desejo ser julgado, eles foram o que desejavam ser.  Suas palavras eram de sinceridade e de objetivos sóbrios e sérios.”  
Um relato minucioso das pessoas que se comunicaram, muitas das quais tinham nomes importantes, se acha no livro de Mr. ª W. Trethewy “The Controls of Stainton Moses”. 
Stainton Moses contribuiu para a formação da “Society for Psychical Research”  em 1882, mas se demitiu em 1886, desgostoso com a maneira por que foi tratado o médium William Eglinton.  Foi o primeiro presidente da “London Spiritualist Alliance”,  formada em 1884, posição que ocupo até a morte.
Além das obras “Spirit Identity”, 1879; “Higer Aspects of Spiritualism”, 1880; “Psycography”, 1882; e “Spirit Teachings”, 1883, contribuiu freqüentemente para a imprensa espírita, bem como para o “Saturday Review”, para o “Punch” e vários outros jornais de valor. 
Um magistral resumo de sua mediunidade foi escrito por Mr. F.W.H. Myers, e publicado pela “Society for Psychical Research”.  Na noticia de sua morte, disse Mr. Myers:  “Eu, pessoalmente, considero a sua vida como uma das mais notáveis de nossa geração, e de poucos homens ouvi, em primeira mão, fatos mais notáveis do que os que dele ouvi”.

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