O trem partiria dentro de alguns
minutos. Deixaria aquele lugar sórdido, levando os judeus jovens
e sadios para a liberdade. A notícia era a de preservação dos
mais fortes, e nele portanto, não havia lugar para velhos. Não
sobrava espaço, sequer, para fechar as portas, pois o trem estava
abarrotado.
Um ancião polonês, de cabelos alvos,
que observava atento a agitação do momento, segurou com as mãos
encarquilhadas o paletó do jovem que estava por partir, e
suplicou-lhe com veemência, que desse a sua, pela vida dele.
Estava velho e doente e desejava rever
os familiares que deixara em seu País de origem. Seria sua última
chance, argumentou.
O velho apelou para o coração do
jovem que lhe permitisse embarcar no seu lugar, em nome do Cristo.
O rapaz não era cristão, e pouco
ouvira falar do Homem de Nazaré. Apenas uma frase atribuída a
Ele se lhe assomou à mente: “aquele que quiser ganhar a vida,
perdê-la-á, e aquele que a perder por amor de mim, ganhá-la-á”
(Mt. 16:25). Olhou longamente para aquele homem desesperado e,
embora a promessa de liberdade próxima o tentasse, resolveu
descer e ceder seu lugar a ele.
O trem partiu e o jovem, ainda meio
confuso, pôde contemplar pela janela, o aceno de agradecimento
daquele a quem salvara a vida com a sua própria, pensava.
Deteve-se ali por alguns instantes,
como adorno vivo de uma paisagem de horror e desolação,
observando o trem que se afastava lentamente.
Após alguns dias chegou a notícia do
engodo. O trem que partira em direção à liberdade, aportara no
campo de concentração de Auchwitz, na Áustria, e todos os
passageiros pereceram sob os chuveiros de gás letal.
Os meses rolaram e levaram com eles o
horror da guerra. O jovem sobreviveu para escrever sua história e
conhecer melhor Aquele Homem que um dia dissera que aquele que
quisesse ganhar a vida perdê-la-ía, e aquele que a perdesse por
amor a Ele, ganhá-la-ía.
Nós, cristãos, que ainda caminhamos
pelas estradas do hemisfério físico, saberemos precisar quando
sairá o próximo trem?
Será que nosso nome não consta da
lista de passageiros com destino ao hemisfério espiritual?
Preocupados em ganhar a vida, em
amontoar recursos materiais, esquecemos de cultivar a vida do espírito,
a vida verdadeira e imperecível que nos aguarda no além túmulo.Temos
empregado grande parte da vida, perdendo-a nos gozos efêmeros e
ilusórios, e não temos tido tempo para dedicá-la, ainda que por
alguns instantes, em benefício dos necessitados de toda ordem.
Os dias passam, os anos se somam e
pouco, ou quase nada, temos buscado aprender sobre o futuro
espiritual que nos aguarda.
Agindo assim, dizemo-nos imortais, mas
não vivemos como tal, uma vez que só nos ocupamos com as coisas
da matéria, como se daqui jamais fossemos partir.
***
Você sabia que muitas pessoas entram
na vida espiritual como suicidas?
Pelas Leis divinas, não são tidos como suicidas somente os que põem fim à vida num ato de desespero ou insanidade, mas também os que acabam com ela aos poucos, através dos excessos de toda ordem.
Pelas Leis divinas, não são tidos como suicidas somente os que põem fim à vida num ato de desespero ou insanidade, mas também os que acabam com ela aos poucos, através dos excessos de toda ordem.
Assim, os fumantes inveterados, os alcoólatras,
os gulosos, os sexólatras, os adeptos da violência, entre
outros, são suicidas, por queimarem a existência física por
mero egoísmo ou desconsideração pela própria vida.
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