sexta-feira, 11 de maio de 2012

Retrato de Mãe


"- Não ouvistes falar em Judas, o traidor? Sou eu que aniquilei a vida do Senhor!..."


















Depois de muito tempo, 
sobre os quadros sombrios do calvário. 
Judas, cego no além, errava solitário... 
Era triste a paisagem, o céu era nevoento... 

Cansado de remorso e sofrimento, 
Sentara-se a chorar... 
Nisso, nobre mulher de planos superiores, 
Nimbada de celestes esplendores, 
Que ele não conseguia divisar, 
Chega e afaga a cabeça do infeliz. 
Em seguida, num tom de carinho profundo, 
Quase que em oração ela diz: 
- Meu filho, porque choras?


Acaso não sabeis? – replica o interpelado, 
Claramente agressivo. 
Sou um morto e estou vivo. 
Matei-me e novamente estou de pé, 
Sem consolo, sem lar, sem amor e sem fé... 
Não ouvistes falar em Judas, o traidor? 
Sou eu que aniquilei a vida do Senhor... 
A princípio, julguei poder fazê-lo rei, 
Mas apenas lhe impus, sacrifício, martírio, sangue e cruz. 
E em flagelo e aflição 
Eis que a minha vida agora se reduz... 
Afastai-vos de mim, 
Deixai-me padecer neste inferno sem fim... 
Nada me pergunteis, retirai-vos senhora, 
Nada sabeis da mágoa que me agita... 
O assunto que lastimo é unicamente meu...


No entanto a dama calma respondeu: 
- Meu filho, sei que choras, sei que lutas, 
Sei a dor que causa o remorso que escutas... 
Venho apenas falar-te 
Que Deus é sempre amor em toda parte... 
E acrescentou serena: 
- A bondade de Deus jamais condena: 
Venho por mãe a ti, buscando um filho amado. 
Sofre com paciência a dor e a prova. 
Terás em breve, uma existência nova... 
Não te sintas sozinho ou desprezado!


Judas interrompeu-a e bradou, rude e pasmo: 
- Mãe? Não venhais aqui com mentira e sarcasmo. 
Depois de me enforcar num galho de figueira, 
Para acordar na dor, 
Sem mais poder fugir à vida verdadeira. 
Fui procurar consolo e força de viver. 
Ao pé da pobre mãe que forjara o ser !.. 
Ela me viu chorando e escutou meus lamentos. 
Mas teve medo dos meus sofrimentos. 
Expulsou-me a esconjuros, 
Chamou-me monstro, por sinal 
Disse que eu era 
Unicamente o espírito do mal,
Intimidou-me a terrível retrocesso, 
Mandando que apressasse o meu regresso
Para a zona infernal de onde eu vinha... 
Ah ! Detesto lembrar a horrível mãe que eu tinha... 
Não me faleis de mães, não me faleis de amor, 
Sou apenas um monstro sofredor... 

Inda assim – disse a dama docemente: 
- Por mais recuses, não me altero, 
Amo-te filho meu, amo-te e quero 
Ver-te de novo a vida 
Maravilhosamente revestida 
De paz e luz, de fé e elevação... 
Virás comigo à terra, 
Perderás pouco a pouco, o ânimo violento, 
Terás o coração 
Nas águas de bendito esquecimento. 
Numa existência de esperança, 
Levar-te-ei comigo 
A remansoso abrigo. 
Dar-te-ei outra mãe ! Pensa e descansa !...


E Judas neste instante. 
Como quem olvidasse a própria dor gigante, 
Ou como quem se desgarra 
De pesadelo atroz, 
Perguntou: - quem sois vós? 
Que me falais assim, sabendo-me traidor? 
Sois divina mulher, irradiando amor, 
Ou anjo celestial de quem pressinto a luz?


No entanto ela a fitá-lo frente a frente, 
Respondeu simplesmente: 
- Meu filho, eu sou a mãe de Jesus!!!

Do livro "Momentos de Ouro", Maria Dolores (Espírito), Francisco C. Xavier (psicografia)
Inst.André Luiz/

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