terça-feira, 7 de agosto de 2012

DIÁLOGO E ESTUDO

Teodomiro Ferreira e Cássio Teles saíam do templo espírita de que se haviam feito
assíduos freqüentadores e o diálogo entre ambos rolava, curioso. Teles, agarrado aos
conceitos de ciência pura; Ferreira, atento aos ideais religiosos.
- Então, meu velho – considerava o primeiro -, não será tempo de largar os chavões da
fé? Não entendo a atitude dos Espíritos amigos, repetindo exortações de ordem moral!...
- Falam de Moisés, comentam Isaías, lembram Amós, entram pelo Novo Testamento e a
história não acaba mais...
Ferreira lembrava, conciliador:
- É forçoso, porém, que você pondere quanto às exigências da alma. Que será da Terra
se o coração não se elevar ao nível do cérebro?

- Não penso assim. Creio que a ciência, só por ai, clareará os caminhos da Humanidade.
- Sim, respeitemos a ciência. Desconsiderá-la seria loucura, mas é justo convir que não
se lhe pode pedir intervenções no sentimento...
- Velharias!... Definam-se as coisas e o sentimento será corrigido. E, já que você encontra
no sentimento a fonte de tudo...
- Cogitar de definições claras na vida é nosso dever; entretanto, a ciência na Terra explica
os fenômenos, sem abordar as origens...
- Não concordo. Devemos à ciência tudo de grandioso e de exato que o mundo nos
oferece.
- Até certo ponto, estou de acordo, mas os domínios científicos possuem os limites que
lhe são próprios. Impossível desacatar a importância dos ensinamentos religiosos na
sustentação da paz de espírito.
- Quem nos deu o automóvel e o avião?
- Claro que foi a ciência, mas isso não impede que o motor seja empregado para a
condução de tanques e bombardeiros utilizados para destruir...
- A física nuclear? quem nos propiciou essa maravilha, destinada a patrocinar os mais
altos benefícios para as civilizações do futuro?
- Sei que isso é prodígio da inteligência; contudo., não nos será lícito esquecer as vítimas
das cidades que passaram pelo suplício da bomba atômica...
- Bem, você pensa assim, de outro modo penso eu... Não aprovo a pregação incessante
que anda por aí...
A palavra seguia nesse tom, quando os dois se aboletaram, como de costume, num bar
amigo para o cafezinho habitual.
O garção ia e vinha, quando, à frente deles, o televisor exibiu a figura de conhecido
repórter, que passou ao seguinte noticiário, lendo expressiva nota da imprensa:
“O mundo atual sofre o risco de ser destruído pela sua própria
grandeza no campo da inteligência. O perigo mais insidioso, talvez, é que
numerosas conquistas científicas, realizadas com intentos de paz, possam
ser empregadas, de um instante para outro, nos objetivos de guerra. As
descobertas na biologia molecular são utilizáveis no desenvolvimento de
agentes letais e aquelas que se relacionam com as drogas abrem horizontes
à ofensiva psicoquímica. Sabe-se que as armas biológicas, em forma de
“spray”, são de fácil confecção, com possibilidades de espalhar a peste
sobre homens e animais. A chamada “febre de coelhos”, conduzida por uma
tonelada de “spray”, através de nuvens, dirigidas pelo vento, pode anular a
resistência de milhões de pessoas. Um homem só, carregando pequena
maleta de “vírus”, é capaz de contaminar as reservas de água endereçada à
manutenção de grande cidade, conturbando-lhe a vida. Está demonstrando
ainda que, com recursos microbianos, é possível, em pouco tempo,
enlouquecer populações maciças. Uma tonelada de ácido lisérgico
distribuída entre os habitantes de qualquer grande metrópole, através de
canais alimentares, poderá torná-los esquizofrênicos, durante o tempo que
isso venha a interessar ao inimigo. Químicos ilustres já asseveram que o
mundo de hoje dispõe de venenos tão poderosos que bastarão alguns quilos
deles para estabelecer a perturbação mental de nações inteiras. Fala-se
agora que não é impossível operar ruturas na camada de ozônio que
circunda a Terra, de modo a queimar lentamente as criaturas domiciliadas
nas regiões que ficaram desprotegidas contra os raios solares
infravermelhos. Além de tudo, comenta-se a possibilidade da criação de
bombas nucleares semoventes, aptas a caminharem com os implementos
próprios e que serão detidas tão-só pela explosão de um artefato atômico.
Esses engenhos sinistros transportariam a sua própria carga e, se colocadas
no rumo de determinadas zonas inimigas, reclamariam a utilização de um
foguete interceptador significando autodestruição para qualquer grupo
alinhado em defensiva...”
O comentário deu lugar a programa diferente e Ferreira falou para o companheiro
impressionado:
- Viu e ouviu com exatidão? A ciência é luz no cérebro, mas, só por si, não resolve os
problemas da Humanidade. Que diz você de tão inquietantes perspectivas?
- É... é... – gaguejou Teles, evidentemente desapontado.
Toda a resposta dele, porém, não passou disso.

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