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terça-feira, 12 de novembro de 2024

Islã

 

Ernesto Arosio e Patrizia Bergamaschi

Segundo a tradição muçulmana, Maomé (570-632) teria recebido uma revelação do arcanjo Gabriel, exortando-o a pregar em nome de Alá. Após algumas hesitações, o profeta decidiu pregar o conteúdo dessa revelação, registrada no Alcorão, o livro sagrado do islamismo, conseguindo muitos adeptos que o seguiram, impressionados com sua piedade. Aliás, a palavra islã significa "submissão a Deus".
A cidade santa dos muçulmanos é Meca, localizada nas planícies de Mina, na Arábia Saudita. Foi de lá que Maomé fugiu, para escapar da incompreensão da aristocracia que não via com bons olhos a adesão de tantos pobres. Esta fuga, conhecida como Hégira, ocorreu no 622 da era cristã e deu início ao calendário muçulmano. É um dos deveres mais sagrados do islamismo ir à cidade santa, ao menos uma vez na vida, e dar sete voltas ao redor da Caaba, uma espécie de sala, coberta por um grande pano de seda preta onde estaria contida uma pedra que dizem ser o sinal do centro da terra. Os muçulmanos, em qualquer parte do mundo, rezam voltados para Meca, em sinal de unidade.

Doutrina

Os muçulmanos acreditam num Deus único - Alá - que criou o universo por sua bondade, enviou profetas como Abraão, Moisés, Cristo, mas o último profeta, o verdadeiro, o iluminado, é Maomé. Jesus Cristo não é aceito como Deus.

Fundamentos e prática da religião

O islã tem cinco fundamentos, chamados também de pilares da fé:

1) Acreditar e testemunhar que Alá é o único Deus e Maomé seu profeta.
2) Rezar cinco vezes ao dia, voltado para a Meca, berço do islamismo.
3) Jejuar durante o mês de Ramadã, do nascer ao pôr-do-sol.
4) Fazer uma peregrinação a Meca, pelo menos uma vez na vida.
5) Pagar uma espécie de dízimo sobre a renda anual para as obras de caridade.

Os fiéis

Nos últimos anos, o islã tem sido a religião que mais cresce no mundo, com cerca de 1,3 bilhão de pessoas, concentradas principalmente na Ásia e na África. Por causa das migrações, está se espalhando também em outros continentes, sobretudo na Europa: na França, há cinco milhões de muçulmanos e na Itália, um milhão. A maior mesquita fora dos países árabes foi construída em Roma, na década de 90, financiada pelos petrodólares. No Brasil, estima-se que haja um milhão de adeptos do islã e mais de cem mesquitas.

Sharia

Trata-se de uma lei paralela, mas fundamentada no Alcorão e codificada no século IX. Por essa lei, ficou proibido o consumo de bebidas alcoólicas e de carne suína, foi imposto às mulheres o costume de cobrir o rosto com o chador ou de usar um lenço na cabeça - ijhab- ou ainda, conforme as interpretações mais rígidas dos ulemas ou clérigos muçulmanos, de adotar o carsaf, um longo vestido, geralmente de cor escura, que cobre o corpo da cabeça aos pés, deixando apenas buracos para os olhos.
Sempre segundo essa lei, pode ser punido, com a pena de morte, um muçulmano que renegue sua fé ou blasfeme contra Alá ou Maomé. A lei, porém, está sendo aplicada em maneira diferente, conforme os preceitos dos próprios clérigos e é mais ou menos rígida, dependendo da cultura de cada país.

Fundamentalistas e moderados

Os fundamentalistas são os que seguem a interpretação rígida da Sharia, levada ao extremo pelos clérigos muçulmanos. O último exemplo desse fanatismo extremista vem dos talebans, estudantes de teologia, que, após conquistarem o Afeganistão, tentam implantar um estado teocêntrico fundamentado na prática ultraconservadora dos costumes e da Sharia. O fanatismo desses estudantes invadiu o país e eles se sentem autorizados a proibir que se ouçam rádio e televisão, definindo-os como diabólicos instrumentos ocidentais para desestabilizar o islamismo; impuseram a mais severa divisão entre os sexos em toda vida pública: os ônibus destinados às mulheres, por exemplo, devem ter vidros foscos ou pintados. Do mesmo modo, elas estão proibidas de freqüentar escolas, hospitais e de exercer alguma profissão fora de casa, obrigadas a usar uma roupa escura ou preta que esconde totalmente o corpo, com um gradeado na frente da rosto. Os talebans executam ou promovem o apedrejamento público dos traidores da religião e da sociedade e cortam as mãos em caso de delitos menores.
Em outros países também houve explosões de extremismo fratricida e xenófobo: na Argélia, houve mais de 100 mil assassinatos, em dez anos de guerrilha civil; no Egito, a fraternidade islâmica foi a responsável por assassinato de turistas e do presidente Anuar Sadat. Na Síria, no Líbano e outros países de Oriente Médio onde se prega e se pratica a guerra santa, a Jihad, contra o sionismo e tudo o que era ou é ocidental, têm surgido ondas de extremismo, da mesma forma que na Índia, na Indonésia e nas Filipinas e outros. Nesses países os atentados são, geralmente contra os cristãos.
De outro lado, temos uma grande maioria de muçulmanos moderados que praticam o islamismo de uma maneira que poderíamos definir mais laical (o que não significa ser menos piedoso), abertos às influências do mundo ocidental, que procuram participar e usufruir dos avanços tecnológicos modernos. Entre eles, há também variedades de interpretações da lei islâmica que vão desde a proibição da poligamia à permissão de ingerir bebidas alcoólicas e usar roupas mais modernas, extensiva, em particular, aos jovens e às mulheres.

Islã e globalização

Recentemente, durante a realiza-ção do Sínodo da Igreja euro- péia, ficou evidente a discordância entre os pareceres dos bispos católicos em relação ao islamismo, suscitando discussões e polêmicas que ultrapassam a análise teórica. A presença muçulmana no Ocidente é um fato confirmado por números bem expressivos: mais de dez milhões nos países europeus e seis milhões nos Estados Unidos. Com seus costumes e práticas, às vezes bem diferentes e em oposição às normas e leis dos países que os acolhem, os muçulmanos colocam um questionamento que nos dá oportunidade de rever um pouco esta religião que se tornou a primeira no mundo, superando o catolicismo; ficaria em segundo lugar, se somássemos todas as denominações cristãs.
Diante do rápido avanço do islã, nos últimos anos, há quem levante perguntas com sérias implicações: será que existe uma estratégia, planejada e financiada pelos petrodólares para ocupar a Europa ou para adquirir nela espaços importantes, em vista de uma islamização do continente? Como se comportar diante desse fenômeno e das manifestações fundamentalistas que têm assustado o mundo por sua violência e espírito reacionário? Deve-se renunciar ao diálogo com essa religião que, no pensamento de muitos, está assumindo o papel que, até poucos anos atrás, era do comunismo russo, isto é, do inimigo comum do Ocidente?
Se de um lado há desconfiança, de outro, pergunta-se se não se trata apenas de imigrantes em busca de uma vida melhor nos países ricos do Ocidente e que se fecham em suas comunidades, defendendo sua cultura, a fim de não perder sua identidade muçulmana? Há quem sustente ainda que é compreensível o choque cultural entre dois mundos opostos: um, o ocidental que instaurou a secularização e que pretende libertar-se totalmente de qualquer vínculo religioso, e outro, o islâmico, que, inspirado numa teocracia onde Deus é tudo na vida pública e privada, busca preservar valores de identificação étnica e cultural.


Religião e globalização

Analisar as últimas décadas deste século significa falar em crises de todas as espécies: políticas, econômicas, religiosas, de valores. Passamos por momentos de uma transição incomparável que tem destruído conceitos, tradições, regimes e filosofias.
Em 1982, um livro ficou famoso: "O Ponto de Mutação" de F. Capra (publicado no Brasil, pela editora Cultrix). Nesse verdadeiro tratado de análise sobre a sociedade que deveria enfrentar os novos tempos, o autor dizia que: "A transformação que estamos vivendo agora poderá muito bem ser mais dramática do que qualquer das precedentes, porque o ritmo de mudança em nosso tempo é mais célere do que no passado, porque as mudanças são mais amplas, envolvendo o globo inteiro, e porque as várias transições importantes estão coincidindo. As recorrências rítmicas e os padrões de ascensão e declínio que parecem dominar a evolução cultural humana conspiraram, de algum modo, para atingir ao mesmo tempo seus respectivos pontos de inversão. (...) A crise atual, portanto, não é apenas uma crise de indivíduos, governos ou instituições sociais; é uma transição de dimensões planetárias" (p.30).
Isso foi há 18 anos, quando nem se falava de globalização...
Em duas décadas, o mundo transformou-se e, nos últimos tempos, vivemos ao redor da palavra globalização, vista, inicialmente, sob aspectos positivos para toda a economia e crescimento mundiais, mas também como a responsável pelo empobrecimento ainda maior dos países de Terceiro Mundo.
Todavia, a globalização vai muito além do sistema econômico e monetário, porque comporta uma mudança de atitudes e de mentalidades, também movida por interesses consumistas e principalmente, por um modo imediatista de pensar a vida, sem ética e sem valores profundos. Há uma subversão de valores que prega o lucro acima de tudo. Antropologicamente, o ser humano contemporâneo está sendo definido como homem mercantil.
Embora já tendo se transformado num processo mundial, a globalização nasceu e se desenvolveu mais no Ocidente, devido, em parte ao domínio tecnológico mais avançado e à concentração de riquezas. O fato é que a globalização ocidental tem criado e cria situações cruciais, quando entra em contato com as outras culturas menos tecnológicas, provocando crises que se refletem em diversos âmbitos da vida desses povos.
A modernização ocidental impõe-se a outras culturas com velocidade assustadora: a televisão, a mídia em geral e a Internet seduzem, apresentando novos "valores" que implicam, quase sempre, no abandono de sua própria cultura, quando não em sua descaracterização étnica. A cultura tradicional não tem como controlar essa invasão, visto que os interesses econômicos, internos e externos, pressionam de todos os lados. É ainda F. Capra que afirma, no livro já citado: "Transformações culturais dessa magnitude e profundidade não podem ser evitadas. Não devem ser detidas mas, pelo contrário, bem recebidas, pois são a única saída para que se evitem a angústia, o colapso e a mumificação" (p.31). Entretanto, os avanços técnicos e de comunicação, que poderiam ser altamente favoráveis ao desenvolvimento de tantos países, não vieram desacompanhados mas trouxeram mais corrupção, violência e outros problemas que, em culturas com padrões morais tradicionais, indiscutíveis e geralmente rígidos, podem provocar estragos consideráveis.
Diante desses fenômenos, surgem duas respostas básicas possíveis: a aceitação do novo modelo de vida e suas conseqüências, que comporta uma possível descaracterizarão das próprias raízes culturais e religiosas, ou a radical rejeição contrária a toda modernidade como forma de salvaguardar a própria etnia, mas geradora de perigosos fanatismos e as mulheres, as categorias mais reprimidas pelas tradições ancestrais.
Daí entendem-se as razões das guerras, às vezes chamadas de religiosas, que acontecerá, em particular, nestes últimos anos. Na realidade, trata-se mais de uma defesa da etnia - como Kosovo na Iugoslávia - porque os fundamentalistas de várias religiões estão com medo de mudanças profundas e radicais que poderiam ameaçar a sua existência como grupo.
O mundo, de forma global, só pode chegar a um equilíbrio se saberá unir tradição e modernidade, a sabedoria oriental e a ocidental, a matéria e o es-pírito, num complexo harmonioso, verdadeiramente a favor dos homens e das mulheres de nossos dias imprevisíveis.

Islã e o mundo moderno

O islã, apesar de sua aparência monolítica, tem em si, numerosas diferenças culturais. Enquanto há países que impõem uma lei rígida, sustentando que não existe separação entre religião e política, há outros que já abriram ou se abrem à modernidade. Por isso, essas atitudes totalmente diferentes não permitem generalizar uma única postura crítica sobre o islamismo.
A Arábia Saudita, que abriga a mais importante meta de peregrinação do mundo muçulmano, a Meca, procura bloquear os programas televisivos e de internet ofensivos à religião e aos costumes, mas já permite o uso desses meios. Outros países, como a Jordânia, a Palestina e a Turquia, permitem cinemas, contato com ocidentais e a entrada de turistas para a captação de dólares, e conseqüente troca de idéias.
No Marrocos, a subida ao trono de Mohamed VI, filho do rei Hassan II, soberano absoluto, está desmantelando todo o aparato repressivo, libertando presos políticos, permitindo a volta da família do maior dissidente, Mehdi Bem Barca, assassinado em 1965. Na Jordânia, o filho do rei Hussein, Abdullah IV, vem continuando as reformas iniciadas pelo pai. No Irã, após o voto massivo dos jovens e das mulheres, haverá mudanças profundas que poderão ser exemplo para os moderados de outros países.
Em Israel, um país onde convivem várias religiões, não se distingue mais o descanso dominical dos católicos do sábado dos judeus e da sexta-feira dos muçulmanos, e o povo convive com isso, obriga o governo a ser flexível em muitos pontos da vida social, como horário de escolas, de trabalho e funcionamento das lojas.
Na Turquia, não só cada qual está livre de usar a roupa de que mais gosta, mas já se admitem praias de nudismo, discotecas e tudo o que existe num país ocidental, ainda que a cultura dominante seja a islâmica. Aliás nesse país que se declarou leigo com a ditadura de Mustafá Ataturk em 1925 rechaçou em maio de 1966, uma tentativa do partido religioso de voltar ao estado confessional. A Corte Constitucional Turca ordenou a dissolução do partido religioso por "atentado à laicidade do Estado".
Já em vários países ocidentais, embora aconteçam choques culturais entre as culturas cristã e islâmica, há concessões, como dispensa das fábricas nas sextas-feiras, permissão para o uso do véu, açougues próprios para muçulmanos e é comum ver muçulmanos prostrados nas ruas, fazendo suas orações.
Em vista das possibilidades de diálogo e de convivência e da impossibilidade de impedir o curso da história, do desenvolvimento e progresso, todas as culturas deverão se encontrar num futuro próximo, sem que isso signifique negar sua identidade ou ter que se impor, pela força, como única forma de manterem-se vivas.

O nome de Alá

Toda oração e ação que um bom muçulmano faz, principia com a frase:
"Em nome de Deus misericordioso...".

Este é o principal fundamento da fé islâmica que se complementa com as seguintes palavras:
"Creio que não há outro Deus além de Alá e que Maomé é seu profeta".

Na palavra "misericordioso", está o sentido pleno da palavra "misericórdia": o que é misericordioso e o que faz a misericórdia. Para os muçulmanos, a fé na unicidade de Deus é absoluta e dessa fé procede toda a teologia do islã. E todos os nomes que descrevem ou encerram a essência e os atributos de Deus tornam-se o seu nome. Assim, Deus é chamado de: Mistério Sublime, Inconhecível, Eternidade, Unicidade, Infinito, Absoluto, Indivisível, Essência Divina, Clemência, Misericórdia, Beleza, entre muitos outros atributos. Cada nome, portanto, simboliza e revela uma realidade de Alá.
Conforme a teologia muçulmana, os nomes de Deus e a representação dos seus atributos são 4 mil. Desses, mil são conhecido somente por Deus; outros mil, por Deus e seus anjos; mais mil, por Deus, seus anjos e profetas, e os últimos mil são conhecidos por Deus, seus anjos, profetas e os homens. Desse últimos mil, trezentos são mencionados na Torá dos judeus, trezentos nos salmos da Bíblia, trezentos nos Evangelhos e cem no Alcorão.
Desse últimos cem, noventa e nove são conhecidos pelos simples fiéis, mas o centésimo está escondido, secreto e acessível somente aos místicos mais iluminados. E o Alcorão, em várias suras (versículos), afirma que os nomes de Deus são sempre os mais belos: "A Deus pertencem os nomes mais lindos. Invocai-o com estes nomes e afastai-vos dos que blasfemam os seus Nomes" (17, 110). Os sufis, místicos do islã, afirmam que esses nomes são infinitos porque são espelhos em que se reflete a infinita essência de Deus que, por sua natureza, está além de qualquer tentativa de definir sua essência. Aliás, os sufis interpretam os nomes de Deus simbolicamente, enquanto os ulemas - teólogos islâmicos- ficam mais com a interpretação literal dos nomes.
A importância dos nomes de Deus é enorme, porque o islã não permite qualquer representação iconográfica de Deus, nos lugares de oração, nem de Maomé, profetas e animais, para evitar que o culto ao Deus verdadeiro, único e absoluto, fosse substituído pela idolatria a essas imagens. Por isso, o nome de Alá é escrito de muitas maneiras e constitui o único elemento de decoração permitido nas mesquitas e lugares de culto. Os artistas muçulmanos costumam desenhar os nomes de Alá, nas paredes e nas abóbadas das mesquitas e lugares de culto, com letras de ouro, criando assim uma atmosfera de beleza misteriosa e inefável. O esforço se justifica porque Alá é belo e ama a beleza.

Ser mulher nos países árabes

Já vimos fotos de mulheres vestidas de preto da cabeça aos pés e outras apenas com um lenço. Mas também vemos fotos de mulheres muçulmanas que andam na última moda, com saia curta ou jeans e camiseta decotada, gozando de uma liberdade de comportamento que nada deve aos padrões ocidentais.
No islã, a situação das mulheres não é sempre a mesma, dependendo do país em que vive, ainda que ela tenha sido - quando ainda não é - a principal vítima da rigidez dos costumes religiosos.
Se, no Irã, a derrota dos aiatolás deveu-se, em boa parte, ao voto das mulheres, na Arábia Saudita e alguns emirados árabes, além da total exclusão feminina da vida pública e política do país, existem ainda gineceus e concubinas, venda de meninas e pena de morte para as mulheres que traírem o marido.
No Egito, foi aprovada uma lei que permite à mulher pedir o divórcio, embora ainda exista a lei que proíbe as mulheres casadas de viajar sem os maridos. Houve, porém, uma espécie de retrocesso, quando uma autoridade religiosa declarou-se contrária a confiar a mulheres altos cargos no governo. As mulheres egípcias lutam, em particular, para eliminar um artigo da constituição que prevê pena menor para os homens, em caso de adultério.
No Marrocos, as mulheres desde 1957, questionam por que o seu testemunho vale somente a metade do homem, por que não podem ocupar cargos de governo e por que os pais ou tutores podem dá-las em casamento a quem quiserem, sem consultar a interessada. Existe um plano do governo, que gera discussão entre os religiosos, para abolir a poligamia, o repúdio da esposa por parte do homem e o aumento da idade mínima para o casamento da mulher, que hoje é de 9 anos.
Na Tunísia, as mulheres obtiveram outras conquistas e já estão trabalhando pela defesa dos direitos das mulheres na Argélia, no Afeganistão e em outros os países árabes mais conservadores.
Na Jordânia, as mulheres conquistaram, praticamente, todos os direitos e, no Kuwait, já ocupam cargos de reitor de faculdade e lutam para que, até 2003 seja concedido a todas o direito de voto; já se fala da possibilidade de integrarem as forças armadas.
O país mais liberado porém é a Turquia: após a reforma leiga de Mustafá Ataturk, iniciada em 1925, são permitidas todas as manifestações da vida islâmica, das mais moderadas às mais rígidas, e é normal ver mães usando o tradicional carsaf, em companhia das filhas adolescentes vestindo jeans e camisetas com os retratos dos astros do rock, gênero musical considerado como diabólico pelos clérigos muçulmanos.
Não se pode, portanto, acusar o Alcorão de ser contra as mulheres: as discriminações dependem das interpretações dos religiosos de cada país e de cada cultura.

"No Alcorão, não existe o ódio que eles querem encontrar"


Irmã Emanuela

Quem se pronuncia nessa maneira é irmã Emanuela, uma religiosa que passou mais de 30 anos entre os pobres, na periferia do Cairo. Naturalmente, com uma experiência ímpar, ela não nega que existam dificuldades de relacionamento, mas logo acrescenta "que os muçulmanos fanáticos são uma mínima minoria e com eles não existe nenhuma possibilidade de diálogo. Mas, no Alcorão, não existe o ódio que eles querem encontrar, aliás, existem palavras bonitas e de paz. A imprensa conta os horrores cometidos por uma pequena minoria de fanáticos - insiste irmã Emanuela - mas essa mesma imprensa não fala do muçulmano comum que é uma pessoa honesta e corajosa. Penso nos egípcios que eu amo: pessoas abertas que acolhem com simpatia os estrangeiros, sem discriminação de religião. Tenho muitos amigos muçulmanos e admiro bastante seu ideal de unidade e transcendência de Deus e gosto de vê-los rezar com convicção. Existem até casos de conversão ao cristianismo, mas o convertido encontra reais dificuldades porque a religião muçulmana regula todos os momentos da vida, o que o torna excluído da vida familiar, da comunidade, sem poder se casar nem encontrar trabalho. É como uma árvore privada de suas raízes e abandonada à margem da estrada". Avvenire

O Islã no mundo

O islamismo é a fé predominante em 50 países com índices de alta natalidade na África e na Ásia. As porcentagens abaixo indicam os números em relação à população total do continente.

  • Ásia: 69,5%
  • África: 27%
  • Europa: 3%
  • Américas e Oceania: 0,5%

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